SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – A cidade de Salvador registrou na manhã desta segunda-feira (4) tiroteios em áreas centrais, famílias mantidas em cárcere privado por bandidos em meio a uma perseguição policial, suspensão de aulas e ameaças de uma facção criminosa em redes sociais em meio a um clima de terror.
O epicentro do conflito foi a região dos bairros Alto das Pombas e Calabar, comunidades encravadas em meio a uma região central da cidade, próxima de bairros ricos como Barra, Ondina e Graça.
A região é disputada pelas facções criminosas Comando Vermelho e Bonde do Maluco, que entraram em confronto ainda na madrugada. Um tiroteio foi registrado pela manhã próximo ao cemitério Campo Santo, um dos maiores da cidade, que fica em uma das entradas do Alto das Pombas.
Desde o início da manhã, começaram a circular vídeos em redes sociais com cenas de criminosos percorrendo as vielas dos bairros com armas de alto calibre. Também circularam mensagens com ameaças aos moradores.
Em meio ao confronto com a polícia nas proximidades do Campo Santo, bandidos invadiram duas casas e fizeram sete pessoas, incluindo crianças, reféns.
No primeiro imóvel, um criminoso rendeu cinco pessoas e chegou a transmitir o sequestro em uma rede social. No segunda casa, dois suspeitos mantiveram dois moradores em cativeiro.
Equipes do Bope (Batalhão de Operações Policias Especiais) negociaram com os sequestradores. Três homens se renderam e foram presos. Os moradores foram libertados ilesos.
Em varreduras realizadas na tarde desta segunda-feira, a polícia apreendeu mais três fuzis, duas pistolas, duas granadas, munições e drogas.
No início da tarde, houve novo confronto com criminosos no Alto das Pombas. A polícia alega que as guarnições foram recebidas com tiros e granadas. Cinco suspeitos ficaram feridos, foram levados para o Hospital Geral do Estado, mas morreram.
A Polícia Militar informou que intensificou o policiamento em toda a área do Calabar e Alto das Pombas, com o apoio das tropas especializadas.
Em entrevista à imprensa na manhã desta segunda-feira, o secretário estadual de Segurança Pública, Marcelo Werner, afirmou que a polícia não abrirá mão do enfrentamento aos grupos criminosos, que possuem alto poder bélico e atuam em uma tentativa de intimidar a população.
“A gente tranquiliza [a população], a gente sabe o que está enfrentando. Estamos engajados diuturnamente no reforço do policiamento e no combate a facções criminosas e aos crimes violentos”, afirmou o secretário.
UNIVERSIDADE TEM AULAS SUSPENSAS
Com o clima de insegurança, diversos cursos da Ufba (Universidade Federal da Bahia), cujo principal campus fica no bairro de Ondina, decidiram suspender as aulas e liberar os alunos na manhã desta segunda.
Em nota, a reitoria recomendou a suspensão das aulas e atividades administrativas nos campi de Ondina, Canela, São Lázaro e Federação e informou que entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública, solicitando reforço de policiamento no entorno de todos os campi da Universidade.
A Ufba não confirmou se há previsão de suspensão das atividades para a terça (5). “Cheguei na faculdade sem saber o que estava acontecendo. Desci do ônibus, escutei os barulhos das viaturas e percebi o clima deserto”, relata Matheus Caldas, 21, estudante de engenharia mecânica no campus Federação.
Um aluno de psicologia, que não quis se identificar, relata clima de terror quando chegou à unidade. Em grupos de mensagens de estudantes, o medo se perpetuou dentre os estudantes. “Gente, quem tem aula em Ondina de tarde, pelo amor de Deus, nem invente de ir. Está arriscado para todo mundo”, diz uma mensagem.
Na rede municipal, 1.042 estudantes do ensino básico e fundamental ficaram sem aulas. Em nota, a Secretaria Municipal de Educação de Salvador informou que, devido à sensação de insegurança no Alto das Pombas e entorno, “as escolas municipais Conjunto Assistencial Nossa Senhora de Fátima, Casa da Amizade, professor Antônio Carlos Onofre e os Centros Municipais de Educação Infantil Tertuliano de Góis e Calabar tiveram as atividades suspensas nesta segunda”.
A Bahia enfrenta um de seus momentos mais graves na gestão da segurança, com o acirramento da guerra entre facções, chacinas e escalada da letalidade policial, com epicentro nas periferias das cidades, cujas famílias vivenciam a morte diária de uma legião de jovens negros e pobres.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam a Bahia como o estado com maior número absoluto de mortes violentas do Brasil desde 2019. Em 2022, o estado conseguiu reduzir em 5,9% o número de ocorrências, fechando o ano com 6.659 assassinatos.