Precisei provar que não era IA, diz brasileiro que viralizou no America’s Got Talent

(FOLHAPRESS) – “Olá, humanos”, diz Maykon Replay na legenda de um de seus vídeos na internet. Na performance de pouco mais de um minuto, ele imita com perfeição os movimentos mecânicos de um robô. As curtidas chegam à casa dos 200 mil e os comentários incluem elogios como: “Esse cara não é desse planeta” ou dúvidas do tipo: “Que aplicativo faz isso?”

 

A estranheza que os movimentos de Maykon provocam no espectador é tanta que o dançarino precisou provar aos produtores do America’s Got Talent, o mais famoso show de calouros da TV americana, que é um ser humano real. Ele afirma que não usa nenhum tipo de inteligência artificial ou recurso tecnológico para fazer os vídeos. É consciência corporal pura, garante.

Nascido na zona leste da capital paulista há 29 anos, Maykon desenvolveu seu talento sozinho. Fã das comédias de Jim Carrey dos anos 1990, passava horas em frente ao espelho praticando as caretas, trejeitos e mímicas do astro.

Na adolescência, fazia sucesso nas festinhas da escola com passos de dança executados à perfeição. Aos poucos aprimorou suas habilidades até adquirir um controle tão potente da musculatura que, em pleno 2024, fica mesmo difícil acreditar que não há uso de IA.

Mas ele tem seu atestado de garantia: os shows ao vivo. Maykon faz parte do grupo Open Farra, que se apresenta em rodeios e festas universitárias no interior paulista e mato-grossense. Nos shows, dois DJs tocam um repertório que mistura funk, sertanejo e eletrônico enquanto personagens como a Múmia Maluca, o Cavalo Pocotó e ele, Maykon Replay, divertem o público.

“Já nos apresentamos até fora do país, no Paraguai”, conta, orgulhoso. “Quem duvida dos meus vídeos, quando me vê ao vivo fica em choque”, conta Maykon ao F5. Antes de alcançar a fama na internet, ele se apresentava aos domingos na avenida Paulista para complementar a renda que ganhava como estoquista de supermercado.

“Tinha dia que chovia e eu voltava para casa sem nada. Mas tinha dia que formava uma multidão ao meu redor”, lembra. Mas os tempos de avenida Paulista ficaram na memória. Hoje, ele consegue viver de eventos e “publis” na internet.

DANÇA DO ROBÔ

Maykon diz que está sempre buscando referências para aprimorar sua performance. Munido do vasto conteúdo do YouTube, bebeu em fontes como o Soul Train, programa da TV americana que surgiu em 1971 e apresentou ao público a “robot dance”. Entre os grandes intérpretes do gênero estão Michael Jackson em “Dancing Machine” e os Electric Boogaloos.

“A dança do robô é baseada em uma precisão de movimentos que cria um efeito ilusionista”, explica.

O segredo, afirma, é isolar os passos, ativando uma parte do corpo de cada vez. “Também uso elementos de mímica e técnicas como slow motion”, descreve. “Vou colocando novos efeitos para tornar minha dança cada vez mais impressionante para as pessoas.”

Suas referências de coreografia e interpretação incluem ainda Usher, Chris Brown, Mr. Bean, Jerry Lewis e os Mamonas Assassinas. Também é impossível não associar as expressões faciais de Maykon aos NPCs, personagens não-jogáveis de videogames.

Os gestos repetitivos, combinados aos trejeitos de olhos e boca, causam no espectador a sensação de “uncanny valley” –termo usado para descrever uma certa aflição provocada por personagens humanoides em jogos ou animações gráficas.

Há três meses, ele realizou o sonho de pisar no palco do America’s Got Talent. Com ajuda dos fãs, conseguiu chamar a atenção de Terry Crews e embarcou para os EUA –não sem antes provar para os gringos por videochamada que é mesmo capaz de dançar assim. “Tive que mostrar ao vivo para eles acreditarem”, conta.

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