Sammy Basso escreveu carta antes de morrer: "Vivi a minha vida feliz"

Sammy Basso, um jovem italiano que era o sobrevivente mais velho da doença rara de Hutchinson-Gilford (SPHG), conhecida como progéria, e que morreu no sábado passado (5), aos 28 anos, escreveu uma carta para ser lida no seu funeral, onde afirmou que teve uma “vida feliz” e que não perdeu a batalha contra a síndrome porque “nunca houve uma batalha a travar”.

 

“Se estão lendo isto, então já não estou entre o mundo dos vivos. Pelo menos não no mundo dos vivos tal como o conhecemos. Escrevo esta carta porque se há uma coisa que sempre me angustiou foram os funerais”, começou por afirmar o jovem na carta, citada pelo jornal italiano La Repubblica.

Sammy fez questão de dizer que viveu uma “vida feliz”, “como um homem simples, com momentos de alegria e momentos difíceis, com vontade de fazer bem, por vezes conseguindo e por vezes falhando miseravelmente”.

“Quero que saibam, antes de mais, que vivi a minha vida feliz”, sublinhou.

O italiano, que foi diagnosticado com progéria – uma síndrome genética extremamente rara que acelera o envelhecimento – aos dois anos, escreveu que a doença “marcou profundamente” a sua vida e, apesar de ser “apenas uma parte muito pequena” do era, influenciou a sua “vida quotidiana” e as suas “escolhas”. 

“Não sei porquê e como vou deixar este mundo, certamente muitos dirão que perdi a minha batalha contra a doença. Não ouçam! Nunca houve uma batalha a travar, havia apenas uma vida a abraçar tal como era, com as suas dificuldades, mas ainda assim maravilhosa, ainda assim fantástica, nem recompensa nem condenação, simplesmente uma dádiva que me foi dada por Deus”, escreveu.

Sammy Basso admitiu que cometeu “erros”, como “qualquer pessoa” e “qualquer pecador” e deixou um conselho aos que o rodeiam: “Amem aqueles que vos rodeiam, não se esqueçam que os companheiros de viagem nunca são o meio, mas sim o fim. O mundo é bom se soubermos onde procurar”.

“Quero que saibam que vos amo a todos e que foi um prazer percorrer o caminho da minha vida ao vosso lado. Não vos direi para não ficarem tristes, mas não fiquem demasiado tristes. Como em todas as mortes, haverá alguém entre os meus entes queridos que chorará por mim, alguém que ficará incrédulo, alguém que, talvez sem saber porquê, terá vontade de sair com os amigos, estar juntos, rir e brincar, como se nada tivesse acontecido. Quero estar convosco neste momento e dizer-vos que é normal. Para aqueles que vão chorar, saibam que é normal estar triste. Para os que querem festejar, saibam que é normal festejar. Chorem e festejem, façam-no em minha honra“, escreveu.

Basso nasceu em Schio, na província italiana de Vicenza, a 1 de dezembro de 1995 e foi diagnosticado com progéria aos dois anos. Morreu na noite de sábado, 5 de outubro, “subitamente, após um dia de festa rodeado pelo carinho daqueles que o amavam”, segundo anunciou a Associazione Italiana Progeria Sammy Basso (Aiprosab) numa publicação nas redes sociais.

Em 2018, licenciou-se em Ciências Naturais pela Universidade de Pádua com uma tese sobre a existência de terapias para abrandar o curso da doença, cuja esperança média de vida é de cerca de 13 anos

Nas redes sociais, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, lamentou a morte do jovem, que descreveu como “um exemplo extraordinário de coragem, fé e positivismo”. 

“Enfrentou todos os desafios com um sorriso, provando que a força de espírito pode ultrapassar qualquer obstáculo. O seu empenho na investigação da progéra e a sua capacidade de inspirar os outros serão para sempre um modelo a seguir. O Sammy mostrou-nos a todos o que significa viver com paixão e determinação, nunca perdendo a alegria e a vontade de lutar“, escreveu a governante.

Basso, recorda a Reuters, tornou-se famoso através do documentário da National Geographic ‘Sammy’s Journey’, que relata a sua viagem ao longo da Route 66 nos Estados Unidos, de Chicago a Los Angeles, com os seus pais e um dos seus melhores amigos, Riccardo.

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