RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil da Bahia prendeu em flagrante um homem suspeito de matar uma delegada em São Sebastião do Passé, na região metropolitana de Salvador, no domingo (11). Patrícia Neves Jackes Aires, 39, foi encontrada morta dentro do próprio carro, em uma área de mata.
Tancredo Neves Lacerda Feliciano de Arruda era companheiro da vítima e, segundo a polícia, confessou o crime em depoimento nesta segunda-feira (12). Ele disse que enforcou a mulher com o cinto de segurança para se defender de supostas agressões durante uma discussão. A polícia investiga se Patrícia morreu por estrangulamento.
O homem teve a prisão preventiva (sem prazo) decretada pela Justiça após uma audiência de custódia. O Tribunal de Justiça informou que o caso corre em segredo “a fim de resguardar a intimidade dos familiares da vítima”, e que mais informações não podem ser disponibilizadas. A reportagem não conseguiu localizar a defesa do suspeito.
Antes de confessar, segundo a polícia, o crime nesta segunda, Neves havia negado qualquer envolvimento na morte da companheira e disse que os dois tinham sido vítimas de um sequestro. Nesta segunda, porém, o suspeito disse que inventou a versão por medo.
Na nova versão à polícia, ele afirmou que estava no carro com a delegada quando disse à companheira que os dois precisavam repensar a relação. Segundo o suspeito, Patrícia teria se descontrolado e ameaçado matar a família dele. Em seguida, ela teria puxado o volante do carro, provocando a batida em uma árvore.
Ainda de acordo com a versão, a delegada começou a bater nele e ele “girou” o cinto de segurança no pescoço dela, com a intenção de fazê-la parar. Ele afirmou que não queria matá-la.
Neves disse que chamou a polícia quando notou que Patrícia estava desacordada, mas não sabia que a mulher estava morta. O corpo da delegada foi encontrado horas depois por policiais militares.
Ainda de acordo com a polícia, Neves já havia sido preso em maio, por agredir a delegada. Na ocasião, Patrícia solicitou uma medida protetiva, mas depois houve uma reconciliação e ele foi liberado por decisão judicial.
Além disso, o suspeito tem um histórico de indiciamento sob suspeita de exercício ilegal da medicina e falsidade ideológica. À polícia Neves reconheceu a existência do processo, mas disse que nunca foi intimado. Ele se apresenta como médico, formado no Paraguai, mas afirma que não exerce a profissão.
O Conselho Regional de Medicina baiano informou que não há nenhum médico registrado com o nome dele.
A Polícia Civil lamentou a morte da delegada, que atuava como plantonista na Delegacia Territorial de Santo Antônio de Jesus (a 187 quilômetros de Salvador), e declarou que atua com todos os mecanismos disponíveis para esclarecer as circunstâncias do crime.
O Sindicato dos Policiais Civis também lamentou a morte de Patrícia. A delegada-geral da Bahia, Heloísa Campos de Brito, postou uma nota de pesar nas redes sociais.
O corpo de Patrícia Aires foi velado nesta segunda-feira (12), na Câmara de Vereadores de Santo Antônio de Jesus. O sepultamento ocorreria no Recife, cidade natal dela.
Bacharel em direito e especialista em direito penal e processo penal, Patrícia tomou posse em 2016. Atuou na delegacia de Barra, no oeste da Bahia, e comandou as delegacias de Maragogipe e São Felipe, antes de ser lotada em Santo Antônio de Jesus.
A delegada era reconhecida pela atuação no enfrentamento às violências de gênero, tendo passagem pelo Núcleo Especializado de Atendimento à Mulher do município, em 2021.
Patrícia também tinha graduação em licenciatura plena em Letras e chegou a trabalhar como professora de língua portuguesa e língua inglesa. Deixa um filho.