Rebeldes do Iêmen vão atacar Israel com Irã e Hezbollah

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O comando dos rebeldes pró-Irã do Iêmen disse nesta quinta (8) que o grupo irá participar de qualquer ataque contra Israel de forma coordenada com Teerã e com o grupo libanês Hezbollah.

 

Segundo o líder dos iemenitas, Abdul Malik al-Houthi, sua organização vai trabalhar conjuntamente em “qualquer operação do Eixo da Resistência”. O termo é usado pela teocracia iraniana para definir seus aliados regionais contra o Estado judeu e os Estados Unidos.

Desde que o Hamas, grupo terrorista que integra o eixo bancado pelo Irã, atacou Israel em outubro passado e desencadeou a guerra na Faixa de Gaza, os houthis se sobressaem como inesperados aliados dos palestinos.

Atacaram diretamente Israel com drones e mísseis, e iniciaram uma campanha que cortou pela metade o tráfego comercial no mar Vermelho, elevando custo de transporte de cargas que passavam pela região indo e vindo da Europa.

A ação levou à criação de uma força-tarefa liderada pelos EUA, que conta com até seis destróieres, e levou a ataques diretos contra a porção que o grupo controla no Iêmen desde o início da guerra civil no país árabe, em 2014.

O mais duro dos bombardeios foi feito há duas semanas por Israel, obliterando o porto de Hodeidah. Mas a ação conjunta proposta pelos houthis tem outra motivação: os assassinatos do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, e do comandante do Hezbollah Fuad Shukr, ocorridos no espaço de algumas horas na semana passada.

Enquanto Shukr foi alvejado por Israel, num ataque assumido em Beirute, o governo de Binyamin Netanyahu não assumiu diretamente a morte de Haniyeh, que dormia como convidado de honra da posse do novo presidente iraniano, em Teerã. Mas seu envolvimento, de uma forma ou de outra, é visto como óbvio.

Desde essas mortes, tanto Hezbollah quanto o Irã prometem diariamente retaliação contra Israel, e dão sinais de preparação militar para tanto. Mas surgem sinais de que há descompasso no processo decisório dos dois principais atores do lado anti-Israel do enredo.

Na quarta (7), o Hezbollah afirmou que irá vingar a morte de Shukr de qualquer forma, sozinho ou acompanhado. A posição foi vista como um recado à demora de Teerã em decidir o tamanho da reação contra Tel Aviv, e mesmo rusgas abertas foram relatadas em uma reportagem da rede americana CNN.

O problema para os aiatolás é a proporcionalidade de sua retaliação. O principal risco é de uma guerra regional incontrolável, em um momento de fragilidade política do regime, que perdeu o virtual sucessor de seu líder supremo quando o presidente Ebrahim Raisi morreu num acidente de helicóptero.

Seu sucessor, Masoud Pezeskhkian, é um moderado que defendeu na campanha acomodação com os EUA, sinalizando o desagrado do eleitorado com o regime. Além disso, há problemas políticos e econômicos domésticos que só seriam exacerbados num conflito amplo, que provavelmente tragaria os americanos.

Por outro lado, a linha-dura pode ver numa guerra dessas um fator de união nacional, fortalecendo o regime. Ainda assim, mesmo uma resposta mais comedida pode levar a uma tréplica israelense focada no programa nuclear, colocando em risco a principal carta que Teerã tem em negociações: a possibilidade de ter a bomba atômica.

Seja qual for o desfecho da situação, os EUA já abandonaram a visão de que o ataque retaliatório era iminente, vigente no começo da semana. Pelo sim, pelo não, diversas empresas aéreas desviaram suas rotas do espaço aéreo do Irã, de resto já com um sobreaviso sobre atividades militares.

Se os houthis de fato entrarem num ataque, abririam a terceira frente para Israel e seus aliados se defenderem. O grupo, bastante desconhecido até essa crise, tem um poderoso arsenal de mísseis e drones de origem iraniana, e já afundou navios mercantes no mar Vermelho.

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