Guarujá quer controlar acesso a uma das suas praias mais bonitas

Paraíso quase intocado do litoral paulista, a Prainha Branca, no Guarujá, no limite com Bertioga, terá um projeto para evitar que a beleza do lugar seja ofuscada pela superlotação de turistas. Os pouco mais de mil metros de faixa de areia branquinha que dão o nome ao lugar já não comportam o intenso fluxo de banhistas, sobretudo na alta temporada. De acordo com a Secretaria do Meio Ambiente do Guarujá, um estudo vai quantificar a frequência atual e definir quantas pessoas podem ir à prainha sem que os impactos da lotação comprometam a qualidade de vida da população local e a conservação de uma área de preservação permanente.

O que facilitaria esse controle é o isolamento do local, pois o único acesso à praia e à vila de pescadores é por uma trilha calçada para pedestres com 800 metros de extensão – ou pelo mar, com barcos leves. De acordo com o secretário do Meio Ambiente, Ricardo de Sousa, embora seja um local com alto apelo turístico pela beleza cênica da praia de águas claras e pela paisagem exuberante, o ecossistema é frágil e está inserido em duas áreas de proteção ambiental – a APA Serra do Guararu e a APA Marinha do Litoral Centro.

Um estudo realizado entre 2019 e 2020 detectou que a Prainha já recebe alta pressão de visitantes durante a temporada, sobretudo pela presença de cerca de 30 campings no local, com capacidade para mais de mil barracas. “A ideia não é impedir o acesso à praia, apenas disciplinar seu uso para que as condições ambientais, hoje preservadas, sejam mantidas assim”, disse Sousa. A contagem deve começar no próximo mês, assim que a instalação de uma guarita com catraca seja concluída.

O trabalho deve durar ao menos seis meses, avaliando a frequência na alta e na baixa temporada. “Existe um movimento rotineiro, com a presença da vila, com cerca de 400 moradores, e o comércio que, além dos campings, é composto por pousadas e restaurantes. Nosso foco é quantificar a população flutuante e a capacidade da ilha para o escoamento, por exemplo, dos resíduos sólidos deixados pelos visitantes”, afirmou o secretário.

Ele contou que, em várias ocasiões, já foi observado que o número de banhistas extrapolou a capacidade do lugar. “Já tivemos problemas com pichações em ambiente natural, excesso de resíduos, montagem de barracas na faixa de areia, o que, além de não ser permitido, gera conflitos com os moradores. A praia é pública, é um patrimônio da população, por isso é um dever conservá-la, mas ano a ano a procura vem crescendo e a gente precisa cuidar para que esse bem natural não se deteriore.”

O estudo será apresentado à Fundação Florestal, órgão da Secretaria de Meio Ambiente, Logística e Infraestrutura do Estado, gestora das unidades de conservação. A Prainha Branca e toda a Serra do Guararu, que fica na região conhecida como “Rabo do Dragão” pela conformação territorial, são tombadas pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat) pela relevância de seus atributos naturais.

A presidente da Associação dos Moradores da Prainha Branca, Claudenice de Oliveira de Almeida Flávio, disse que os 400 moradores locais, muitos deles caiçaras como ela, dependem dos turistas, mas se preocupam com a superlotação. “A associação faz a coleta do lixo duas vezes por semana e fazemos a retirada por barcos. Na temporada, o volume dobra e coletamos três vezes por semana.”

Taxa

Segundo ela, o projeto-piloto para controle da entrada na praia foi aprovado pelo conselho gestor da APA. “A gente não vai barrar ninguém, vamos ver quantos entram e quantos saem, quanto tempo ficam, para estudar a melhor forma de controle. Precisamos pensar no turista, mas também na população que vive aqui”, disse. Não há previsão de cobrança de taxa para frequentar a Prainha, mas a prefeitura do Guarujá estuda a criação de uma taxa ambiental para quem visita suas praias, a exemplo de Ubatuba.

A Serra do Guararu, onde ficam a Prainha Branca, assim como suas vizinhas Praia Preta e Praia do Camburi, é coberta pela Mata Atlântica, irrigada por rios e nascentes, e termina em uma orla com manguezais, onde vivem os guaiamuns, caranguejos azuis ameaçados de extinção.

A prainha é a última das 27 praias do Guarujá, no extremo norte do balneário, à margem do Canal de Bertioga. O povoamento do local iniciou-se por volta de 1840, com algumas famílias da Ilha Montão do Trigo, em São Sebastião. Hoje 108 famílias vivem no local.

Limitação de acesso já ocorre em outros pontos

Outras praias do litoral paulista já limitam o acesso de visitantes. A Praia de Itaguaré, reduto de surfistas, em Bertioga, recebe até 120 visitantes por dia. A Praia Brava de Boiçucanga, em São Sebastião, limita em 999 pessoas. Em Ilhabela, a Praia de Castelhanos pode receber 880 visitantes diários. Na Praia do Bonete, são 980.

O acesso ao Parque Estadual Ilha Anchieta e suas praias, em Ubatuba, tem limite diário de 1.020 turistas. O controle é feito no serviço de lanchas e escuna. Ainda em Ubatuba, a Praia da Fazenda, que fica no Núcleo Picinguaba do Parque Estadual Serra do Mar, recebe até 1.500 pessoas ao dia. Para o Parque Estadual da Ilha do Cardoso, em Cananeia, no litoral sul, o limite é de 1 mil pessoas por dia.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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