(FOLHAPRESS) – Começou nesta terça-feira (26) o julgamento de três ex-agentes da PRF (Polícia Rodoviária Federal) acusados da morte de Genivaldo de Jesus Santos, asfixiado em uma ação policial na cidade de Umbaúba (a 101 km de Aracaju), em 2022.
Os ex-policiais Paulo Rodolpho Lima Nascimento, Kléber Nascimento Freitas e William de Barros Noia são acusados dos crimes de tortura e de homicídio triplamente qualificado. Presos desde o dia 14 de outubro de 2022, os acusados chegaram ao local em veículos separados por volta das 8h.
O advogado Glover Castro, responsável pela defesa de William, alega que não houve intenção de praticar o crime de homicídio. José Rawlinson Ferraz Filho, advogado que faz a defesa de Paulo Rodolpho, reiterou a inocência do ex-policial e classificou sua prisão como uma grave injustiça.
A defesa de Kléber Freitas, representada pelo advogado de Carlos Barros, disse que o julgamento vai esclarecer a verdade e que a atuação de seu cliente esteve plenamente alinhada ao cumprimento de suas funções como policial.
Sobrinho de Genivaldo, Walison de Jesus Santos presenciou a abordagem dele por ex-agentes da PRF.
“Estar aqui já é muito difícil porque eu tenho que relatar e reviver aquele momento. Mas o mais difícil é ver meu sobrinho [filho de Genivaldo] desenhar o pai morando no céu”, disse Walison Santos, emocionado, ao ser ouvido no fórum de Estância (a 69 km de Aracaju).
Durante cerca de três horas de depoimento, o sobrinho da vítima limitou-se a responder aos questionamentos relacionados às imagens mostradas pela defesa.
Foram questões, por exemplo, sobre o tipo de medicamento que o Genivaldo usava, sua condição psicológica e se a vítima tinha permissão para dirigir. Advogados de defesa também perguntaram se houve violência pelos agentes da PRF, ao que ele respondeu que sim, mas não soube explicar quando e quem foram as pessoas que sofreram violência.
Ao ser questionado se ele sabia que o tio tinha uma condição cardíaca, Walison disse desconhecer.
O Tribunal do Júri, esperado para durar de seis a sete dias, contará com o depoimento de 15 testemunhas, entre elas, cinco peritos, além dos réus e dos advogados de defesa.
A defesa dos réus questionou a quantidade de testemunhas de acusação por entender que isso pode prejudicar o julgamento. “Isso vai pesar na decisão da defesa e um desequílibrio na acusação, lesionando o princípio da isonomia”, disse o advogado Glover Castro.
Já a acusação discorda da tese da defesa justificando que os réus são três e respondem pelo mesmo fato. “As testemunhas de acusação poderão ser questionadas por ambos os lados e, portanto, não há problema no número de testemunhas”, afirmou a advogada de acusação, Monalisa Matos.
A expectativa nesta terça era a de que a viúva de Genivaldo Santos, Maria Fabiana dos Santos Estevão, e a irmã da vítima Damarise de Jesus Santos prestassem depoimento ainda nesta terça.
Ainda abalada pela morte do marido e pai do seu filho de 9 anos, Fabiana disse à reportagem, pela manhã, que o início do julgamento marca o fim de uma longa espera, marcada pela dor da perda.
“Não espero nada menos que a condenação dos homens que mataram meu marido e deixaram uma criança órfã de pai. Revivi durante todo esse tempo aquele momento em que meu marido foi morto enquanto eu tentava impedi-los de matá-lo. Eu quero justiça por Genivaldo!”, pede a viúva.
Pela manhã, antes do início do julgamento, familiares e amigos de Genivaldo acenderam velas e espalharam cartazes.
Parentes dos réus também se encontravam no local para acompanhar o julgamento.
Genivaldo tinha 38 anos, era diagnosticado com esquizofrenia e pai de um menino que na época tinha 7 anos. Ele foi morto em 25 de maio de 2022 quando policiais soltaram spray de pimenta e uma bomba de gás lacrimogêneo dentro do porta-malas da viatura em que ele foi colocado após uma abordagem. Na ocasião, ele havia sido parado por trafegar de moto sem capacete.
Antes de ser colocado na viatura, foi imobilizado, atingido com spray nos olhos, jogado ao chão e recebido chutes dos policiais. As investigações apontaram que a Genivaldo ficou 11 minutos e 27 segundos em contato com os gases tóxicos na parte de trás da viatura.
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