Os fãs de Fórmula 1 vão perceber novidades no Autódromo de Interlagos durante o GP de São Paulo deste ano, que será realizado entre os dias 1 e 3 de novembro. Em sua maior reforma desde a modernização do paddock, entre 2014 e 2016, o circuito paulistano ganhou um asfalto novo e está em obras para erguer um novo hospitality center, um prédio administrativo de apoio e dois novos túneis para agilizar a logística do local. O custo das obras pode chegar a R$ 275 milhões.
O valor inclui a construção do novo hospitality center e dos túneis, cujo consórcio vencedor estimou em R$ 127 milhões, mas que deve ter aditivo de R$ 31 milhões, alcançando R$ 158 milhões. A conta incluir R$ 37 milhões para as obras de manutenção anual do circuito, contando neste ano com um asfalto totalmente novo. E mais R$ 80 milhões para erguer novas arquibancadas permanentes no autódromo.
A maior novidade será o novo prédio de hospitality center, que substitui estrutura anterior, de 7 mil metros quadrados. Essa capacidade foi triplicada para quase 22 mil metros quadrados, suficiente para receber 6 mil pessoas num dos maiores setores VIP do local. O prédio, de três andares, também receberá a administração do próprio autódromo. Será a estrutura mais alta do circuito, com 22 metros, localizada bem no miolo de Interlagos, diante da Curva do Laranjinha.
A obra começou na primeira quinzena de maio e só ficará totalmente pronta em abril de 2025. No entanto, a estrutura já será utilizada durante o GP de São Paulo de F-1, com capacidade reduzida para 2 mil pessoas. “A organização vai usar cenografia, com pele de vidro, para não parecer um prédio inacabado”, explicou Marcelo Shan, diretor do autódromo, ao Estadão.
A estrutura será usada de forma integral a partir do GP de 2025. Até lá, a obra terá o acréscimo de um prédio administrativo, menor, a ser erguido ao lado do hospitality center. Terá dois andares e 2 mil metros quadrados de área, sendo 980 metros de área útil porque o térreo será utilizado como garagem.
Os dois prédios novos vêm atender demandas diferentes do autódromo, que passou a receber diversos festivais de música nos últimos anos, como The Town,
Lollapalooza e Primavera Sound. “Essa nova área vai atender às corridas porque será voltado para o miolo do autódromo. E também aos shows porque também ficará voltado para os palcos (no lado oposto do Laranjinha)”, explica Marcelo Shan.
Havia ainda questões técnicas que colocavam a segurança em risco na estrutura anterior, também chamada de “lajão”. “O antigo lajão era muito precário, demandava muito tempo de montagem da estrutura. Toda vez que precisava colocar uma cobertura, faziam uma furação no piso para deixar estável e segura. E praticamente já não tinha mais onde furar, o que poderia não dar segurança para o público. Agora terá uma cobertura permanente, sem exigir mais nenhuma adaptação.”
DOIS TÚNEIS
A mesma licitação das obras do hospitality center inclui a criação de dois túneis, um de ida e outro para volta, no outro lado do autódromo. Eles estão sendo construídos de forma paralela, com extensão de 360 metros e diâmetro de 5,20 metros. Vão ligar o portão G, localizado atrás do kartódromo, até a área do hospital interno do autódromo, passando por baixo da Reta Oposta, um dos trechos mais importantes do circuito.
“O túnel era uma demanda antiga porque todo caminhão de grande porte precisava necessariamente cruzar a pista do autódromo”, explica Marcelo Shan. Pesados, os caminhões tinham potencial de criar danos e até deformações no asfalto onde correm os carros da F-1. Podiam ainda vazar óleo, afetando a segurança dos pilotos na pista.
“E agora vamos poder usar o autódromo para dois eventos ao mesmo tempo. Enquanto estiver acontecendo uma corrida, conseguimos fazer um show na parte da ‘arena’, isolando os públicos. Muitas vezes, quando temos dois eventos ao mesmo tempo, o caminhão precisava esperar uma ‘janela’ entre uma categoria e outra, para atravessar a pista. Já aconteceu de um motorista impaciente atravessar a pista sem falar nada. Era um risco muito grande.”
Os túneis, assim como o hospitality center, só ficarão prontos em 2025. Mas a direção do autódromo garante que as obras não vão atrapalhar a realização do GP e nem causarão prejuízos à visibilidade da torcida nas arquibancadas.
Esta parte da reforma, tocada pelo consórcio formado pelas empresas Jofege e Construbase, foram orçadas em R$ 127 milhões, pela proposta dos vencedores da licitação. Mas, segundo apurou o Estadão, deve ter um aditivo de 25%, equivalente a R$ 31 milhões. Assim, poderá chegar a R$ 158 milhões nos próximos meses.
Antes da entrega, em abril, as obras terão que ser paralisadas entre os meses de fevereiro e março porque o autódromo será preparado para receber o festival Lolapalloza. “Mas a ideia é finalizar tudo antes disso”, garantiu Ricardo Pavão, gerente de engenharia do consórcio.
Ele afirmou que o trabalho foi acelerado nas últimas semanas, justamente para finalizar tudo antes do prazo. “As duas últimas semanas foram impressionantes. Precisamos aumentar a carga horária. Nos últimos três dias, fizemos concretagem 24 horas por dia, era betoneira atrás de betoneira. Chegamos a trabalhar com seis guindastes ao mesmo tempo.”
A exemplo do que aconteceu em 2023, por questões de adaptação do circuito ao festival The Town, parte das árvores do autódromo foi derrubada. Desta vez, o consórcio estima que entre 40 e 45 delas vieram abaixo para a execução das obras.
NOVO ASFALTO
Para o GP deste ano, a única obra totalmente pronta é a do novo asfalto do traçado paulistano. Ele foi totalmente trocado nas últimas semanas, a partir de 2 de setembro. Nos próximos dias, receberá o grooving, ranhuras que favorecem a drenagem da água em dias de chuva.
“Está tudo dentro do cronograma, tudo sob controle. Inclusive, sobrou até tempo. Até cancelamos a última etapa do Campeonato Paulista aqui em Interlagos para termos uma margem nas obras”, afirma o diretor do autódromo. Ele revela que o recapeamento precisou ser refeito na Reta Oposta porque a primeira troca “não estava de acordo com os padrões que queremos”.
O novo asfalto segue o mesmo padrão tecnológico do anterior, com o mesmo nível de abrasividade, para aumentar a aderência dos pneus. A obra consta na licitação de manutenção do autódromo, no valor de R$ 37 milhões. Somente o asfalto custou R$ 15 milhões.
O restante do valor foi utilizado para outras obras de ajustes no circuito, como a troca de pouco mais de 10 mil metros quadrados de alambrados – a parte da reta principal foi totalmente renovada. “Também fizemos ajustes na questão da segurança da pista, por exigência da Federação Internacional de Automobilismo (FIA)”, conta Shan.
NOVAS ARQUIBANCADAS
Para 2025, os fãs também podem esperar mais lugares nas arquibancadas do autódromo. Na semana que passou, a Prefeitura de São Paulo lançou licitação, no valor de quase R$ 80 milhões, para ampliar o número de arquibancadas permanentes no circuito. Haverá um novo setor D, atrás da curva S do Senna, um nível a mais no setor A e a nova arquibancada do Laranjinha.
Quando finalizada, a obra vai ampliar de 22 mil para 37 mil o número de assentos permanentes em Interlagos. Com o novo hospitality center, a estrutura crescerá para 43 mil. A expectativa para 2027 é contar com 120 mil lugares por dia no local, incluindo as arquibancadas provisórias. Esta obra só deve começar em 2025.