BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Todo de preto, com um pano florido cobrindo a cabeça e microfone em mãos, Javier Milei fecha os olhos, solta a voz grave e começa a cantar uma balada romântica. O vídeo é de 2018, quando o economista ainda estava longe de entrar para a política, mas voltou a viralizar depois que ele foi eleito presidente do país.
“Espero que meus alunos não vejam”, brincou o então excêntrico professor de economia da Universidade de Belgrano com o apresentador do programa de entretenimento La Tribuna de Guido, do canal El Trece. Ele interpretou a música “Fuiste Mía un Verano” (Você Foi Minha um Verão), um clássico do argentino Leonardo Favio.
Javier Milei en el programa de Guido donde cantó “Fuiste mía un verano” de Leonardo Favio. pic.twitter.com/agpYP3X9fi
— Emmanuel Rincón (@EmmaRincon) November 27, 2023
Nessa época Milei ainda namorava com a cantora Daniela Mori, que também participou da transmissão imitando Shakira. O casal costumava ir a programas televisivos para falar sobre a prática do sexo tântrico.
Favio foi um cantor, ator, diretor de cinema e roteirista argentino que fez sucesso entre as décadas de 1960 e 1990 e morreu em 2012, aos 74 anos. Ele ficou conhecido pelas baladas românticas e também pelo filme “Crónica de un Niño Solo” (Crônica de um Garoto Sozinho), lançado em 1965 e aclamado pela crítica.
O vídeo de Milei viralizou pela primeira vez quando ele se tornou o candidato à Presidência mais votado nas eleições primárias, em agosto, e agora voltou a ser compartilhado. Internautas não deixaram passar a ironia de Favio ter sido abertamente peronista e publicaram a foto do artista junto ao ex-presidente Juan Domingo Perón.
“Eu não sou um diretor peronista, mas sou um peronista que faz cinema, e isso em algum momento se nota”, afirmou o cantor em uma entrevista concedida em 1993, segundo o canal TN. Em 1999, ele lançou “Perón, Sinfonia de um Sentimento”, um documentário de quase seis horas sobre a história do movimento.
Favio se exilou na Colômbia e no México quando se iniciou a última ditadura militar argentina, em 1976, e só voltou ao país em 1987. Milei, por sua vez, já relativizou a quantidade de mortos e desaparecidos durante o regime, dizendo que “não foram 30 mil”, número que não é oficial, mas que virou um símbolo contra o golpe.