Apesar da perda de fôlego da moeda americana no exterior à tarde, inclusive em relação a algumas divisas emergentes pares do real, o dólar não encontrou espaço para recuar no mercado doméstico de câmbio. Após máxima a R$ 5,0916, a moeda encerrou em alta de 0,24%, cotada a R$ 5,0906 – maior valor de fechamento desde 9 de outubro (R$ 5,13). Questões técnicas no segmento futuro, com procura por posições cambiais defensivas e vencimento de NTN-As na próxima semana, e aumento da percepção de risco fiscal teriam jogado contra o real, segundo operadores.
Pela manhã, o dólar até ensaiou mais uma rodada de ganhos em relação a divisas emergentes, ainda sob o impacto da alta da inflação ao consumidor nos EUA, divulgada ontem, e de declarações cautelosas nesta quinta de dirigentes do Federal Reserve, o banco central dos EUA. Isso apesar de a inflação ao produtor nos EUA em março ter vindo abaixo do esperado, sugerindo menores pressões à frente.
À tarde, a moeda norte-americana perdeu força globalmente, em meio ao alívio na curva de juros americana, com taxa da T-note de 2 anos em queda firme, na casa de 4,94%, após máxima a 5,00%. Já o retorno dos Treasuries de 10 anos, que chegou a tocar 4,60% na máxima, operava ao redor de 4,56%.
Entre os principais pares do real, o dólar recuava, no fim da tarde, em relação ao peso mexicano (-0,12%) e ao rand sul-africano (-0,20%). Já o peso chileno apresentava perdas de 0,13%, bem baixo das exibidas pela moeda brasileira. No grupo das divisas de exportadores de commodities, o dólar caia 0,43% em relação ao dólar australiano e 0,39% ante o dólar neozelandês.
Termômetro do comportamento da moeda americana em relação a seis divisas fortes, o índice DXY passou a operar ao redor da estabilidade, na casa dos 105,200 pontos, após máxima aos 105,527 pela manhã. O euro sofreu com os sinais da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Cristine Christine Lagarde, de que não vai esperar o Fed para começar a reduzir os juros.
O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, observa que o real já apresentava desempenho inferior a de seus pares latino-americanos nas últimas semanas. Ele destaca que houve aumento dos ruídos políticos domésticos, como a novela em torno de eventual troca de comando e da distribuição de dividendos da Petrobrás.
“Além disso, existe uma piora dos sinais no panorama fiscal, o que deixa os investidores na defensiva”, diz Galhardo, ressaltando que houve uma safra de notícias sugerindo que a ala política do governo ganha força na queda de braço com a equipe econômica.
Além das discussões para mudança da meta de primário tanto para este ano quanto para 2025, houve retirada de urgência do projeto de lei de reoneração de 17 setores da economia. Ontem à noite, o líder do governo no Senado, Jacques Wagner, afirmou que há entendimento na casa arcabouço fiscal e abre brecha para antecipar R$ 15 bilhões em despesas.
Do lado técnico, parece seguir em curso o desmonte de posições vendidas em dólar por parte de fundos locais. Na contrapartida, os estrangeiros mantêm um estoque elevado de hedge cambial. Ontem, o investidor não residente aumentou sua posição comprada em dólar em US$ 3,1 bilhões, segundo dados da B3.
Operadores lembram também que o vencimento de NTN-A (papel atrelado à taxa de câmbio) em 15 de abril é superior a US$ 3,5 bilhões, mas que o Banco Central vendeu apenas US$ 1 bilhão em swaps cambiais extras neste mês. Haveria, portanto, ainda um descasamento expressivo entre oferta e demanda por dólar futuro – o que pode pressionar as cotações no curto prazo.