Policial é preso em ação da PF contra esquema de propina e rifas ilegais

A Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), da Polícia Federal, deflagrou nesta quinta, 12, a Operação Latus Actio II, que prendeu um investigador, fez buscas na casas de um delegado e de outro investigador da Polícia Civil e atingiu artistas e influenciadores digitais – entre eles os MCs Brisola, GHdo 7 e Paiva. A ação aumenta a crise na Segurança Pública de São Paulo, já sacudida por denúncias de violência policial envolvendo PMs e achaques feitos por policiais civis contra integrantes do Primeiro Comando da Capital.

 

 

De acordo com as provas recolhidas pelos federais, os MCs teriam pagado propinas de R$ 20 mil a R$ 100 mil a policiais civis em troca de vista grossa às rifas ilegais que eles promoviam nas redes sociais. Atualmente, a realização de rifas é proibida pelo Ministério da Fazenda, por se tratar de jogo ilegal – só o sorteio de entidades beneficentes foi autorizado pela Lei 5.768/1971. Os policiais também enviavam relatórios de investigação confidenciais para proteger os criminosos, a fim de os pressionar para obter dinheiro. O Estadão não conseguiu contato até as 20h de ontem com as defesas de policiais e MCs citados no inquérito da PF. Tanto a Secretaria da Segurança Pública quanto a Polícia Civil disseram que acompanham o desenrolar das investigações.

 

O investigador Rodrigo Barros de Camargo, o Rato, do 6.º Distrito Policial de Santo André, na Grande São Paulo, teve a prisão decretada pelo suposto recebimento de propina para “evitar ou interromper investigações relacionadas às rifas ilegais promovidas por artistas da Love Funk”. Ele foi o alvo principal da Operação Latus Actio II. A nova ofensiva apura a ligação de artistas e empresários de funkeiros com a lavagem de dinheiro do PCC, sonegação de impostos, loterias ilegais e ocultação de patrimônio via compra de carros de luxo, fazendas, adegas e barras de ouro.

 

De acordo com a Promotoria, Rato seria a peça central da “rede criminosa que demonstrou estrutura organizada, com divisão de tarefas, uso de empresas para movimentação de recursos e articulação entre empresários, artistas e agentes públicos, evidenciando a prática de corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e exploração de jogos de azar”. Ele foi preso ontem.

 

Quatro promotores subscrevem manifestação do Ministério Público apoiando os pedidos da PF na Operação Latus Actio II – Juliano Carvalho Atoji, Carlos Bruno Gaya da Costa, Fábio Ramazzini Bechara e Eduardo A. Velloso Roos Neto. Eles são integrantes do Gaeco, o Grupo de Combate ao Crime Organizado. O documento aponta indícios de envolvimento de outro policial, Adriano Fernandes Bezerra, o Espanhol, parceiro de Rato no 6.º DP de Santo André.

 

Mensagens

 

Segundo os promotores, os dois policiais foram mencionados em mensagens de WhatsApp como “articuladores da corrupção passiva para proteger os envolvidos nos crimes de contravenção penal e lavagem de dinheiro”. O delegado Alexandre Custódio Neto, diretor da FICCO, obteve ainda na Justiça o afastamento da função pública de Rato e dos outros dois policiais investigados: Espanhol e o delegado Gilmar Camargo Bessa, que os chefiava.

 

Os diálogos que levaram à abertura da ofensiva foram recuperados durante a primeira fase da Operação Latus Actio, em março. Como mostrou o Estadão, no celular de um dos investigados – o empresário Vitor Hugo dos Santos -, foram achados registros de pagamentos de propinas a policiais. Em uma ocasião, Vitor Hugo escreveu. “Então, eles queriam 1 milhão e meio, já baixamos para 800, depois foi para 500 e agora eu falei para eles que vão mandar um café lá para eles 50 mil.” Em outra, um MC indicou qual o porcentual das rifas que seria encaminhado aos investigadores sob suspeita. “Polícia eu pago 7%, porém eu fechei 150 mil.”

 

Rato e Espanhol foram alvo de diligências da Polícia Federal. A PF também vasculhou endereços ligados ao delegado Gilmar Camargo Bessa, titular do 6.º DP de Santo André. Segundo o inquérito, o nome de Bessa aparece em documentos identificados ao longo da investigação, “levantando a hipótese de conhecimento ou participação nos atos ilícitos”. Os diálogos que respingam em Bessa foram mantidos entre Victor Hugo e MC Brisola. Na conversa, este último fala sobre um suposto pagamento de propina de R$ 20 mil para policiais civis de Santo André.

 

No diálogo, o MC manda para o empresário uma foto do relatório da polícia sobre um caso: a rifa de uma Fiat Toro Branca via Instagram do influenciador. O empresário então questionou “o que queriam” os policiais. O MC responde: “200 mil reais”. Ele emendou que não pagou o valor total. “Vou pagar 10%.” O diálogo ocorreu em novembro de 2023.

 

MC

 

A operação também mira três MCs: Brisola (Silas Rodrigues Santos), Paiva (Davi José Xavier Paiva) e MC GHdo7 (Gustavo Henrique Ramos Toledo). A Promotoria aponta que, ao passo de usar sua influência para turbinar as rifas ilegais e atrair participantes, Silas direcionava parte dos recursos do jogo de azar para “finalidades ilícitas”, incluindo propinas a policiais para garantir a “continuidade de suas atividades criminosas”.

 

MC Paiva teria sido beneficiado por “negociações ilícitas nas quais propinas foram pagas a policiais civis para evitar ou interromper as investigações em curso”. GH do 7 seria uma “das figuras centrais nas práticas ilegais relacionadas ao esquema” de rifas ilegais. Segundo o Ministério Público, seu advogado passou a negociar com o investigador Rato com vistas a barrar as investigações sobre as rifas ilegais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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