(FOLHAPRESS) – Concessionárias de energia de pelo menos 13 estados do país dão descontos ao consumidor que levar o lixo separado a ecopontos de sua cidade. A ideia dos programas é estimular a destinação adequada em troca de abatimentos na conta de luz.
Os projetos estão presentes em cidades de Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo, além de Brasília.
Toda semana Sabrina Soares, 36, sai de casa para percorrer o caminho de 10 a 15 minutos até um ecoponto próximo de Monte Castelo, bairro em Fortaleza (CE) onde mora. Ela leva desde óleo de cozinha até garrafas PET.
“Em vez de descartar esses itens de qualquer jeito, estamos sendo beneficiados com descontos da conta de luz”, afirma ela, que já teve abatimento de R$ 35 numa conta. Ela pesquisou ecopontos na internet e mandou os endereços para as amigas de modo a incentivá-las a fazer o mesmo.
Os lugares têm contêineres específicos para entulho (restos da construção civil) e para recicláveis volumosos (móveis e eletrodomésticos). Resíduos como plásticos e papéis são ensacados separadamente.
Além da vantagem na conta de luz, carroceiros e catadores podem receber dinheiro em conta.
O Brasil gerou cerca de 77 milhões de toneladas de RSU (resíduos sólidos urbanos) em 2022, segundo estimativa da Abrema (Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente) presente no relatório Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2023. Isso significa que cada pessoa gerou uma média de quase 1 kg de resíduos por dia naquele ano.
De acordo com o estudo, as despesas dos municípios com limpeza urbana –coleta, transporte, tratamento, destinação de resíduos, varrição de vias e limpeza de áreas públicas– giraram em torno de R$ 29 bilhões em 2022.
Hugo Nery, diretor-presidente da Marquise Ambiental, diz que “não há mais como sustentar uma coleta totalmente porta a porta, porque o custo se tornará inviável para as cidades”. O ecoponto, dessa forma, seria uma alternativa para a gestão de resíduos.
A Marquise Ambiental é dona da Ecofor, que opera 105 ecopontos na capital cearense, entre os quais o de Guararapes, usado por Sabrina Soares. Desses, 93 contam com programas de bonificação em parceria com a Enel, concessionária de energia do município. A distribuidora tem mais três ecopontos próprios na cidade.
Para efeito de comparação, em São Paulo, onde vivem quase cinco vezes mais pessoas que em Fortaleza, existem 127 ecopontos, em nenhum dos quais há o programa de recompensa. A Enel, que também atua na distribuição do município, tem só nove ecopontos na capital paulista. Estes contam o programa de recompensas.
Em Fortaleza, os ecopontos recebem cerca de 3 mil toneladas por mês. “Ainda é pouco, mas é um indicativo de mudança comportamental importante do gerador de resíduos”, afirma o executivo da Marquise Ambiental.
O presidente da Abrema, Pedro Maranhão, diz que iniciativas de ecopontos com recompensas a moradores são bem-vindas, mas não resolvem o problema da reciclagem no Brasil.
No país, apenas 32% dos municípios brasileiros têm coleta seletiva, conforme o painel Manejo dos Resíduos Sólidos Urbanos 2022, do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis).
“Só vamos avançar a partir do momento em que criarmos uma indústria da reciclagem, envolvendo todos os atores. Os catadores, os empresários, as cooperativas, as prefeituras e o Estado unidos em torno da viabilidade econômica”, diz Maranhão.
Segundo ele, para haver viabilidade econômica e desenvolver uma indústria, o produto reciclado tem que ser mais barato que o virgem.
“Senão, nós não incentivamos, ninguém vai comprar. Pouquíssima gente compra um produto mais caro porque é reciclado. A pessoa geralmente pensa no bolso, depois pensa na questão do meio ambiente.”
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