Visibilidade: pessoas trans conquistam mais espaços nas artes

“A arte pra mim é tudo”. Esta afirmação é de Divina Valéria, pioneira na arte transformista no Brasil. A artista, que trabalhou no lendário Cabaré Carrossel, em Paris, na França, completa seis décadas de carreira neste ano e narra com orgulho a trajetória na arte.  

Neste 29 de fevereiro, quando se comemora o Dia da Visibilidade Trans, ela lembra que, quando começou, usava roupas femininas somente nos palcos. Apenas quando foi para Paris, pode se vestir conforme desejava no seu dia a dia.

“Eu assumi em 70, quando eu cheguei em Paris, a viver totalmente de mulher, totalmente minha personalidade feminina que afluía muito mais em mim.”

Para Divina Valéria, com o passar do tempo, as pessoas trans e travestis ganharam mais espaço nas artes.

“Eu tenho visto algumas, até mesmo como diretoras  e tudo. Eu acho ótimo, porque tem muitas com muito talento.”

Teodoro Martins, mais conhecido como Preto Teo, é uma dessas pessoas. No entanto, o artista que trabalha com poesia desde 2016 e com produção cultural e performance desde 2018, ainda considera que a presença de pessoas trans nas artes é desvalorizada 

“Não não temos patrocínios, não temos grandes negócios com grandes marcas. São as minorias das grandes artistas que alcançaram esses lugares, mas a arte dependente transgênera resiste, persiste e hackeia todos os espaços possíveis.”

Preto Teo relata que, quando participava de um curso preparatório para o vestibular, voltado para pessoas trans, mostrou seus escritos para uma professora, que ressaltou a relevância do material. Ela indicou para Preto Teo um concurso de antologia trans, que estava com inscrições abertas. 

“Primeira antologia de poetas trans, travestis e não-binários da América Latina e a partir daí não parei mais. Em 2022 eu participei com a antologia que foi publicada na Suécia e esse foi um processo muito importante na minha carreira. Quando esse livro chegou nas minhas mãos e eu entendi que a minha arte tinha literalmente atravessado um oceano.” 

Mas, para ele, faltam oportunidades para as pessoas trans. 

“Estamos em todas as vertentes artísticas; estamos na poesia, estamos na literatura, estamos nas artes cênicas, nas artes visuais, na direção de arte, estamos na produção, estamos na graxa. Somos técnicos, somos iluminadores cada vez mais crescendo no nossoc ampos, mas o que a gente precisa hoje é de oportunidades para mostrar o que a gente veio, a qualidade e excelência do nosso trabalho”. 

Ele nos apresenta um trecho da performance Como se (des)fiz

“Cortei fora a língua e o bico de quem me punia. Afoguei, devolvi tudo que já não me servia. Firmei o fundamento segunda ao meio-dia. Se achar que vai parar, achar que vai parar. Vai perceber que é forte a corrente é de além mar. Esse pinto, menino, que é de brincar. Tá brincando um sorriso pique de erê. Rei da Intrusa te guia no caminhar. Nada para o menino que é de vencer.”

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