Fiocruz diz operar no limite e que não consegue atender demanda por vacina da dengue

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) afirma que “trabalha no limite” e depende da construção de uma nova fábrica para conseguir atender a demanda do SUS (Sistema Único de Saúde) pela vacina da dengue.

O órgão público diz que a sua estrutura atual exige cortar a entrega de outros imunizantes para produzir a Qdenga, modelo disponível no sistema público contra a arbovirose.

O governo Lula (PT) aposta em uma parceria entre a Takeda, farmacêutica fabricante da vacina, e a Fiocruz para expandir a oferta das doses no Brasil.

Em março, a ministra Nísia Trindade disse que o acordo estava perto de ser assinado. “Já estamos no caminho, mas a data não vou divulgar agora, para isso ser feito com precisão.”

A Fiocruz declara, em nota, que as tratativas avançaram, mas ainda não aponta quando será assinada a parceria nem estima quantas doses serão fabricadas.

A fundação afirma que a produção da Qdenga vai ocupar a mesma plataforma de outros imunizantes, como da febre amarela e a tríplice viral, exigindo “balanceamento na carteira de vacinas ofertadas”. A Fiocruz e o ministério ainda devem decidir quais imunizantes serão cortados.

Em documentos internos, a fundação aponta dificuldades ainda maiores para produção da Qdenga e cita esgotamento do laboratório Bio-Manguinhos.

“A produção da vacina contra a dengue da farmacêutica Takeda implicará, necessariamente, na interrupção ou redução drástica da produção de outras vacinas para o Programa Nacional de Imunizações (PNI), ou para as Agências das Nações Unidas”, diz a fundação.

“O que pode acarretar no aumento de casos da doença e até mesmo no aumento do número de óbitos em função desta falta”, afirma ainda o órgão.
Estes posicionamentos estão registrados no documento “Demandas do SUS e ausência de capacidade produtiva de Bio-Manguinhos/Fiocruz”, elaborado pela fundação em abril e obtido pela Folha de S.Paulo.

O papel integra um processo da Fiocruz sobre a construção do “Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde”, estrutura que promete quadruplicar a capacidade de produção de doses da fundação, mas ainda não tem data de conclusão.

O ministério conseguiu 6,5 milhões de vacinas da Qdenga compradas ou recebidas por doação em 2024, suficientes para imunizar 3,25 milhões de pessoas no ano em que o Brasil enfrenta a maior epidemia de dengue.

Para o próximo ano, o ministério comprou 9 milhões de unidades da mesma vacina. Todas serão fabricadas no exterior.

Em outro parecer, a fundação afirma que a “produção da vacina da dengue pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos para imunização da totalidade da população brasileira não é possível, hoje, porque ele já trabalha no limite de sua capacidade produtiva”.

Neste mesmo documento, assinado pelas áreas de licitação e a procuradoria, o órgão ainda diz que a ampliação da capacidade produtiva da Fiocruz para fornecimento da vacina da dengue “condiciona-se à construção” do novo complexo.

O custo para construir a nova fábrica da Fiocruz supera R$ 9,5 bilhões. Além das vacinas, a estrutura abrigará “a fabricação de insumos para a terapia celular CAR-T para leucemia, linfoma, HIV e outras patologias”, afirma documento interno do órgão público.

A Fiocruz ainda busca formas de conseguir verba para a obra.

O PAC deve injetar cerca de 2,1 bilhões até 2027 no laboratório. A fundação também estuda usar a verba da exportação de vacinas, além de atrair investidores.

“Os recursos complementares para o empreendimento, na ordem de R$ 6 bilhões, serão captados junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Banco Mundial, BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e bancos privados”, diz a Fiocruz.

A fundação afirma que o complexo está na fase de preparação de canteiro de obras. A expectativa é concluir a fábrica em 48 meses após o começo da construção, que não tem data exata.

No processo que discute a construção, a Fundação também diz que está com a estrutura atual sobrecarregada e que teme não conseguir mais atender os padrões exigidos pela Anvisa e outros órgãos de fiscalização.

Em nota, o Ministério da Saúde declara que “existe um problema de capacidade produtiva global” para a vacina da dengue. Afirma ainda que vai priorizar instituições, “como o Butantan [que desenvolve uma vacina própria] e a Fiocruz, que apresentem projetos de aumento da produção nacional a curto prazo”.

O ministério diz que “está em interação” com os laboratórios públicos para “viabilizar a máxima produção possível no país”. A pasta não estimou quantas doses podem ser fabricadas no Brasil nos próximos anos.

A Takeda disse que está comprometida em buscar parcerias com laboratórios públicos para acelerar as entregas. “A busca por parcerias nacionais faz parte de um plano estratégico da Takeda para incrementar o fornecimento global da vacina Qdenga, atingir a meta de 100 milhões de doses por ano até 2030.”

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