‘Fui duas vezes, no máximo’, diz padre Júlio Lancellotti sobre presença na cracolândia em 2023

PAULO EDUARDO DIAS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Associações e conselhos de segurança ligados ao centro e a bairros próximos já na zona leste de São Paulo divulgaram uma carta favorável à criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar as ONGs que assistem moradores de rua e dependentes químicos.
O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, tem sido apontado como principal alvo da CPI, que tem o vereador Rubinho Nunes (União Brasil) à frente.

O religioso não é citado diretamente na carta, mas se tornou alvo principal da proposta por ser uma das principais lideranças em relação à questão dos sem-teto na cidade. Ele mantém um projeto social que distribui refeições e produtos de higiene e também dá assistência a moradores de rua na paróquia São Miguel Arcanjo, na Mooca, zona leste da cidade.

À Folha o padre, que considera a CPI uma perseguição, afirmou nesta sexta que no ano passado foi no máximo duas vezes à cracolândia.

“Estive algumas vezes no Jardim da Luz, em frente ao Museu da Língua Portuguesa. No fluxo [aglomeração dos usuários de drogas], poucas vezes, duas, no máximo.”

Conforme mostrou a Folha, nesta quinta (4) e nesta sexta-feira (5), sete vereadores da Câmara Municipal de São Paulo que assinaram o requerimento para abrir a investigação, retiraram seu apoio, após a polêmica de que a CPI teria o padre Júlio como um dos principais investigados.

Na carta, com data desta sexta-feira, oito entidades disseram “que convivem diariamente com o problema e possuem a exata dimensão dos efeitos colaterais causados pelos dependentes químicos que ficam jogados as ruas”.

E por isso, procuraram o vereador Rubinho Nunes “que prontamente atendeu para propor a abertura de uma CPI a fim de investigar as ONGs que atuam na região central de São Paulo”.

“A CPI das ONGs é um pedido da população diretamente afetada pelas mazelas do centro e o vereador está acatando um pedido tanto de moradores quanto de empresários e trabalhadores da região”, afirmou Charles Souza, presidente da Associação Geral do Centro de São Paulo, uma das signatárias da carta.

Nunes já havia dito à reportagem que a proposta de investigação foi uma sugestão dos moradores da região, principalmente os que vivem no entorno da cracolândia. Segundo ele, as organizações são acusadas de se beneficiar do aumento da população de rua por meio de repasses e doações, o que também é citado na carta.

As outras entidades que assinam o texto são a União Santa Ifigênia e a Câmara dos Dirigentes Lojistas do Bom Retiro, além dos Consegs (conselhos de segurança) Bom Retiro, Centro, Consolação Higienópolis Pacaembu, Brás-Mooca-Belenzinho e Alto da Mooca.

As entidades afirmam que ONGs recebem expressiva verba pública para amparar a população em estado de vulnerabilidade e que há falta de transparência por parte destas entidades
“Portanto, a necessidade de instalação desta CPI, pois um volume alto de verba pública é despejado para estas ONGs e em contrapartida apenas aumenta o número de frequentadores do fluxo da cracolândia. O resultado é insatisfatório, devido à falta de segurança aos moradores, comerciantes e frequentadores da região”, diz.

“A maneira em que há distribuição dos alimentos e que esses dependentes químicos estão sendo tratados apenas motiva eles a permanecerem nesta condição degradante e marginalizada”, afirma outro trecho do texto.

A carta das associações e conselhos de segurança também faz referência ao estado de abandono do centro paulistano.

“Por muito tempo, a população que habita, trabalha e frequenta a região central foi esquecida, como consequência veio a degradação e o aumento do número de dependentes químicos, que utilizam droga a céu aberto, sem qualquer pudor.”

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