GABRIEL VAQUER
ARACAJU, SE (FOLHAPRESS) – Quando Léo Jaime começou a conversa com a Folha, o cantor de 63 anos admitiu que estava preocupado em como seria a imagem que ele passaria para o público ao completar quatro décadas de carreira. “É muito tempo, muita coisa para contar”.
E de fato, Léo tem muita história. Nascido em Goiânia, o cantor se mudou para o Rio de Janeiro logo cedo. Interessado por artes, pela música e pelo teatro, com 20 anos começou a ser “do rock”, como ele mesmo diz. “Foi algo natural, espontâneo”. Foi nessa época que conheceu a turma que efervesceu o rock nacional na década de 1980.
Em bares da zona sul carioca, encontrava figuras que estavam prestes a virar estrelas da música brasileira, como Fernanda Abreu. Viu de perto o nascimento da Blitz, banda que foi um fenômeno nacional no início dos anos 1980. Foi nesta época que entrou para o grupo de rockabilly João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, de letras bem humoradas como as da Blitz. Essa era a sua vibe.
Pouco depois, decidiu pela carreira solo, mas quase entrou de novo em uma banda de extrema relevância no rock brasileiro. “Não é que eu tenha recusado o Barão Vermelho, mas é que naquele momento eu já era cantor de outros dois grupos, e uma terceira iria me sobrecarregar”, explica.
Foi então que lembrou de um certo alguém que se encaixaria perfeitamente na vaga. Foi Léo quem apresentou Cazuza (1958-1990) a Frejat. “O Cazuza cantava mas não queria trabalhar com música por causa do pai [João Araújo, então presidente da gravadora Som Livre]. Ele sempre me falava ‘não quero esse negócio de música, não quero’. Mas aí, combinei de o Frejat conversar com ele. Com 15 minutos juntos, já estavam fazendo composições, tinham muita afinidade. Acho que fiz o certo”, brinca.
Frejat lembra direitinho deste dia. “Foi uma conexão imediata”, afirma. “Léo foi a um ensaio e percebeu que a onda do Barão Vermelho era um rock mais pesado. Então ele indicou o Cazuza, marcou um encontro entre a gente. Deu tudo certo desde o início, a gente deve a ele esse presente”, diz.
Ainda nos anos 1980, Léo Jaime conseguiu um contrato com a gravadora CBS e lançou seus primeiros discos. O sucesso na carreira solo veio em 1985, com clássicos como “A Fórmula do Amor”, “Só”, “O Pobre”, “Amor Colegial” e “Solange”, uma versão em português da canção “So Lonely”, da banda The Police.
A onda da atuação
Ao longo da década, Jaime passou a explorar outros caminhos. Um deles foi a atuação, algo que jamais pensou em fazer quando tudo ainda era mato em sua vida. Nada foi planejado, pelo contrário. Em “Bebê a Bordo” (1988), da Globo, ele não era a primeira opção para o papel do personagem Zezinho. Nem o Plano B. Mas saiu-se muito bem e hoje ri disso.
“Eu fui a terceira opção para essa novela. Queriam o Fábio Jr, mas ele já estava deixando de ser ator. Chamaram outro, que não tinha agenda. De repente, uma produtora me liga e fala: ‘Léo, queríamos você. Topa’. Eu topei, mas eu começava a gravar outro dia. Sequer me mandaram o roteiro direito. Fiz meio de improviso. E deu certo!”.
Seu bom desempenho o credenciou a novos trabalhos no audiovisual. Fez filmes e participou de peças de teatro, como o musical Vitor ou Vitória, em São Paulo, ao lado de Marília Pêra (1943-2015), e o musical Era no Tempo do Rei, baseado na obra de Ruy Castro, interpretando Dom João VI.
Para os mais jovens, Léo Jaime tem um personagem marcante. Foi o professor Nando em “Malhação” (1995-2022) em duas temporadas distintas, em 2012 e 2014. Curiosamente, ambas foram escritas pela autora Rosane Svartman, uma das novelistas mais prestigiadas da Globo atualmente.
A dança que surpreendeu
Léo estava sem contrato com a TV e meio parado desde 2014, quando a produção da Dança dos Famosos, do então Domingão do Faustão (1989-2021), da Globo, lembrou do seu nome para a edição de 2018 daquele quadro. Léo admite que titubeou.
“Eu tinha muita vergonha do meu corpo, de mim mesmo. Não queria ser piada ou algo assim”. Só deu o sim para o convite depois de ser incentivado pelo ator Felipe Simas, que participara de uma versão anterior. “Ele disse que eu deveria me divertir, não ficar pensando que é uma competição”. Ok, você venceu. E lá foi o cantor mostrar seu talento para a dança –que, o Brasil percebeu depois, não era pouco.
