(FOLHAPRESS) – O pré-candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) reforçou as movimentações em direção ao que chama de “ampliar a campanha” para segmentos de fora da esquerda, mas tem desvantagem na comparação com Ricardo Nunes (MDB) em questões como alianças e recursos.
Boulos, que é apoiado pelo presidente Lula (PT) e lidera tecnicamente empatado com o atual prefeito as intenções de voto -30% e 29%, respectivamente, segundo o Datafolha-, contabilizou avanços nas últimas semanas, ao abrir diálogo com líderes evangélicos, agentes do mercado financeiro e empresários.
Sua pré-candidatura também recebeu a sinalização de apoio do PMB (Partido da Mulher Brasileira). A sigla orbita a direita e tem entre os filiados Abraham Weintraub, que vinha se apresentando como pré-candidato a prefeito pela legenda. O ex-ministro da Educação de Jair Bolsonaro (PL), porém, não tem respaldo da direção.
A equipe de Boulos também angariou o apoio de “dissidentes” de partidos que estão com Nunes e com Tabata Amaral (PSB). No ato de 1º de Maio na capital paulista, presidentes de duas centrais sindicais que têm elos com siglas da coalizão do prefeito declararam voto no deputado federal.
Aliados de Boulos no PSOL e no PT dizem que se encerrou a etapa inicial de assegurar o apoio majoritário do chamado campo progressista. Avaliam que, sem descuidar de manter mobilizada a base propensa a se engajar na campanha, é preciso recrutar forças de centro e centro-direita.
A negociação com o nanico PMB, revelada pela coluna Painel, deve ser concluída até o fim do mês, segundo o vice-presidente nacional da legenda, Sidclei Bernardo. “Tivemos conversas com Nunes e Tabata, mas entendemos que o melhor é Boulos”, diz ele, que define a sigla como avessa a extremismos.
Na prática, o apoio não agregará tempo de propaganda oficial nem recursos a Boulos, mas poderá marcar a entrada de uma sigla de outro campo. Hoje ele tem no arco de alianças apenas legendas à esquerda e que integram a base do governo Lula (PSOL, PT, PC do B, Rede, PV e PDT).
Nunes e correligionários têm como estratégia rebater o discurso do rival de que formou uma frente democrática contra a vitória de um aliado do ex-presidente Bolsonaro. O grupo do emedebista diz que ele é quem construiu uma frente para evitar que a extrema esquerda assuma a cidade.
A coligação de Nunes conta com dez partidos comprometidos até agora e projeta crescer ainda mais. Parte deles, como o próprio MDB, além de PSD, Republicanos e União Brasil, tem ministros no governo Lula. Outros também estiveram com o petista na campanha de 2022, caso do Solidariedade.
Para minimizar a discrepância, Boulos costuma responder que os apoios em uma eleição municipal não se resumem aos partidos, mas também são construídos com movimentos sociais e setores organizados.
Segundo Josué Rocha, um dos coordenadores da pré-campanha do PSOL, a ideia é se aproximar de forças que estiveram em 2022 na “frente democrática contra o Bolsonaro” na capital. “Estamos tentando conversar com todos os atores dessa frente. Nosso lado é o que defende a democracia”, diz.
A associação com Lula é vista no entorno de Boulos como fator que poderá impulsioná-lo. O presidente usou o esvaziado ato das centrais no Dia do Trabalhador para pedir voto no aliado, o que provocou uma série de pedidos de investigação e ações judiciais por propaganda eleitoral antecipada.
Apesar da avaliação, nos bastidores, de que o gesto rendeu frutos ao difundir a informação de que Boulos é o candidato de Lula, dois pontos negativos acenderam alertas: o risco de punição pela Justiça Eleitoral, dando munição ao discurso oposicionista de conivência com ilegalidades, e a repercussão negativa do evento em si, que teve público reduzido e bronca pública do presidente pela convocação tímida.
No mesmo palanque, o presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores), Ricardo Patah, declarou que Boulos é seu candidato. Patah é dirigente do PSD, que está aliado a Nunes. À Folha ele diz que anunciou uma decisão individual e que a entidade sindical é plural e não deliberou apoio institucional.
A situação é a mesma do presidente da Força Sindical, Miguel Torres, que é filiado ao Solidariedade, partido já fechado com a reeleição do prefeito. Torres também afirma que expôs o apoio pessoal a Boulos, mas que a organização sindical “não tem uma linha ideológica única” e ouvirá outros postulantes.
A pré-campanha do deputado destaca ainda a presença de uma filiada ao PSB, a ex-secretária municipal Marianne Pinotti, no grupo que discute o plano de governo do PSOL. Também ressalta a chegada do advogado José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Boulos tem feito esforços para tentar desconstruir pechas como as de radical e invasor de casas, em razão de sua militância por mais de 20 anos no MTST (movimento de sem-teto). A leitura de estrategistas é que todo gesto que indique disposição de diálogo conta a favor da suavização de sua imagem.
A agenda do parlamentar incluiu também conversas com o setor privado, onde seu nome enfrenta resistências. No mês passado, ele se apresentou e respondeu a perguntas na Prada Assessoria, escritório de investimentos especializado em gestão e sucessão patrimonial de grandes fortunas.
Boulos fez ainda um encontro com pastores e outras lideranças evangélicas que reuniu 160 pessoas. Segundo o deputado estadual Paulo Fiorilo (PT), que tem assessorado o pré-candidato na área de relações institucionais, a atividade serviu para Boulos falar de sua trajetória e expor propostas. Os convidados eram, em sua maioria, de igrejas de menor expressão, muitas delas atuantes na periferia.
A competição nessa faixa do eleitorado é benéfica para Nunes, que já mantinha interlocução com várias denominações e ganhou o reforço do bolsonarismo, alinhado ao segmento. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que é cabo eleitoral do prefeito, também circula bem nesse público.
“Boulos tem feito diálogos para além da bolha dele”, diz Fiorilo. “A campanha está disposta a dialogar com todos, mesmo com as grandes denominações ou aqueles que tendem a um lado ou outro. Todo diálogo que possa romper com resistência é importante para ir consolidando e ampliando.”
De acordo com Josué Rocha, figuras dispostas a contribuir com a campanha apontam como motivos para não embarcarem na candidatura de Nunes a relação dele com Bolsonaro e a gestão do prefeito, que “padece de falta de projeto e de visão de cidade”, nas palavras do coordenador de Boulos.
Sobre a presença na chapa adversária de partidos que estiveram ou estão com Lula no plano federal, Rocha diz que é preciso diferenciar as composições de 2022 -e as acomodações que o presidente fez em nome da governabilidade- do pleito municipal.
“Independentemente dessa composição partidária que Nunes tem montado, o ponto central é discutirmos com quem ele se alia e qual política ele defende. E é inegável a ligação dele com Bolsonaro, uma figura que a capital rejeita, como provaram as urnas e continuam mostrando as pesquisas”, afirma.
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