Perto da aposentadoria, Nadal vai de bicho-papão a zebra em ‘última dança’ em Roland Garros

Acostumado a ser “bicho-papão” em Roland Garros, Rafael Nadal viverá situação inusitada a partir deste domingo, em Paris. O tenista espanhol, maior campeão da história do torneio francês, será candidato a zebra devido uma série de problemas físicos que o afastaram da maior parte do circuito nos últimos dois anos. Com as fragilidades físicas e técnicas do ex-número 1 do mundo, a edição de Roland Garros deste ano, às vésperas da Olimpíada, também será incomum pela ausência de um grande favorito no masculino e pela presença maciça de brasileiros nas duas chaves principais.

Pela primeira vez em sua carreira, Nadal entrará em Roland Garros sem status de cabeça de chave. Ele é apenas o atual 276º do mundo e só conseguiu entrar na chave com o recurso do “ranking protegido”, recurso criado pela ATP para ajudar tenistas que sofreram graves lesões no circuito.

A posição no ranking destoa fortemente do currículo do espanhol, que ganhou 14 dos seus 22 títulos de Grand Slam em Paris. O número ganha ainda mais força se levar em consideração que ele foi campeão em 14 das 18 participações que fez em Roland Garros. Não há nada comparável com este número na história dos torneios deste nível. Foi em Paris que ele alcançou o status de maior jogador de saibro da história.

O Rei de Roland Garros, contudo, viu sua imagem de imbatível desaparecer aos poucos nos últimos meses, em razão de suas limitações físicas. Acostumado a enfrentar problemas físicos ao longo de sua carreira, Nadal viu as dificuldades crescerem de vez no ano passado, quando um problema no quadril encerrou sua temporada, ainda no mês de janeiro.

Depois de um ano afastado, ele voltou ao circuito em janeiro deste ano, longe de convencer. Logo novos problemas físicos apareceram. No total, ele soma seis torneios disputados em dois anos. O tenista, que completará 38 anos no dia 3 de junho, não demorou para adotar um tom de despedida.

“Provavelmente, quando as pessoas começarem a perceber que não haverá muitas chances de me ver jogar novamente, provavelmente se sentirão um pouco mais emocionadas, mais tristes, porque de alguma forma é o fim de uma era importante na história do tênis”, disse Nadal, no início do mês.

Ele já avisou que deve deixar o circuito nesta temporada, sem apontar datas ou torneios de despedida. Como já confirmou sua presença na Laver Cup, em setembro, é improvável que o espanhol anuncie sua aposentadoria em Roland Garros. Há a possibilidade ainda de receber convite para competir na Olimpíada de Paris-2024 – o tênis terá justamente Roland Garros como sede. Não seria estranho se Nadal repetisse o amigo Roger Federer e fizesse seu último jogo da carreira na Laver Cup, torneio por equipes, em clima festivo.

Em Roland Garros, Nadal corre sério risco de se despedir logo na primeira rodada, o que seria histórico. Ele só saiu do torneio na primeira semana uma única vez, em 2016, ao desistir após vencer na segunda rodada, também por problemas físicos. Desta vez, o perigo mora na primeira rodada e tem nome famoso: Alexander Zverev. Pelo sorteio, o espanhol enfrentará logo de cara o atual número quatro do mundo, campeão do Masters 1000 de Roma há menos de 10 dias.

FALTA DA FAVORITOS

Mas não é só o momento difícil de Nadal que torna Roland Garros algo imprevisível neste ano. Os demais candidatos ao título parecem estar em condições físicas quase tão complicadas quanto o espanhol. O sérvio Novak Djokovic ainda não disputou uma final sequer neste ano e vem acumulando derrotas para adversários inexpressivos nas últimas semanas.

O italiano Jannik Sinner, campeão do Aberto da Austrália, e o espanhol Carlos Alcaraz, campeão de Wimbledon, também jogando aquém do esperado em razão de limitações físicas. O russo Andrey Rublev e o grego Stefanos Tsitsipas, campeões em Montecarlo e Madri, nas últimas semanas, não convenceram depois das conquistas recentes.

Por tudo isso, Roland Garros apresenta pela primeira vez em quase 20 anos – Nadal iniciou seu domínio em 2005 – um cenário favorável a surpresas na chave masculina. No feminino, a situação é oposta, com a polonesa Iga Swiatek forte candidata a manter sua hegemonia recente. A tricampeã de Roland Garros e atual número 1 do mundo vem de dois títulos consecutivos em Paris e não vem encontrando adversárias à altura no saibro.

BRASILEIROS

A edição deste ano de Roland Garros já se tornou histórica para o Brasil antes mesmo do início da chave principal. Entre simples e duplas, o País deve registrar um dos maiores números de participantes nas últimas décadas, com até 11 tenistas em ação. O número elevado é resultado do grande rendimento dos brasileiros no qualifying.

Os quatro que entraram conseguiram a vaga nas chaves masculina e feminina: Thiago Monteiro, Felipe Meligeni, Gustavo Heide e Laura Pigossi. Assim, se juntaram a Beatriz Haddad Maia e Thiago Wild, garantidos antecipadamente pelo ranking.

O feito fez o Brasil encerrar um tabu de 36 anos. Desde 1988, o País não emplacava tantos tenistas nas chaves de simples de um Grand Slam. Historicamente, o torneio francês é o favorito dos brasileiros, com as maiores marcas de participação. Somente no masculino, trata-se do maior número de participantes desde o US Open de 2011. No feminino, o Brasil não tinha duas tenistas desde Roland Garros de 1990.

A lista de tenistas nacionais em Paris, neste ano, aumenta com a presença dos duplistas: Luisa Stefani, Ingrid Martins, Marcelo Melo, Rafael Matos e Fernando Romboli.

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