No mês de Conscientização Internacional da Luta contra a AIDS, é importante destacar o quanto o Brasil, e o mundo, já avançou em relação a doença. Medicação moderna e sem efeitos colaterais, expectativa de vida igual – ou até superior – a de pessoas não infectadas, tratamento todo oferecido pelo SUS, medicamentos antirretrovirais para não infectados, entre outras evoluções. Apesar de todos esses avanços ainda existem muitos tabus e preconceito envolvendo o tema.
Segundo o Dr. Evaldo Stanislau Affonso de Araújo, Embaixador da Inspirali, principal ecossistema de educação médica do país, isso acontece porque muitos ainda acreditam que a infecção pelo HIV é uma sentença de morte e, sendo assim, passam a temer estarem infectados. “O preconceito é complexo. As pessoas associam que quem se infectou o fez porque teve algum tipo de comportamento moralmente condenável. E isso é uma falta de conhecimento porque a infecção pode ocorrer com qualquer um que não tenha adotado uma prática sexual, não importa de que tipo, que o torne vulnerável à infecção. Em relação ao sexo e HIV temos conhecimento e mecanismos de prevenção que permitem que as pessoas exerçam a sua sexualidade de forma plena e segura. Tudo que seja legal e consentido pode ser realizado desde que com informação e proteção”, destaca o médico.
A informação e educação é a melhor forma de prevenção. Dr Evaldo explica que se investirmos na prevenção combinada e educação continuada de forma consistente será possível cumprir os planos da OMS de que HIV-Aids deixe de ser um problema de saúde pública até 2030. “Informar, educar e dar acesso pleno aos testes e demais mecanismos de prevenção é o caminho correto. Viver sem HIV é melhor, mas se a infecção ocorreu é possível ter vida boa, saudável e plena”, complementa o médico.
Para contribuir com a disseminação de informação positiva e correta, Dr Evaldo responde dúvidas e conta curiosidades importantes sobre o tema. Confira:
Como o HIV atinge o sistema imunológico?
R: O HIV realiza o seu processo de multiplicação destruindo as células imunes, em especial os linfócitos. Quando a destruição se torna maior que a capacidade de reposição gradualmente o paciente perde a sua imunidade e começa a apresentar infecções e outras manifestações, como alguns tipos de câncer.
Como o vírus pode ser transmitido?
R: Por meio de fluídos corpóreos produzidos na relação sexual, por sangue e derivados contaminados e das mulheres grávidas para seus filhos durante a gestação ou após o parto. Mas é importante enfatizar que hoje sangue e derivados no Brasil utilizados por Bancos de Sangue e em terapias regularmente realizadas estão 100% seguros por meio dos testes utilizados e que gestantes e pessoas vivendo com HIV e que estejam sob terapia regular e com o vírus indetectável não transmitem o vírus.
Existem pessoas mais suscetíveis a contrair a doença
R: Todos estão susceptíveis à infecção, porém têm-se observado entre jovens um crescimento maior. Além disso homens que fazem sexo com homens, população trans, privados de liberdade e usuários de drogas com compartilhamento de utensílios para o consumo são pessoas mais vulneráveis. Importante enfatizar que utilizando medidas de prevenção adequadas o risco é controlado. Portanto o conceito de “grupo de risco” é inadequado. O que existe é a vulnerabilidade associada e uma exposição potencial sem medidas de proteção.
Quais os principais sintomas?
R: A infecção evoluí em geral assintomática. Por isso recomenda-se a testagem periódica como um meio de prevenção pois o diagnóstico precoce permite o tratamento e a preservação da saúde.
Como é feito o tratamento?
R: O tratamento deve ser iniciado o quanto antes após a confirmação diagnóstica. Atualmente é extremamente simples e seguro. Pode ser feito com a ingestão de apenas um ou dois comprimidos ao dia.
Existe tratamento pela rede pública de saúde?
R: No Brasil o tratamento é completamente gratuito e fornecido pelo SUS.
Quais os efeitos colaterais do tratamento?
R: Atualmente praticamente nenhum efeito colateral.
Uma vez infectada, a pessoa tomará remédio a vida toda
R: Até o momento, sim. Mas a terapia está avançando e já temos a possibilidade, por exemplo, da administração de uma injeção a cada 2 meses.
Já existe cura para a doença
R: Existem casos de cura. Mas como deu-se essas curas foi de forma excepcional e impraticável para ser feita em larga escala. Agora, o que podemos dizer entre aspas é que existe uma “cura clínica”, ou seja, quem se trata corretamente hoje tem uma expectativa de vida igual e, até maior, do que pessoas não infectadas pelo HIV.
Como evitar a doença
R: Por meio da prevenção combinada. A camisinha apenas tem se mostrado insuficiente. Embora muito eficaz, precisa ser utilizada corretamente. Infelizmente, os números comprovam que o uso é inconsistente. Por isso, o uso de medicamentos antirretrovirais por não infectados é muito importante. Se isso é feito antes de relações sexuais, é o que chamamos de profilaxia pré-exposição, do Inglês, PrEP.
Se o uso é feito após a relação, iniciando até 72 horas após uma exposição potencial, é a prevenção após a exposição, ou PEP. PrEP e PEP – e suas variáveis – mudaram a história da prevenção e estão disponíveis para quem precisar, em fornecedores privados ou gratuitamente no SUS. Realizar a testagem frequente também faz parte da prevenção pois o diagnóstico precoce significa iniciar a terapia e zerar a carga viral fazendo com essa pessoa deixe de ser um transmissor em potencial.
Quais os estágios da doença
R: O termo para uma pessoa que esteja infectada pelo HIV é pessoa vivendo com HIV. Se ela teve alguma condição que defina a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida então dizemos que ela tem Aids. Portanto são dois estágios.
Como é a fase aguda da infecção?
R: Fase aguda na maior parte das vezes passa despercebida, mas é um quadro clínico inespecífico de febre, mal-estar, aumento de gânglios, vermelhidão na pele, entre outros sinais, que pode ocorrer dias a semanas após a infecção inicial, resolvendo-se espontaneamente.
Quais os principais avanços científicos no combate à AIDS?
R: Tudo está em constante avanço. Mas os medicamentos mais simples, seguros e efetivos são o destaque. Servem para terapia e prevenção. E, agora, estão chegando os medicamentos de longa duração que permitirão uma dose a cada 8 semanas e, em breve, até mais. Viver com HIV atualmente deixou de ser uma sentença de morte e sinônimo de doença. Ao contrário, uma pessoa vivendo com HIV sob terapia e acompanhamento regular pode ter uma vida muito saudável e normal. Inclusive podendo ser pai ou mãe.
Quais as infecções mais perigosas para uma pessoa portadora do vírus HIV?
R: Uma série delas é de muito risco, mas, o lado bom é que a cada dia torna-se menos comum encontrarmos pacientes com esse tipo de complicação, graças ao diagnóstico e terapia precoces do HIV.
Quais os principais cuidados que um portador da doença precisa ter?
R: Ter um médico de confiança competente e tomar as medicações recomendadas.