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BRASÍLIA, DF, E MUNIQUE, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – O etanol pode ser o próximo alvo de medidas comerciais adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, segundo alerta dado por um representante brasileiro do setor sucroalcooleiro ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre políticas em discussão atualmente na Casa Branca.
O alerta, registrado pelo Itamaraty em um documento obtido pela Folha, foi feito por um diretor da Raízen, gigante brasileira do setor, à embaixada do Brasil em Washington.
“Em contato com a Embaixada do Brasil em Washington, o diretor global de Relações Internacionais da Raízen, Paulo Macedo, assinalou que o tema [tarifas sobre etanol] já estaria em tratamento na Casa Branca, segundo informações recebidas dos consultores da empresa”, afirma trecho do documento.
Procurada, a Raízen disse que não comentaria o caso.
Se confirmada, a ofensiva dos EUA abrirá um novo capítulo na briga comercial com o Brasil no setor do etanol –disputa que se arrasta há anos.
Washington se queixa de que o Brasil impõe barreiras para a entrada do seu etanol (fabricado a partir do milho) no país, enquanto o equivalente brasileiro (à base de cana-de-açúcar) ingressa basicamente sem tarifas no mercado norte-americano.
O imposto de 18% praticado pelo Brasil afeta principalmente produtores do Meio-Oeste dos EUA, politicamente próximos a Trump. Aliados do republicano consideram o etanol um dos exemplos de práticas comerciais injustas das quais o presidente americano frequentemente se queixa publicamente.
Nos bastidores, membros do governo brasileiro rebatem o argumento e dizem que os casos dos dois países não são totalmente comparáveis. Eles citam, por exemplo, que os produtores nacionais são mais prejudicados por barreiras americanas ao açúcar –a abertura desse setor nos EUA é um pleito antigo do Brasil.
Argumentam também que aumentar a exposição ao etanol americano representa uma ameaça aos produtores instalados no Nordeste, fato que acrescenta grande sensibilidade política ao tema.
De acordo com integrantes do governo ouvidos pela Folha, ainda não há informação sobre qual poderia ser a linha de ação da administração Donald Trump em relação ao etanol: se eles aumentariam tarifas para a entrada de etanol brasileiro no país ou usariam outras medidas como forma de pressionar o Brasil.
A eventual imposição de tarifas afetaria o segundo principal mercado internacional do etanol brasileiro. As exportações do produto para os EUA somaram no ano passado US$ 181,8 milhões (cerca de R$ 1 bilhão), atrás apenas da Coreia do Sul.
Em 2024, houve um aumento de 13,3% nas exportações brasileiras no segmento complexo sucroalcooleiro, segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária. O setor esteve entre os principais exportadores do agronegócio em termos de valor, com US$ 19,7 bilhões, respondendo por uma participação de 12% do total vendido ao exterior.
O etanol brasileiro é vendido majoritariamente para a Califórnia por causa de regras de redução de emissões do estado.
A expectativa de que o etanol entrará na mira do governo Trump aumentou depois da audiência de confirmação no Senado, de Jamieson Greer, indicado como representante de Comércio dos EUA. A sabatina ocorreu em 6 de fevereiro.
Na ocasião, Greer disse que o etanol era um caso claro de injustiça comercial e disse que, se necessário, empregaria táticas como investigações comerciais para convencer o Brasil a se abrir para o etanol americano.
“Você poderia certamente procurar os brasileiros e dizer: ‘Vocês precisam consertar isso’. Mas isso precisa vir acompanhado de um senão. Isso é um pouco duro, mas precisamos ter alavancagem. E, se for necessário ganhar alavancagem por meio de ações investigativas ou outras ações, faremos isso. Preferimos muito mais fazer isso com base em negociações, mas faremos o que for necessário para tentar resolver essa situação”, disse Greer.
Entre as falas de destaque citadas em um resumo da sabatina feito por autoridades brasileiras, um membro do governo ressalta que o representante de Comércio dos EUA deve colocar a questão do setor do etanol no topo de sua lista de prioridades.
A primeira onda de tarifas impostas por Trump afetou os setores de aço e alumínio. Na última segunda (10), o presidente dos EUA elevou para 25% a cobrança sobre importações desses itens. Entre as justificativas, mencionou o aumento expressivo de compra de aço da China pelo Brasil.
Antes do anúncio oficial, o governo brasileiro elaborou um mapeamento dos setores que potencialmente seriam mais afetados pela guerra comercial deflagrada pelos americanos. A análise trazia medidas e instrumentos que o Brasil poderia mobilizar caso a caso, levando em consideração possíveis efeitos colaterais.