SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em pouco mais de um mês, ao menos 39 jornalistas foram mortos enquanto trabalhavam na guerra Israel-Hamas, segundo o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ). O número é mais que o dobro do registrado nos 20 meses da Guerra da Ucrânia, conflito em que 17 profissionais de imprensa morreram.
A organização alerta que “os jornalistas em Gaza enfrentam riscos particularmente elevados conforme tentam cobrir o conflito face a um ataque terrestre israelense à Cidade de Gaza, a devastadores ataques aéreos israelenses, a interrupções nas comunicações e a extensos cortes de energia”.
Também sublinha que Israel avisou as agências de notícias de que não poderia garantir a segurança dos profissionais na guerra.
Dos 39 jornalistas mortos até esta quarta -mais de um por dia- 34 eram palestinos, 4, israelenses, e 1, libanês. “[Trata-se do] mês mais mortal para os jornalistas que cobrem conflitos desde que o CPJ começou a documentar as mortes, em 1992”, diz a organização com sede em Nova York.
Pelo menos oito jornalistas ficaram feridos, e vários tiveram familiares mortos no conflito. Um dos profissionais atingidos pela guerra é o cinegrafista palestino Mohammed Alalou, 37, que trabalha para a agência de notícias turca Anadolu. Ele perdeu quatro de seus cinco filhos em um bombardeio na segunda (6) que atingiu a sua casa no campo de refugiados Maghazi, na Faixa de Gaza.
Segundo o jornal americano The New York Times, Alalou estava trabalhando quando recebeu uma enxurrada de mensagens no celular. Ao checar as notificações, seu medo se tornou realidade: os corpos de quatro de seus filhos -Qais, Ahmad, Rahaf e Kenaan- haviam sido encontrados nos escombros da casa destruída.
Além dos filhos, Alalou diz que quatro irmãos e “vários sobrinhos” morreram na ofensiva. A esposa do fotógrafo foi hospitalizada com queimaduras graves no rosto, múltiplas fraturas e ferimentos por estilhaços. Após o caso ganhar repercussão, um porta-voz militar de Israel disse que autoridades do país estavam investigando se o Exército israelense “operava na área” durante o bombardeio.
“O CPJ enfatiza que os jornalistas são civis que realizam um trabalho importante em tempos de crise e não devem ser alvo de partes em conflito”, disse Sherif Mansour, coordenador do programa do CPJ para o Oriente Médio e África do Norte, ao site da organização. “Os que estão em Gaza, em particular, pagaram, e continuam a pagar, um preço sem precedentes e enfrentam ameaças exponenciais.”
O balanço da CPJ contabiliza ainda profissionais que foram mortos fora de Israel ou da Faixa de Gaza. O cinegrafista da agência Reuters Issam Abdallah, por exemplo, foi morto no dia 13 de outubro quando Israel atirou contra posições do Hezbollah no sul do Líbano.
Além dos profissionais mortos ou feridos, há ainda tentativa de censuras contra os jornalistas, alerta a CPJ. Ao menos nove foram presos desde o começo da guerra, e a organização aponta “múltiplos registros” de agressões, ameaças, ataques cibernéticos e assassinatos de familiares.
Já o Comitê de Apoio a Jornalistas (JSC, na sigla em inglês) diz que mais de 40 casas de profissionais da imprensa foram destruídas em ataques, e 55 organizações de mídia tiveram suas instalações derrubadas ou danificadas.
Israel tem sido criticado por punir de maneira coletiva e indiscriminada os civis de Gaza. Desde o início da guerra, mais de 10,5 mil palestinos morreram no território, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas; do lado israelense, foram ao menos 1.400 óbitos.