Um homem invadiu um ônibus na Rodoviária do Rio de Janeiro, no centro da cidade, mantendo por mais de duas horas 16 reféns dentro do veículo. Outras duas pessoas foram baleadas -uma delas está em estado grave e passando por cirurgia.
Após negociações conduzidas por policiais militares, o suspeito se entregou. O veículo ia da capital fluminense para Minas Gerais.
“O tomador de reféns está preso, todos os reféns estão libertados, seguros”, disse o afirmou o porta-voz da corporação, coronel Marco Andrade, às 17h57.
O suspeito de ter sequestrado o ônibus foi identificado como Paulo Sergio de Lima, 29. No momento, ele foi levado para a 4ªDP (Cidade Nova), e ainda não tem advogado constituído.
Uma arma que estava com ele foi apreendida.
Segundo as primeiras informações, ele seria morador da Rocinha, zona sul do Rio, comprou a passagem para Juiz de Fora em dinheiro e estava dentro do ônibus quando fez os disparos.
Ainda não se sabe a motivação do crime, mas a polícia trabalha com a hipótese que ele se desentendeu com integrantes da facção criminosa Comando Vermelho e estava fugindo.
De acordo com a PM, as duas pessoas baleadas foram alvejadas fora do ônibus. Uma foi atingida por estilhaços, enquanto a outra foi atingida por três tiros e está em estado grave. Ele foi identificado como Bruno Lima da Costa Soares, 34.
Ele é morador de Juiz de Fora (MG) e estava no Rio para um treinamento na Petrobras, após ter passado em um concurso da estatal. Segundo a Secretaria municipal de Saúde, os disparos que causaram ferimentos no baço, no pulmão e no coração.
Segundo o secretário Daniel Soranz, ele já recebeu seis bolsas de sangue. “Faço um apelo para a população doar sangue, se deslocar amanhã de casa e doar sangue. A informação que tenho é que a vítima está estabilizada, mas em estado grave. São três equipes médicas participando da cirurgia”, disse.
O governador Cláudio Castro (PL), agradeceu a atuação das forças de segurança na ação. “O criminoso que sequestrou o ônibus está preso e os reféns libertados. Fiquei em contato direto com o comando das polícias, passando duas determinações: resguardar a vida dos reféns e ser implacável nas negociações”, escreveu ele nas redes sociais.
A informação inicial era de que havia 18 reféns, mas o quantitativo foi alterado para 15 e 17. Depois, a PM informou serem 16 as pessoas mantidas no ônibus. A corporação afirmou também que uma criança e seis idosos estavam dentro do veículo.
Nenhuma das pessoas que estavam dentro do ônibus ficou ferida na ação.
A rodoviária serve como base para viagens intermunicipais a partir do Rio de Janeiro. Ela fica na entrada do viaduto do Gasômetro, acesso para a ponte Rio-Niterói e a avenida Brasil. Diversas ruas na região foram fechadas devido ao caso, mas parte das vias já foi liberada, segundo a PM.
A assessoria de imprensa da Rodoviária Novo Rio afirmou que a ocorrência se deu na plataforma central. “A referida área já foi isolada para proteção de todos os passageiros. As operações foram suspensas por determinação da autoridade policial.”
Em frente à Rodoviária Novo Rio desde às 15h, Cleyton Oliveira, 30, esperava no fim da tarde desta terça-feira (12) por uma resposta da Gontijo, a empresa de transporte cujo ônibus o levaria do Rio para Bahia, onde passaria 15 dias curtindo as férias do trabalho de serviços gerais.
Acompanhado de sua mãe, ele comprou a passagem há mais de um mês. Eles se encontravam no interior da rodoviária quando ouviram o disparo de arma de fogo.
“Todo mundo se jogou no chão na hora. Eu sou morador de Água Santa, Piedade, tô acostumado com o som de tiro, mas não assim né, na rodoviária, um lugar que a gente acha que seria seguro”, afirmou.
Sem retorno quanto a qual será a decisão da empresa de transporte quanto à sua viagem adiada, ele tentava contato com a pousada da Bahia via e-mail, infrutífero, para avisar do incidente.
“A gente fica a deriva aqui. E, vou te contar, isso tudo acaba dando um receio de viajar de ônibus assim”, disse.
De acordo com a concessionária, passageiros que tiveram suas viagens canceladas devem procurar as companhias de ônibus para remarcação sem custo.
Funcionária da empresa de viagem 1001 há três anos, Elza Silva, 59, estava na rodoviária no momento que aconteceu o crime. “Quando cheguei aqui, por volta das 15h20, escutamos barulho de tiro e tivemos que ficar aqui esperando”, diz ela.
Silva relata ter ficado com medo ao ouvir os disparos. Afirma ter sido informada pelos chefes que deveria esperar a resolução do caso, para ajudar no realocamento dos clientes quando a rodoviária for reaberta.
Durante a entrevista, ela atendeu o telefone. Do outro lado da linha estava seu pai, aflito. “Tá tudo bem. Não entrei ainda. Tá tudo bem!”, disse Silva.
Após mais de três horas de espera, todos os funcionários da rodoviária Novo Rio puderam entrar no terminal.
HISTÓRICO DE SEQUESTROS DE ÔNIBUS
O Rio de Janeiro viveu situação semelhante em 2019, quando um sequestrador manteve 39 pessoas reféns durante quatro horas num ônibus na ponte Rio-Niterói. O criminoso, identificado como Willian Augusto da Silva, 20, foi morto por um atirador de elite ao descer do veículo.
O caso ficou marcado pela tentativa de uso político do episódio pelo ex-governador Wilson Witzel. Ele desceu de helicóptero na ponte e celebrou a morte do sequestrador, sendo filmado por um secretário.
Em 2009, um atirador também matou um sequestrador que mantinha uma refém em Vila Isabel (zona norte). Ele foi alvejado após uma hora de negociação, enquanto submetia uma mulher sob ameaça de uma granada.
A ação também foi alvo de exploração política. O coronel João Jacques Busnello, atirador da PM no caso, tentou, sem sucesso, ser eleito a uma cadeira na Assembleia Legislativa.
A PM passou a capacitar seus agentes para atuação em sequestros após a trágica atuação da corporação no caso do ônibus 174.
Dez reféns ficaram em poder de Sandro Barbosa do Nascimento, 21, por mais de quatro horas no Jardim Botânico. Quando o sequestrador deixou o veículo, um soldado da PM se aproximou e disparou. Nascimento, então, deu três tiros e matou a refém Geísa Gonçalves, 20. Capturado ileso, o sequestrador foi asfixiado e morto por PMs.
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