IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Rússia fez o primeiro lançamento de um míssil nuclear desarmado de seu mais novo submarino, o Imperador Alexandre 3º, neste domingo (5). O teste ocorreu no mar Branco, no Ártico, e o projetil atingiu um alvo 5.500 km distante, na península de Kamtchatka (Extremo Oriente russo).
Foi o primeiro teste bem-sucedido naquela que pode ser chamada de a “supersemana dos mísseis nucleares”, quando 4 das 5 potências atômicas com assento no Conselho de Segurança da ONU planejaram testes de suas principais armas.
Na quarta (1º), os EUA fracassaram ao lançar um míssil Minuteman-3, o seu modelo disparado de silos terrestres, da base de Vandenberg, na Califórnia. O modelo teve uma falha no sistema de guiagem e teve de ser destruído sobre o oceano Pacífico, no mais recente problema em lançamentos –um foi abortado em 2022 e dois tiveram de ser destruídos no ar, em 2018 e 2011.
Houve um constrangimento adicional. O lançamento foi acompanhado por uma delegação da Coreia do Sul, país que assinou acordo de compartilhamento de informações nucleares com os EUA para intimidar o Norte comunista da península dividida há 70 anos.
O Minuteman-3 seria uma arma a ser empregada num ataque teórico a Pyongyang. “Será que Seul está menos segura sobre a proteção ofereceida pelos EUA?”, questionou no X (ex-Twitter) Hans Kristensen, especialista nuclear da FAS (Federação dos Cientistas Americanos).
Desde que o acordo foi assinado, um submarino com mísseis nucleares e um bombardeiro estratégico com capacidade de levar ogivas atômicas B-52 visitaram a Coreia do Sul. O Norte, que ameaça Seul com suas armas nucleares de forma constante, considerou o movimento uma escalada rumo à guerra.
Antes do sucesso do teste deste domingo, contudo, os russos cancelaram um novo teste de seu mais recente míssil intercontinental pesado, o Sarmat, uma das “armas invencíveis” lançadas por Vladimir Putin em 2018. Ele já havia sido lançado com sucesso neste ano, mas o cancelamento indica algum tipo de falha não divulgado.
Ainda neste domingo deverá haver um teste, esse com muito menos detalhes, realizado pela China. O país é opaco acerca de seus lançamentos, causando especulações –os americanos e russos, até para evitar mal-entendidos, divulgam mutuamente detalhes de testes.
Por fim, a França deverá lançar no Atlântico um míssil nuclear de um de seus submarinos de propulsão atômica na quarta (8). Faltou só o Reino Unido, dos “cinco grandes”. As outras potências nucleares do mundo, sem assento no Conselho de Segurança, são Israel, Índia, Paquistão e Coreia do Norte.
O teste russo é simbólico. O Imperador Alexandre 3º é o sétimo e mais recente submarino da classe Borei (vento ártico), e será a base da força nuclear nesse tipo de embarcação nas próximas décadas. Três estão em construção e outros dois, nos planos. São modelos de propulsão nuclear.
Ele carrega até 16 mísseis Bulava, o mesmo lançado neste domingo, cada um capaz de levar seis ogivas nucleares de até 150 quilotons cada a até 8.000 km de distância. Ou seja, em um único salvo com toda sua carga, ele pode despejar o equivalente a 960 explosões da bomba de Hiroshima, o primeiro artefato atômico usado em guerra, em 1945.
A movimentação ocorre em meio a uma degradação brutal do ambiente de segurança mundial, com as guerras na Ucrânia e em Israel em curso, e com os donos dos principais arsenais nucleares do planeta, Rússia e EUA, no pior ponto da história recente.
“As relações estão em zero, ou diria abaixo de zero”, disse neste domingo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. Na semana passada, o presidente Vladimir Putin ratificou a saída do seu país do tratado que bania todos os testes nucleares, na prática abrindo a possibilidade para um ensaio subterrâneo –explosões atmosféricas, submarinas ou no espaço seguem proibidas.
A alegação foi que os EUA nunca ratificaram o acordo de 1996 que bania todos os testes, sendo signatários apenas de 1963, que permitia os subterrâneos. Os últimos testes nucleares de ambos os países ocorreram nos anos 1990.
No começo do ano, Putin congelou a participação russa no último acordo de controle de mísseis com ogivas estratégicas, aqueles mais potentes destinadas a destruir cidades e encerrar guerras, o Novo Start. Os EUA já haviam deixado dois outros tratados desenhados para evitar o risco de um confronto atômico, e desenvolveram novas armas táticas, de uso limitado, sugerindo que poderiam empregá-las.
Há duas semanas, tanto a Otan [aliança militar ocidental] quanto a Rússia fizeram suas simulações anuais de ataques nucleares uns contra os outros, e os EUA divulgaram querer desenvolver uma nova bomba atômica tática.
Nem tudo, porém, é má notícia: EUA e China concordaram na semana passada, pela primeira vez desde 2016, em retomar as negociações para monitoramento mútuo de seus arsenais nucleares. Moscou e Washington detêm 90% das bombas do tipo do mundo, mas Pequim vem expandindo sua força, ocupando o terceiro lugar com 320 ogivas, segundo a FAS.
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