Léo foi ganhando a aceitação e a simpatia do público. Também vieram os elogios dos jurados técnicos, e ele virou assunto nas redes, nas mesas de bar. “De repente, eu percebi que as pessoas começaram a se identificar comigo, com o meu jeito, por dançar todo domingo na televisão sem ter um corpo perfeito ou um padrão estético”, conta.
Mesmo contra duas participantes que estavam mais cotadas para a vitória, como Erika Januza e Dani Calabresa, ele fez uma apresentação na final considerada épica. “Me falavam que eu estava dançando de verdade, mesmo nunca tendo dançado na vida”, ressalta. Resultado? Foi o campeão, levou o troféu para casa, e até hoje se emociona só de lembrar.
O comentarista Léo Jaime
No fim dos anos 1990 e início dos anos 2000, Léo Jaime passou a ter sua visão de mundo e seu talento para a escrita notada por empresas de comunicação. Passou a publicar uma coluna na antiga revista “Capricho” (era a comprovação da tese de que ele ‘entende a cabeça das mulheres’), colaborou em várias veículos, e em seguida, virou comentarista de futebol.
“Muita gente estranhou porque poucos sabiam que eu tinha registro de jornalista. [Ele é formado pelas Faculdades Helio Alonso, no Rio, celeiro de bons jornalistas cariocas]. E como sou ator, músico e jornalista, minha visão consegue ser mais ampla”.
Inicialmente, Léo trabalhou na rádio CBN como comentarista de partidas de futebol. Mas na televisão, sua estreia na função foi no SBT, de Silvio Santos. Neste período, dividiu a bancada com um comentarista bastante respeitado hoje em dia entre os boleiros. Um dos narradores do Paulistão no SBT era o novato Paulo Andrade, hoje considerado titular das transmissões da ESPN no Brasil.
“Léo já era um artista consagrado e eu era um garoto de 23, 24 anos, desconhecido. Ele me abraçou. Foi muito importante para mim”, conta Andrade. “Nos tornamos amigos. De frequentar casa um do outro. Jantamos juntos, trocamos confidências profissionais e pessoais”, lembra.
O cantor-escritor-dançarino foi parar no futebol por causa do Flamengo, clube do coração, em que chegou a ter um cargo diretivo durante um período. Foi um erro, ele admite. “Estava sem contrato com gravadora, era um momento mais difícil naquela época, e fui trabalhar no clube de uma forma diferente. Foi uma experiência, mas não quero repetir. Não fui bem”, assume.
A unanimidade
Aos poucos e com o passar do tempo, notou que seu negócio era mesmo música, rock e festa. E é nessa tríade que pretende focar a partir de agora, no Festabaileshow, espetáculo que marca seus 40 anos de carreira. A primeira apresentação acontece neste sábado (21), com casa cheia, no Qualistage, no Rio de Janeiro.
“Decidi chamar meus amigos, fazer um grande apanhado do que eu fiz na carreira e na vida. É difícil, claro. Mas estou animado com o resultado”, afirma. Sua intenção é correr o Brasil para apresentar o espetáculo em várias capitais, em uma grande turnê.
Coisa rara na feira das vaidades do showbusiness, Léo, a não ser que alguém prove o contrário, nunca se desentendeu com ninguém, em nenhuma das áreas em que trabalhou. Frejat o classifica como uma pessoa amável. “A ideia que eu tenho do Léo é uma pessoa bem-humorada, carinhosa. Ele nunca se colocou falando mal de alguém. Além do senso de humor e do senso crítico que tem, sempre foi muito legal com todo mundo”, comenta.
Sem falsa modéstia, ele sabe que é benquisto. “Admito que as pessoas gostam muito de mim. As mulheres, os amigos que conquistei. Fui um cara que fiz tudo o que queria fazer, e sempre estive nos lugares certos e na hora certa”.
Sobre mulheres, com quem fez muito sucesso durante a vida (é famosa a entrevista em que Monique Evans conta, em outras palavras, mas com a mesma mensagem, que daria o Oscar de Melhor Performance Sexual ao cantor), Léo admite que está em outra fase.
Casado há 19 anos com a psicóloga Daniela Lux, mãe de seu filho David, de 16, o cantor afirma que seu grande barato é a família. “Tenho orgulho de viver o que estou vivendo nesse momento. Sou um cara simples e vivo de forma simples”.
Amado e com muito amor para dar, ele considera que nada é por acaso nessa vida. “Não acho que canto ‘A Fórmula do Amor’ por nada. Acho que hoje, aos 60 anos, estou mais perto de encontrá-la do que estive quando era mais jovem. Hoje estou mais feliz com minha vida. Me descubro a cada dia”.
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