O dólar à vista subiu 0,15% em relação ao real hoje, a R$ 4,9369, acompanhando em parte a alta global da moeda americana. A incerteza dos investidores antes da decisão de juros do Federal Reserve (Fed), nesta quarta-feira, ajudou a sustentar os ganhos. Aqui, dúvidas sobre a capacidade de o governo aprovar seu pacote de arrecadação no Congresso a duas semanas do recesso parlamentar, em 22 de dezembro, também pesaram sobre o real.
A combinação desses fatores garantiu o terceiro dia seguido de valorização da divisa americana ante a brasileira. Hoje, ela oscilou entre a mínima de R$ 4,9302 (+0,01%) e a máxima de R$ 4,9599 (+0,62%), ambas vistas durante a manhã. O índice DXY, que mede a variação do dólar ante seis rivais fortes, chegou a subir mais de 0,20%, mas fechou o dia mais próximo da estabilidade (+0,08%).
Assim como na última sexta-feira, as apostas na condução da política monetária pelo Fed deram o tom dos negócios. Depois de o ‘payroll’, relatório de empregos dos Estados Unidos, ter mostrado geração de vagas mais forte que o esperado, investidores aproveitaram o dia para se posicionar para os próximos dados. Amanhã, antes da decisão do Fed, ainda serão divulgados os números da inflação ao consumidor (CPI) americana.
“O ‘payroll’ pode ter sido um ponto sazonal, mas, se a inflação vier mais puxada, o mercado pode ficar com uma aposta de que os juros dos Estados Unidos não vão cair tanto. Então, os investidores acabam fazendo um hedge agora”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. “O dólar puxando um pouco mais hoje foi principalmente essa pressão pré-Fed e, aqui, o fiscal incerto deixou o real um pouco mais volátil.
O diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha, lembra que o mercado acabou adotando uma postura mais avessa ao risco após o ‘payroll’. Essa tendência, ele acrescenta, é fortalecida pela bateria de decisões de política monetária da semana. Além do Fed, o Banco Central brasileiro também decide sobre os juros na quarta. Na quinta-feira, é a vez do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco da Inglaterra (BoE).
A aposta majoritária do mercado é que o Fed vai manter os juros na faixa de 5,25% a 5,50%, mas os investidores aguardam sinalizações do presidente do BC americano, Jerome Powell, para balizar as apostas no início do ciclo de cortes.
A incerteza no front doméstico está concentrada na capacidade do governo de fazer andar o seu pacote de aumento da arrecadação no Congresso. Hoje, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse estar confiante na aprovação das medidas.
“O ambiente fiscal brasileiro é o que tem prejudicado o real”, afirma Rolha, da Venice. “Mas, na medida em que lá fora tivermos novas informações benéficas e um ambiente macro melhor, o real tem espaço para performar muito bem, até aquele suporte de R$ 4,85, pelo fluxo que o estrangeiro aporta aqui. Acho que o Brasil, por fundamento e exclusão de opções, ainda acaba sendo o melhor entre os emergentes.”