IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRES) – A Força Aérea da Rússia começou a usar sua maior bomba de queda livre, transformada em um modelo planador com um kit de guiagem para armas “burras”, contra alvos na Guerra da Ucrânia.
Um vídeo divulgado no mês passado pelo Ministério da Defesa do país de Vladimir Putin mostrou uma superbomba FAB-3000, maior modelo aéreo não nuclear do arsenal regular russo, sendo carregada em um avião de ataque Su-34 em ação no norte da Ucrânia.
O local e a data exatos da ação não foram divulgados, mas ela foi bem documentada: é possível ver o carregamento do armamento, seu lançamento filmado por outro avião, as asas de seu kit abrindo e ela em voo, até atingir o solo de forma avassaladora.
A FAB-3000 pesa 3 toneladas, 1.000 kg a mais do que um SUV grande. Dessa massa, 1.387 kg são de altos explosivos. É um antigo modelo soviético que remonta aos anos 1950, e do qual a Rússia dispõe de amplos estoques.
Os russos ainda têm um modelo termobárico, cuja explosão suga o oxigênio na região atingida e maximiza seu efeito, conhecido como Pai de Todas as Bombas. Ela carrega 7 toneladas de explosivos, mas só foi testada, nunca empregada em combate.
Os russos já vinham usando, com efeito devastador, bombas de menor potência da mesma forma. Os modelos FAB-500, de 500 kg (300 kg explosivos), começaram a ser empregados em toda a frente de batalha já no ano passado, provocando pesadas perdas aos ucranianos.
Em 2024, o recurso às armas aumentou. Nos três últimos meses, Kiev disse que em média 3.500 dessas armas guiadas foram jogadas em seu território a cada 30 dias. Segundo o presidente Volodimir Zelenski, essas bombas planadoras têm permitido os lentos avanços do Kremlin neste ano.
Para combatê-las, ou melhor, os aviões que as lançam, ele pediu ao Ocidente até 25 sistemas de defesa aérea americanos Patriot. Até aqui, recebeu 3 da Alemanha e 1, dos EUA, e ao menos 1 foi destruído em ataque russo.
Com a FAB-3000, ainda que e em escala reduzida, o jogo é outro. Segundo pilotos russos, ela tem uma acurácia razoável de talvez 10 a 30 metros, compensada por seu alto poder destrutivo: se cair um pouco fora do alvo, tanto faz.
Ela, como suas irmãs menores, são bombas “burras”, desenhadas para serem lançadas em queda livre. Mas a adoção de uma gambiarra estreada pelos americanos nos anos 1990: um kit que faz a bomba girar no próprio eixo, abrir asas e, guiada pelo Glonass, o GPS de Moscou, ir até seu alvo.
Com isso, o avião fica mais protegido de defesas antiaéreas: em vez de voar até o alvo, a lança a muitos quilômetros. No caso das FAB-500, até 70 km, enquanto nas FAB-300 o alcance é um pouco menor devido a seu peso. A bomba maior também teve adaptado um sistema aerodinâmico mais robusto do que o das menores.
Isso é particularmente importante no caso dos Su-34, um dos modelos mais preciosos do arsenal de Putin, que vinha sofrendo pesadas baixas no conflito.
Seja como for, isso custa uma fração de um míssil de precisão. As bombas sobram em estoques e são produtos que não requerem muita tecnologia para produzir. Os kits, cerca de R$ 100 mil cada um. Quando comparados aos R$ 5 milhões estimados para um míssil de cruzeiro Kalibr, que carrega 500 kg de explosivos, a conta fecha.