(FOLHAPRESS) – Após 11 dias de procura, o helicóptero que desapareceu em São Paulo foi localizado em área de mata em Paraibuna, na manhã desta sexta-feira (12). A informação sobre a localização da aeronave foi feita pela Defesa Civil.
Imagem divulgada pela Polícia Militar mostra destroços do helicóptero em meio a vegetação fechada.
Não há ainda informações a respeito de sobreviventes.
O helicóptero com quatro pessoas desapareceu na tarde de 31 de dezembro após adentrar em trecho de forte neblina no trajeto entre a cidade de São Paulo e o município de Ilhabela, no litoral norte do estado. Vídeo e mensagens enviadas por piloto e passageira reportaram ausência de visibilidade para sobrevoar a serra do Mar e um pouso às margens de uma represa em Paraibuna.
Desde o primeiro dia do ano, as buscas eram feitas com helicópteros e aviões da FAB (Força Aérea Brasileira), Polícia Militar e Polícia Civil. O trabalho ganhou reforço de equipes do Exército. A família do piloto e a empresa CBA Investimento, operadora da aeronave, também mantinha buscas em solo com cerca de 20 mateiros usando drones, binóculos e outros equipamentos.
Estavam a bordo o empresário Raphael Torres, 41, a vendedora de roupas Luciana Marley Rodzewics Santos, 46, a filha dela, Letícia Ayumi Rodzewics Sakumoto, 20, e o piloto Cassiano Tete Teodoro.
Mãe e filha moravam na zona norte da capital paulista, no bairro do Limão.
Segundo os familiares, Luciana e Letícia foram convidadas por Raphael Torres, amigo da mãe.
Durante a viagem, o empresário chegou a avisar o filho por uma mensagem de áudio sobre as condições climáticas adversas na cidade litorânea e indicou que a aeronave faria uma mudança de rota para Ubatuba.
“Filho, eu vi que você leu a minha mensagem agora, acho que vou para Ubatuba. Ilhabela está ruim. Não consigo chegar”, disse.
Em mensagem para o namorado, Letícia também falou do mau tempo. “Pousamos” e “No meio do mato”, escreveu a jovem. O namorado então teria perguntado o local do pouso, e Letícia respondeu não saber.
Por volta das 14h do domingo, a jovem enviou um vídeo que mostrava forte neblina ao redor da aeronave. “Tá perigoso. Muita neblina. Eu estou voltando”.
Os tripulantes pararam de fazer contato após o pouso às margens de uma represa em Paraibuna, no Vale do Paraíba, que investigadores acreditam ter sido feito para esperar passar o mau tempo.
O celular de Luciana parou de emitir sinais às 22h14 do dia 1º de janeiro, dia seguinte ao desaparecimento.
“Se o telefone da Luciana ficou funcionando até o dia 1º, às 22h14, que estávamos monitorando, ele ficou fora da água. Na água ele não iria transmitir [sinal]”, afirmou à TV o delegado Paulo Sérgio Pilz no sábado (6).
As autoridades investigam se os passageiros eram conduzidos por um serviço irregular de táxi aéreo. O piloto Cassiano Teodoro teve sua licença e todas as habilitações cassadas pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) em setembro de 2021 por transporte aéreo clandestino, fraudes em planos de voo e após ter escapado de uma fiscalização.
Ele obteve uma nova licença em outubro do ano passado, após ficar afastado pelo prazo máximo de dois anos, mas, segundo a agência de aviação, ainda não estava habilitado a realizar voos com passageiros.
Além disso, a empresa que operava o helicóptero tampouco tinha autorização para transporte aéreo de passageiros e, em 2022, o MPF (Ministério Público Federal) recomendou que várias empresas de aviação se abstivessem de alugar aeronaves às companhias de Teodoro, após identificar que ele atuava de forma clandestina.
A defesa de Teodoro afirma que houve uma punição indevida contra o piloto e que fiscais da Anac cometeram irregularidade durante uma fiscalização.
A reportagem obteve dois áudios da conversa entre o piloto e Jorge Maroum, dono do heliponto Maroum, onde o helicóptero deveria ter pousado em Ilhabela.
Teodoro solicitou que Maroun providenciasse um táxi para buscar os passageiros após o pouso no litoral. Pouco depois, o piloto e o dono do heliponto passaram a conversar sobre as condições meteorológicas que estavam atrasando a chegada do grupo a Ilhabela.
“Eu estou na fazendinha, mas não estou conseguindo cruzar, tá tudo fechado, tá colado [quando a camada de nuvem está ‘colada’ ao chão, impedindo visão horizontal e vertical]”, relatou o piloto.
Segundo Maroum, fazendinha é como os pilotos costumam chamar uma parte mais baixa da Serra do Mar, antes da chegada a Caraguatatuba.
Para Maroum, cercado pela neblina o piloto pode ter tido uma “desorientação espacial”. “Como se estivesse num labirinto”, disse.