Exportação agropecuária em 2024 tende a cair em volume

Apesar da perspectiva de menor produção de commodities agrícolas, sobretudo grãos, no próximo ano a receita gerada com a exportação de produtos agrícolas tende a se manter no nível deste ano. Analistas de mercado e entidades do setor ouvidos pelo Broadcast apontam que a acomodação de preços na maior parte das commodities e alta das cotações em algumas cadeias agropecuárias deve sustentar o valor nominal das exportações brasileiras de produtos agrícolas no próximo ano, o que deve compensar o menor volume embarcado.

Nesta conjuntura, o agronegócio, embora tenda a não puxar o aumento dos embarques do País, deve manter sua participação na balança comercial. Em 2023, o setor deve encerrar o ano respondendo por 49% das exportações brasileiras.

Na avaliação do pesquisador e economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) José Ronaldo Souza Júnior, será difícil ver um aumento na quantidade exportada em 2024, devido à perspectiva de uma menor safra de grãos. O mais provável, segundo ele, é haver compensação com preços maiores dos produtos comercializados ao exterior. “É difícil saber quem vai ganhar nessa equação entre volume e receita. Em um cenário conservador, não vejo alta das vendas externas em dólar no ano que vem e a manutenção dos embarques seria um bom resultado, considerando preço e quantidade”, observou.

Para a economista da Tendências Consultoria Gabriela Faria, o recuo em volume das exportações agropecuárias no próximo ano é praticamente certo, com pressão da menor safra em virtude dos efeitos adversos do fenômeno climático El Niño e da recuperação na produção de players como Estados Unidos e Argentina. “Tudo está relacionado com o cenário de oferta. Neste ano, as quantidades mais que compensaram a queda de preço tanto da soja, quanto do farelo e do óleo. Ganhamos espaço internacional nas vendas pela quebra de safra argentina. Em 2024, não teremos espaço tão aberto para a exportação como tivemos neste ano”, avalia.

Em relação à receita oriunda dos embarques dos produtos agropecuários, Faria projeta uma balança “ainda forte”, a depender do comportamento dos preços das commodities. “Talvez perderemos tanto em receita quanto em quantidade se os preços não subirem no próximo ano. A previsão é de um saldo menor que o de 2023, mas robusto historicamente. Mesmo com as perdas na safra de soja e milho e do choque climático, será uma safra grande e com tendência das carnes contribuírem nas exportações”, apontou.

Já a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) projeta queda de 8,6% nas exportações da agropecuária, saindo de US$ 80,200 bilhões em 2023 para US$ 73,315 bilhões em 2024, mas ainda em participação robusta na balança comercial do País. “As exportações de commodities continuam como o motor de sustentação das exportações brasileiras”, afirmou a AEB, em estimativa divulgadas recentemente.

Segundo a entidade, a projeção já contabiliza uma queda na produção de soja e de milho, mas a AEB alerta que pode haver perdas mais agudas na lavoura que o previsto. “As cotações das commodities continuam se mostrando atraentes para os exportadores brasileiros, porém sem garantia de manutenção dos atuais patamares”, apontou a AEB.

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que as exportações do agronegócio devem somar US$ 172,1 bilhões em 2024, ante recorde projetado de US$ 164 bilhões para este ano. O aumento será tímido, na avaliação da CNA, e puxado pela recuperação pontual de preços em algumas cadeias agrícolas, em virtude de um ritmo mais lento de crescimento da economia global e maior produção em players concorrentes do Brasil, caso dos Estados Unidos e da Argentina. No âmbito geopolítico, a CNA avalia que o agravamento do conflito no Oriente Médio pode influenciar custos e rotas marítimas, assim como a disputa entre Estados Unidos e China deve acirrar, a depender também do presidente que será eleito no próximo ano.

“No Mercosul, o presidente eleito da Argentina, Javier Milei, amenizou o tom, mas é preciso ver como lidará com o bloco. A participação da Argentina afeta toda a agenda de negociações e afeta o Brasil, além das críticas do Uruguai que podem afetar o bloco”, afirmou a diretora de Relações Internacionais da CNA, Sueme Mori.

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