RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – Os grupos políticos liderados pela governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), e pelo prefeito do Recife, João Campos (PSB), travam disputas nas eleições municipais com embates nas principais cidades do estado como uma espécie de prévia para 2026.
Nos bastidores, integrantes dos dois grupos reconhecem que a conquista de espaços de poder nas prefeituras é importante para os palanques da próxima eleição.
Raquel Lyra deverá disputar a reeleição, enquanto João Campos é cotado como possível candidato a governador, caso seja reeleito neste ano na capital pernambucana. Pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (19) mostra que o candidato à reeleição pelo PSB tem 76% das intenções de voto e poderia vencer no primeiro turno, com ampla margem sobre os opositores.
A ampla margem de João Campos nas pesquisas tem levado o entorno da governadora a fazer reflexões. Aliados avaliam que Raquel não tem como se contrapor ao prefeito, mas admitem que houve falta de coordenação junto a vereadores e deputados estaduais que pudessem apontar falhas na gestão dele.
O grupo político da governadora tem focado em disputas em cidades de médio e pequeno porte do interior e em outras cidades da região metropolitana do Recife.
Em Caruaru, berço político da governadora, o prefeito Rodrigo Pinheiro (PSDB) tenta a reeleição e tem Raquel, sua antecessora, como cabo eleitoral, enquanto o ex-prefeito Zé Queiroz (PDT) conta com apoios de João e do presidente Lula (PT) para tentar chegar a um quinto mandato.
Candidatos a prefeituras têm usado a imagem do prefeito do Recife em adesivos e cartazes em cidades fora do Recife.
O PSB é o partido que tem 76 candidatos a prefeituras em Pernambuco, o maior número dentre todas as legendas, mas o índice caiu em relação a 2020, quando foram 109. O partido abriu mão de outros candidatos em prol dos dois partidos aliados mais próximos, o Republicanos e o União Brasil.
O Republicanos é comandado no estado pelo ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, e o União tem como principal liderança o ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho, candidato a governador derrotado em 2022.
Costa Filho e Coelho disputam entre si uma vaga para o Senado em 2026 numa eventual chapa de Campos. A outra estaria garantida a Humberto Costa, caso o PT continue aliado do prefeito do Recife.
Integrantes de Republicanos e União Brasil têm convicção, nos bastidores, de que João será candidato a governador se tiver o apoio do presidente Lula.
Além da unidade desses partidos com o PSB, outro fator que corrobora para esta tese é que o prefeito emplacou um amigo e ex-chefe de gabinete, Victor Marques (PC do B), como vice na sua chapa à reeleição, para garantir que um nome de confiança possa ficar no comando do Recife caso seja candidato ao Executivo estadual.
Presidente do PSB em Pernambuco, o deputado estadual Sileno Guedes admite que o fato de não governar o estado contribuiu para a redução, mas fala em fortalecer o partido visando um projeto estadual futuro junto com Republicanos e União Brasil.
O dirigente também diz que não há orientação do PSB para os candidatos criticarem o governo de Raquel nas cidades. “A governadora está com uma das piores avaliações do país. Não é orientação [mostrar falhas do governo], mas são discussões que surgem naturalmente.”
O PSB não quer apenas vencer no Recife, mas ganhar acima dos 70% de preferência. A ideia, com isso, é mostrar força perante o governo do estado.
O PSDB de Raquel lançou 55 candidaturas a prefeituras, quase cinco vezes mais do que em relação a 2020.
A chegada ao poder da atual governadora turbinou também outros partidos da base aliada. A governadora tem atuado diretamente para que o PSD, que lançou 35 candidatos a prefeito, cresça em números de eleitos ao cargo.
“Essa aliança com Raquel é que nos possibilitou adensar nossa participação nas eleições municipais. Nas últimas eleições, elegemos 14 prefeitos pelo PSD. Agora, temos 20 e esperamos eleger de 20 a 25. Temos no PSDB a nossa primeira alternativa de aliança”, afirma o ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula, presidente estadual do PSD.
Como a Folha noticiou, há possibilidade de Raquel se filiar ao PSD antes das eleições de 2026, a fim de ter um partido mais robusto para enfrentar o PSB. “Qualquer partido político sonha em ter nos seus quadros uma mulher jovem e preparada como Raquel”, diz André de Paula.
Apoiado por Raquel no Recife, Daniel Coelho (PSD) tenta desgastar João Campos na propaganda eleitoral de rádio e televisão. Ele diz que lamenta uma possível antecipação de 2026 nesta eleição municipal.
“Para mim, está claro que tem um projeto de poder montado. João tinha uma vice que era uma mulher e trocou para colocar um desconhecido da cidade e que é um amigo de infância, para tentar controlar a prefeitura caso seja reeleito”, diz Daniel.
Além disso, o candidato apoiado por Raquel Lyra quer pressionar João Campos a dizer se cumprirá o mandato até o fim, caso reeleito, e usar a campanha de Daniel para expor ações da gestão estadual no Recife. “É uma oportunidade de mostrar como ela recebeu o estado do PSB.”