Dólar fecha em queda com inflação dos EUA, Galípolo e Powell no radar

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar teve queda de 0,07% nesta quarta-feira (12) e encerrou o dia cotado a R$ 5,762, em mais um pregão de perdas para a moeda norte-americana.

 

A divisa chegou a ensaiar um movimento de alta ainda no começo da manhã e tocou a máxima de R$ 5,787 na esteira dos dados de inflação dos Estados Unidos, mas perdeu força e passou a oscilar entre os sinais ao longo de boa parte da sessão.

Já a Bolsa despencou 1,69%, aos 124.380 pontos, também afetada pela cena macroeconômica.
Falas do presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, e do presidente do

Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano), Jerome Powell, também estiveram no radar dos investidores.

O foco esteve voltado aos dados do CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. A inflação aumentou mais do que o esperado em janeiro, a 0,5% na base mensal e 3% na anual. A projeção de economistas consultados pela Reuters era de 0,3% e 2,9%, respectivamente.

O dado reforça a mensagem do Fed de que não há pressa em retomar o ciclo de afrouxamento da taxa de juros -e reduz as expectativas sobre o número de cortes. Operadores já precificam a possibilidade de apenas uma redução neste ano, e não duas, como anteriormente previsto pelo banco central dos EUA.

Powell, porém, fez um alerta sobre dar importância demais aos dados desta quarta. “A leitura do índice ficou acima de quase todas as previsões, mas eu gostaria de oferecerduas notas de cautela”, disse, em uma audiência perante o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados.

“A primeira é que não nos empolgamos com uma ou duas leituras boas, e não nos estimulamos com uma ou duas leituras ruins. A segunda coisa é que temos como meta a inflação do índice PCE porque achamos que é simplesmente um indicador melhor da inflação. Portanto, é preciso saber a conversão do índice de preços ao consumidor para o índice PCE, e amanhã teremos mais dados sobre isso com o índice de preços ao produtor”, argumentou.

Ele acrescentou que o Fed deverá manter a política monetária restritiva por enquanto. Na véspera, em audiência no Senado, evitou comentar sobre a política tarifária do presidente dos EUA, Donald Trump, que tem inspirado cautela nos mercados globais.

Trump confirmou na segunda que irá impor tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio que chegam ao país. Ele também cancelou isenções e cotas para grandes fornecedores como Brasil, Canadá, México e outros países, em uma medida que pode aumentar o risco de uma guerra comercial em várias frentes.

O Brasil é o segundo maior fornecedor dos Estados Unidos na categoria. Segundo dados do governo americano, o país só perde para o Canadá em volume.

Uma autoridade da Casa Branca confirmou que a política entrará em vigor em 4 de março. Trump também tem repetido que anunciará reciprocidade tarifária nesta semana. A medida visa igualar as tarifas de importação dos Estados Unidos às cobradas pelos parceiros comerciais sobre produtos norte-americanos.

Trump não identificou quais países seriam afetados, mas sugeriu que seria um esforço amplo que também poderia ajudar a resolver os problemas orçamentários dos EUA.

O aumento substancial nas tarifas tem o potencial de encarecer o custo de vida dos norte-americanos, o que pode comprometer a briga do Fed contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados.

Quanto maiores os juros por lá, mais atrativos ficam os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, os chamados treasuries, o que fortalece o dólar globalmente.

“O saldo dessa medida deve ser uma pressão inflacionária no curto prazo nos Estados Unidos, visto que o aço e o alumínio são bastante utilizados em várias cadeias de produtos industriais, e de prejuízo na capacidade de crescimento econômico dos demais países exportadores”, avalia Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

O desempenho do dólar globalmente, porém, põe a tese em xeque. Analistas apontam que a percepção dos mercados quanto às ameaças tarifárias tem mudado: agora são vistas muito mais como uma tática de negociação do que uma medida de médio ou longo prazo.

No Brasil, o movimento no câmbio é atribuído a uma correção do valor do dólar, que disparou no final do ano embalado pela crise da cena fiscal doméstica.

“Diante dos efeitos que juros mais altos nos Estados Unidos exercem sobre moedas emergentes, como o real, o recente desempenho da divisa brasileira indica continuidade de ajustes na cotação, após a forte desvalorização observada em dezembro”, avalia André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.

Internamente, destaque para os comentários de Gabriel Galípolo no Seminário sobre Política Monetária Brasileira, promovido pelo Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças, no Rio de Janeiro.

Ele afirmou que cabe à autoridade monetária ter “parcimônia” na observação de dados econômicos para ter a certeza de que eles confirmam uma tendência, e não uma volatilidade.

“Reação preventiva precisa sempre existir, mas é esperado também que o BC tenha uma função de reação assimétrica para altas e para baixas (da Selic). Se o BC deve ser mais agressivo num momento de alta, ele deve ser mais parcimonioso e cauteloso no momento de fazer qualquer movimento para baixo”, disse.

A autarquia decidiu em janeiro seguir o ritmo de aperto nos juros já previsto ao elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, a 13,25% ao ano, e manteve a orientação de repetir a dose em março, deixando os passos seguintes em aberto.

Galípolo disse ser natural que os agentes de mercado observem dados de atividade para monitorar os efeitos da política monetária, mas sugeriu cautela nas avaliações.

“O Banco Central vai tomar o tempo necessário para ter a certeza de que os dados que estão chegando confirmam uma tendência, e não simplesmente volatilidade de dados de alta frequência”, afirmou.

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