O câncer é uma doença altamente presente no Brasil. Atualmente, a segunda maior causa de mortalidade, atrás apenas de doenças cardiovasculares. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a maior incidência em homens é o câncer de próstata, com 71 mil casos em 2023 e em mulheres, o câncer de mama, com 73 mil. Ainda, o órgão estima para 2025, cerca de 704 mil novos casos no Brasil, com foco nas regiões Sul e Sudeste.
“Nos últimos 30 anos, aumentaram em 80% os casos de câncer em pessoas jovens, abaixo dos 50 anos. Esse aumento se deve ao sedentarismo, aumento do consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo, consumo de alimentos industrializados, exposição ao sol e outros hábitos prejudiciais à saúde na vida moderna”, comenta Dra. Waleska de Carvalho, ginecologista e obstetra da Associação Mulher, Ciência e Reprodução Humana do Brasil (AMCR).
A Dra. também ressalta que algumas infecções podem elevar o risco de câncer, como o papiloma vírus, responsável por 90% do câncer de colo uterino, o HIV aumenta a incidência do Sarcoma de Kaposi, o vírus da hepatite B e C aumenta o risco para o câncer de fígado e a infecção pelo HTLVI e HTLVII que pode estar associada ao risco de leucemia e linfomas de células T. Além dos casos hereditários, que estão presentes em 5 a 10 % dos casos, sendo os mais frequentes mama e ovário.
Tratamentos oncológicos afetam a fertilidade?
Quando se pensa em câncer, logo vem à mente os tratamentos, alguns altamente agressivos para o corpo humano dependendo da gravidade do caso, sendo os mais comuns a quimioterapia, radioterapia e a cirurgia. Eles podem prejudicar a fertilidade dos pacientes, ao diminuir a concentração de folículos no ovário e a quantidade de espermatozoides. Por ano, de 20 a 30 mil diagnosticados se encontram na idade reprodutiva e desejam engravidar, segundo o INCA.
O tratamento tem o objetivo de destruir as células cancerígenas, porém, ao mesmo tempo, destrói também as células sadias e pode afetar a fertilidade de forma transitória ou permanente. Devido aos avanços nos métodos e o aumento significativo no índice de cura, a qualidade de vida e planejamento futuro é desejada pelos pacientes que conseguem passar pela doença e querem ter filhos.
O impacto sobre a fertilidade irá depender do tipo de medicamento quimioterápico utilizado, afirma a ginecologista. “Os mais nocivos são os alquilantes. A dose utilizada, o local da radiação e também a idade da paciente. Quanto mais jovem, menor o impacto sobre a sua fertilidade. Nos casos cirúrgicos, pode haver uma destruição imediata do órgão e da sua função, principalmente tumores que atingem o aparelho genital feminino (útero, ovário e genitais externos) e o genital masculino (pênis, testículo e próstata)”, completa a Dra. Waleska.
Quais os métodos utilizados para engravidar?
Quando a paciente retira o útero ou algum órgão, para conseguir gerar, será preciso um tratamento de reprodução, no qual ela fará a útero-substituição, por exemplo. Para os demais casos, pode ser recomendado o uso de medicamentos injetáveis, que seriam os antagonistas de GNH, os quais tem o objetivo de bloquear o eixo hipotálamo e fazer uma proteção do ovário.
“Esses medicamentos podem ser utilizados, mas a melhor maneira de preservar a fertilidade em casos de câncer é o congelamento de óvulos, espermatozoides ou embriões. É um procedimento que deve ser realizado antes do tratamento oncológico”, diz. “É de suma importância que, ao receber o diagnóstico de câncer, o paciente seja orientado sobre o efeito do tratamento na sua reprodução”, explica.
Se o desejo do paciente é constituir uma família no futuro, cabe ao médico especialista sugerir soluções para que ele possa preservar sua fertilidade. Poderá ser a única oportunidade que uma mulher ou homem terá para ser pai ou mãe genético. O congelamento de gametas é uma das técnicas complementares a FIV (fertilização in vitro). A FIV também é utilizada após o descongelamento dos gametas.
“Temos que fazer a criopreservação do tecido de óvulos, gametas e espermatozoides. É como se estivéssemos guardando um embrião em uma área segura para ser recolocado na paciente após o tratamento, para que ele não sofra o impacto de uma radioterapia, por exemplo”, diz a Dra. Zoila Medina, ginecologista também associada à AMCR. “Existe vida após o câncer e quando se trata de preservação, temos que fazer o que conseguimos e no tempo que temos”, finaliza.
No caso de conseguir a gravidez, os riscos existentes podem ser os mesmos de mulheres sem a doença: fator idade, fatores genéticos, histórico de doenças, entre outros. Não há indícios de aumento na chance do câncer retornar. Entretanto, é necessário que a mulher mantenha uma boa alimentação e um corpo preparado para a chegada do bebê e um acompanhamento médico durante o processo.