SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil de São Paulo instaurou um novo inquérito na segunda-feira (1º) para apurar suspeita de fraude processual envolvendo familiares do empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, 24, que dirigia um Porsche em alta velocidade que causou o acidente que matou o motorista de aplicativo Ornaldo Silva Viana, 52, no dia 31 de março.
“O 30° Distrito Policial (Tatuapé), em cumprimento à requisição judicial, instaurou um inquérito, na segunda-feira (1º), para apurar crime de fraude processual envolvendo familiares do indiciado. Diligências estão em andamento para esclarecer os fatos”, confirmou a SSP (Secretaria da Segurança Pública) em nota.
A Folha de S.Paulo teve acesso ao ofício do TJSP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo) determinando a instauração do inquérito. De acordo com o documento, a hipótese do crime de fraude processual foi levantada a partir do depoimento de uma das testemunhas ouvidas em audiência realizada no dia 28 de junho, que afirmou que, após a colisão, familiares de Sastre Filho teriam retirado garrafas de dentro do veículo dele.
A reportagem fez ligações na manhã desta quarta-feira (3) para o escritório dos advogados Elizeu Neto e Jonas Marzagão, que defendem Sastre Filho, mas não houve resposta. Mensagens foram enviadas nas redes sociais dos dois defensores, mas não foram respondidas até a publicação deste texto.
Sastre Filho está preso preventivamente (sem prazo) em Tremembé, no interior de São Paulo, enquanto aguarda o julgamento do caso. Ele é réu sob acusação de homicídio doloso qualificado e lesão corporal gravíssima.
O Ministério Público afirma que Daniela Cristina de Medeiros Andrade, mãe do empresário, tentou atrapalhar as investigações. De acordo com a Polícia Civil, o condutor do Porsche foi levado do local do acidente no carro da mãe sob a alegação de que seria atendido no hospital São Luiz. Com isso, os policiais militares que atenderam a ocorrência não aplicaram o teste do bafômetro.
Ao chegarem à unidade Anália Franco do hospital, os PMs foram informados de que o condutor não havia dado entrada no pronto-socorro, nem em qualquer outro endereço da rede hospitalar. Os policiais disseram que então tentaram contato por telefone com a mãe e o investigado, que não atenderam as ligações.
Ele só se apresentou à Polícia Civil mais de 30 horas após a batida “a fim de afastar indícios de embriaguez”, segundo parecer da promotora Monique Ratton, da 6ª Promotoria de Justiça da Primeira Vara do Júri da Capital.
No dia do acidente, ele saiu com a namorada e um casal de amigos, Juliana Simões e Marcus Vinicíus. Eles estiveram em um bar, no qual consumiram R$ 620 e, em seguida, em uma casa de pôquer, na qual Fernando ganhou R$ 1.000 e consumiu R$ 400.
No primeiro estabelecimento, eles compraram oito drinques chamado Jack Pork -feito com uísque, licor, angostura e xarope de limão siciliano-, além de uma caipirinha de vodca.
Também foram consumidos água, um torresmo, um bolinho de costela, um hambúrguer e outros dois salgados.
Em seu depoimento à polícia, Sastre Filho afirmou não ter consumido bebida alcoólica antes do acidente e disse estar um pouco acima da velocidade permitida na avenida quando bateu. Imagens da câmera de segurança de um posto de gasolina próximo ao local do acidente mostram o carro de luxo trafegando muito acima da velocidade de outros veículos.
Advogado de Juliana e de Marcus Vinícius, José Roberto Soares Lourenço afirmou que seus clientes assumiram o compromisso de colaborar com a Justiça desde o início da investigação.
“Por esse motivo, foram entregues ao Ministério Público do Estado de São Paulo mídias virtuais que dizem respeito à data do ocorrido”, diz. Em depoimento, Juliana e Marcus afirmaram que Fernando bebeu na noite do acidente.
Juliana afirmou que o amigo foi aconselhado a não dirigir por estar um pouco alterado.
Já a namorada do dono do Porsche disse em depoimento que ele não bebeu. Ela afirmou que os dois estão junhos há oito anos e que têm um combinado de que quando um bebe o outro não consome bebida alcoólica.