SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma delegação não oficial americana chegou a Taipé no domingo (14), segundo a imprensa local, gerando expectativa de uma eventual reação de Pequim. Em mídia social chinesa, tem havido pressão por uma resposta mais forte do país à eleição para presidente de Lai Ching-te, contrário à reunificação de Taiwan com a China.
“Assim como fizemos antes, o governo dos Estados Unidos pediu a ex-altos funcionários que viajassem em caráter privado, para transmitir as felicitações do povo americano pelas eleições e o nosso interesse na paz e estabilidade no estreito de Taiwan”, registrou em nota a representação de Washington na ilha.
O ex-assessor de Segurança Nacional Stephen Hadley, ao chegar ao aeroporto da capital taiwanesa às 20h (horário de Taipé), evitou dar declarações. O ex-vice secretário de Estado James Steinberg, vindo de Singapura, chegaria mais tarde. Ambos têm reuniões marcadas para esta segunda com autoridades, possivelmente com Lai.
Quando a informação da viagem vazou, dois dias antes da votação de sábado, a porta-voz do Ministério do Exterior chinês, Hua Chunying, criticou em mídia social “algumas autoridades dos EUA” por essa “falha em honrar compromissos com o governo chinês” e por “distorcer o princípio de uma China”.
Hua questionou no domingo, após a eleição, a mensagem enviada a Taipé pelo Departamento de Estado americano, também de congratulação. “Os EUA precisam interromper as interações de natureza oficial com Taiwan”, afirmou. De qualquer maneira, as críticas chinesas têm sido vistas como moderadas, até aqui.
A exceção foi o porta-voz do Ministério da Defesa, Zhang Xiaogang, que na véspera da votação afirmou que “o Exército de Libertação do Povo Chinês permanece em alerta máximo e tomará todas as medidas necessárias para esmagar qualquer plano separatista”. O ministério ainda não se pronunciou, pós-eleição.
Nas redes sociais do país, parte dos comentários sobre a eleição estão sendo mais incisivos, com usuários defendendo rever a estratégia, diante da recusa crescente à reunificação. De maneira geral, houve contrariedade com o resultado, em que pese a votação dividida, que indica menos poder para o partido de Lai.
No WeChat, sob o enunciado “Ele agora está no poder, mas o que ele pode realmente fazer?”, o influente perfil chinês Youlieryoumian, voltado para geopolítica, escreveu: “Nós não podemos, nem iremos, confiar o futuro de Taiwan ao vencedor de uma única eleição”.
No Weibo, Hu Xijin, ex-editor-chefe e hoje colunista do Global Times, de Pequim, escreveu que “a reunificação militar é uma decisão de importância fundamental, e todos podemos falar nossas opiniões e dar ideias, mas essa questão não deve ser decidida no campo da opinião pública da internet, através da pressão”.
“Não apoio o uso imediato ou precoce da força, como se somente esse apoio fosse patriótico”, acrescentou, sobre a pressão online. “Apoiemos o Exército de Libertação Popular e seus preparativos para para uma luta militar no estreito de Taiwan, mantendo simultaneamente uma atitude coletiva firme e calma.”
Na plataforma americana Substack, Wang Xiangwei, ex-editor-chefe e hoje colunista do South China Morning Post, buscou se contrapor aos “fogos de artifício retóricos”, projetando conflito, que já começaram e devem ir até a posse, em maio. “Na realidade, Pequim e Washington devem manter sua calma”, escreveu.
Ele acredita que no curto prazo a China vai continuar com ações de pressão sobre o governo da ilha, mas o que importa de fato é a postura dos EUA –e o único comentário expresso por Joe Biden sobre a eleição em Taiwan foi de que não apoia a independência, o que, segundo Wang, “é tranquilizador aos ouvidos das autoridades chinesas”.