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(FOLHAPRESS) – Uma capa dourada com relevos que parecem pepitas de ouro, um terno acompanhado de camisa e colete no mesmo tom de rosa berrante, um smoking branco que expele dois longos recortes de tecido, lambendo o tapete vermelho.
Estes são alguns dos looks usados por Colman Domingo desde que despontou em Hollywood. Dono de um dos guarda-roupas mais ousados e glamorosos em anos recentes, é difícil imaginar o ator em vestes que não sejam, para dizer o mínimo, extravagantes.
Foi com sobriedade, porém, que ele chegou à corrida pelo Oscar de melhor ator deste ano. No drama “Sing Sing”, que estreia nesta semana nos cinemas brasileiros, Domingo não apenas entrega uma atuação contida, como também serve looks comedidos.
Ele passa boa parte do longa de calça e camisa verdes, em cortes quadrados. Vez ou outra, os cobre com um grande moletom roxo, que não favorece o peitoral musculoso, como costuma ser o caso. É que “Sing Sing” é todo ambientado num presídio, capturado por uma fotografia acinzentada, quase triste.
“Enquanto ator, eu não sou muito vaidoso. Eu não me importo de mudar fisicamente, de não estar atraente. Topo qualquer coisa que faça sentido para o personagem, porque a maneira como você aparenta ajuda a contar a história do filme”, diz Domingo.
“Da mesma forma, no lado pessoal, eu sempre gostei de me vestir de um jeito que contasse uma história. Eu gosto de parecer estiloso, divertido, sofisticado -como se eu fosse a festa completa. Eu sou assim, então estou amando poder brincar com a moda ultimamente.”
Seus truques vão muito além de paletós cintilantes e gravatas bufantes, porém. Domingo passou a ser coberto, além das roupas de grife, por elogios a partir de “Euphoria”, série sensação da HBO que lhe rendeu um Emmy de melhor ator convidado, há três anos.
Antes, havia integrado o elenco da série derivada “Fear The Walking Dead” e, depois, começou a receber convites para papéis maiores. Contracenou com Viola Davis e Chadwick Boseman em “A Voz Suprema do Blues” e, na sequência, estrelou a comédia da A24 “Zola”, que lhe garantiu uma indicação ao Spirit, prêmio de cinema independente.
No ano passado, enfim, sagrou-se um dos nomes mais badalados de Hollywood ao figurar na lista de indicados ao Oscar de melhor ator por “Rustin”, biografia do ativista negro e gay Bayard Rustin, nome vital da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos.
Agora, com a nova indicação ao prêmio, Domingo entrou para o seleto rol de atores que apareceram na categoria por dois anos seguidos, povoado por membros da nata de Hollywood, como Denzel Washington, Tom Hanks e James Dean.
Ele não deve levar o prêmio, que provavelmente ficará com Adrien Brody, de “O Brutalista”, ou Ralph Fiennes, de “Conclave”, segundo as principais casas de apostas americanas. Timothée Chalamet, de “Um Completo Desconhecido”, e Sebastian Stan, de “O Aprendiz”, completam a lista. “Sing Sing” também está indicado em roteiro adaptado e canção original.
Chegar à corrida, porém, já é um feito tremendo para um filme tão modesto. Dirigido por Greg Kwedar com um orçamento de não mais que US$ 2 milhões, cerca de R$ 11,6 milhões, o drama é baseado na história real do Rehabilitation Through the Arts, que reabilita presos por meio do teatro, e tem ex-presidiários que passaram pelo programa em seu elenco.
Por entre as gélidas barras de metal que cerceiam a liberdade daqueles homens, tragédias gregas e shakespearianas tomam forma, mostrando o poder transformador da arte, algo que Domingo diz conhecer bem.
“A arte enquanto caminho para a mudança é o clichê mais verdadeiro de todos”, afirma o ator, indicado também ao Bafta, ao Critics Choice, ao Globo de Ouro, ao SAG, ao Satellite e ao Spirit pelo papel de um homem preso injustamente. No Gotham, outro prestigioso prêmio voltado ao cinema independente, Domingo arrematou o troféu de melhor ator pelo trabalho.
“Uma das grandes certezas que tenho é que a arte tem o poder de curar e transformar. A arte salvou a minha vida, o teatro salvou a minha vida, como é o caso dos personagens de ‘Sing Sing’. A arte te mostra o que você pode ser, te dá uma voz quando você se sente silenciado. Eu acredito nisso do fundo do meu coração.”
Domingo cresceu num lar humilde da Filadélfia, Pensilvânia. Foi abandonado pelo pai, um imigrante de Belize, aos nove anos, mas criado com amor pela mãe, uma dona de casa, e o padrasto, que trabalhava renovando pisos. Ao se assumir gay, aos 21 anos, foi abraçado pela família, que o incentivou a buscar carreira como ator, apesar da graduação em jornalismo.
Hoje aos 55 anos e com duas indicações ao Oscar, Domingo vê o caminho que percorreu como longo e sinuoso. Foram várias pontas em filmes e séries que, mesmo expressivos, falharam em projetar seu nome como o de alguém pronto a assumir protagonismo.
Por volta dos 40 anos, pensou em desistir da carreira, tamanha a rejeição sofrida nas várias audições que fazia -às vezes, porque sua pele era considerada escura demais por produtores, ele contou ao IndieWire recentemente. Sem poder ser apenas ator, passou a escrever, dirigir e produzir e, por quase uma década, morou num enorme prédio em Nova York subsidiado pelo governo federal e voltado a artistas de baixa renda.
Mas se os rolos de filme não lhe davam espaço suficiente, as cortinas do teatro se abriram para o talento de Domingo, que brilhou em montagens premiadas da Broadway como “Passing Strange”, “Chicago” e “The Scottsboro Boys”, que lhe rendeu indicações ao Tony e ao Olivier, em sua versão londrina.
Quando foi escalado para viver o vilânico Victor Strand no hit “Fear the Walking Dead”, a indústria enfim reparou em Domingo, um sopro de frescor numa franquia televisiva já moribunda.
“A coisa mais bonita deste momento que estou vivendo é não precisar mais fazer audições”, diz o ator com um largo sorriso no rosto, aliviado. Agora, o trabalho chega por meio de convites -com alguns dos nomes mais importantes da indústria como remetentes.
Sob o comando dos irmãos Russo, dupla responsável pelas gordas bilheterias dos Vingadores na Marvel, vai aparecer em “The Electric State”. A Antoine Fuqua, se juntou para viver o pai de Michael Jackson na aguardada biografia do rei do pop. Além dos filmes, aparece ainda este ano em “As Quatro Estações”, série da Netflix com criação de Tina Fey.
Steven Spielberg, Gus Van Sant e Edgar Wright são outros que recebem Domingo em sets de filmagem a partir deste ano. E, assim que tiver tempo, o americano espera escrever, dirigir, produzir e estrelar uma cinebiografia de Nat King Cole.
Depois de três décadas, os tapetes estão todos, enfim, estendidos a Colman Domingo.
SING SING
– Quando Estreia nesta quinta (13), nos cinemas
– Classificação 14 anos
– Elenco Colman Domingo, Clarence Maclin e Paul Raci
– Produção EUA, 2024
– Direção Greg Kwedar
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