SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A herdeira de Tarsila do Amaral deve R$ 200 mil para a Prefeitura de São Paulo, de acordo com o portal onde ficam registrados os devedores do município. A dívida, que a Controladoria Geral do Município cobra da sobrinha-neta da pintora, também chamada Tarsila do Amaral e conhecida como Tarsilinha, é referente a uma multa decorrente de uma condenação por corrupção em 2019.
Naquele ano, a empresa comandada por ela, a Manacá Produções e Empreendimentos Culturais, foi condenada a pagar R$ 90 mil num processo que investigava o desvio de dinheiro público do Theatro Municipal de São Paulo. A dívida não foi quitada e, com a correção monetária e outros acréscimos determinados pela Justiça, está hoje próxima de R$ 200 mil.
“Eu gostaria de esclarecer que fui vítima de um golpe pelos gestores do Theatro Municipal”, diz Tarsilinha. Seu advogado, Arystóbulos Freitas, afirma que ela “errou na resolução” do golpe e está agora conversando com a prefeitura e o Ministério Púbico para pagar a quantia e resolver a pendência. Devido à cobrança, Tarsilinha chegou a ter uma conta bancária bloqueada.
A Prefeitura de São Paulo afirma que a dívida de Tarsilinha está em fase de cobrança judicial e que este processo é sigiloso.
Segundo a investigação da prefeitura, a Manacá vendeu três projetos para a organização social que administrava o Theatro Municipal em 2015, o Instituto Brasileiro de Gestão Cultural. Os projetos totalizavam cerca de R$ 495 mil, e visavam à realização de duas exposições de Tarsila do Amaral nos espaços do teatro, uma sobre a vida da pintora e outra com obras suas pertencentes a Tarsilinha.
Contudo, as mostras não foram realizadas e o contrato foi desfeito.
De acordo com William Nacked, ex-diretor da gestora do teatro, com o cancelamento das exposições, a Manacá ficou com R$ 90 mil, referentes às despesas que teve até ali, e devolveu R$ 405 mil. Mas, em vez de ressarcir esse montante diretamente à gestora, Tarsilinha dividiu o dinheiro em dois depósitos -um na conta pessoal de Nacked e outro na conta de uma empresa em seu nome. Nem a herdeira ou seu advogado dão uma justificativa para esse procedimento e apenas dizem que foram vítimas de um golpe.
Nacked fez essas afirmações em depoimento ao Ministério Público em 2017, no âmbito de uma série de investigações sobre escândalos no Theatro Municipal, que incluíam desvio de verbas, contratos frios e corrupção. Segundo o inquérito, as irregularidades ocorreram durante a gestão da organização social que ele comandava, de 2013 a 2016.
Segundo o Ministério Público do Estado de São Paulo, ao menos R$ 15 milhões foram desviados do teatro. A apuração resultou na suspensão do contrato da gestora com a casa de espetáculos e na condenação de Nacked e de outros envolvidos, dentre os quais José Luiz Herência, então diretor da Fundação Theatro Municipal.
A controladoria também condenou a empresa de Tarsilinha a publicar a condenação em local visível pelo público, por exemplo, num jornal de grande circulação, mas isso não foi feito. “Seria um desrespeito essa publicação e nós não concordamos com ela”, diz o advogado da herdeira, acrescentando que o pedido está sendo contestado.
A prefeitura paulistana afirma que a empresa deve publicar a punição.
A obra de Tarsila do Amaral, a autora de “Abaporu”, está em evidência nos últimos anos devido a uma exposição de quadros da pintora no Museu de Arte Moderna de Nova York e à venda de duas telas suas -uma delas, “A Caipirinha”, foi leiloada em 2020 por R$ 57,5 milhões.
A modernista também foi tema de uma exposição blockbuster no Masp, o Museu de Arte de São Paulo. Recentemente, sua obra virou tema de NFTs, enquanto um musical sobre sua vida está em cartaz em São Paulo.