O dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 16, cotado a R$ 5,1302, em queda de 0,13%, apesar do sinal predominante de alta da moeda norte-americana no exterior e do avanço das taxas dos Treasuries. Operadores afirmam que o dia foi de ajustes de posições, com a moeda brasileira favorecida pela entrada de exportadores para aproveitar as cotações mais elevadas e pela de valorização de commodities como o minério de ferro.
Nas primeiras horas de negociação, o dólar até ensaiou uma queda mais acentuada e foi negociado na casa de R$ 5,10 na mínima (R$ 5,1056). A percepção era que o real buscaria recuperar o terreno perdido na quarta-feira, quando não conseguiu acompanhar a valorização de divisas emergentes em razão dos ruídos com a troca de comando na Petrobras.
Após o alívio com a inflação ao consumidor na quarta-feira, dados norte-americanos divulgados pela manhã reforçaram a percepção de que a economia dos EUA dá sinais, ainda que tênues, de desaceleração. O Federal Reserve (Fed, o banco central do país) informou que a produção industrial nos EUA ficou estável em abril na comparação com março, enquanto analistas esperavam alta de 0,2%. Além disso, os pedidos de auxílio-desemprego nos EUA caíram 10 mil na semana, a 222 mil, um pouco acima da previsão de 218 mil.
O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, observa que exportadores aproveitam para internalizar recursos quando a taxa de câmbio se aproxima de R$ 5,15, o que leva a momentos pontuais de queda mais forte do dólar no mercado doméstico. “De resto, estamos ainda muito dependentes dos dados americanos e dos sinais do Fed. Vimos até uma diminuição recente de posições ‘compradas’ em dólar, mas o clima é de cautela ainda com a economia americana”.
A recuperação da moeda brasileira foi limitada tanto pela própria manutenção de percepção de risco doméstico quanto por uma aceleração dos retornos dos Treasuries, em meio a declarações mais duras de dirigentes do Banco Central norte-americano.
No início da tarde, a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, reiterou que o BC americano ainda precisa de mais confiança de que a inflação ruma para a meta. Apesar da boa noticia do CPI de abril, a perda de fôlego dos índices de preços tende a ser mais lenta do que no fim de 2023, sugerindo que o Fed pode postergar mais o início de um eventual ciclo de cortes de juros.
“O dólar até chegou a cair com mais força pela manhã, após o estresse de ontem com a Petrobras. Mas acabou reduzindo a queda com o exterior. As taxas dos Treasuries atingiram máximas ao longo da tarde”, afirma o operador de câmbio Hideaki Iha, da Fair Corretora, para quem uma recuperação mais forte do real pode ocorrer apenas quando o Fed sinalizar ao menos um corte de juros neste ano. “Por enquanto, o discurso do Fed ainda é de cautela, o que mantém o dólar forte no mundo”.
Iha ressalta que a perspectiva de que a taxa Selic permaneça em dois dígitos neste ano tende a evitar uma depreciação mais acentuada do real. No curto prazo, apesar da saída forte de recursos pela conta financeira, a moeda brasileira ainda é amparada também pelo fluxo comercial, uma vez que é temporada de exportação de soja. “Com a taxa de juros alta, é muito caro carregar posições compradas em dólar. E toda a vez que a taxa de câmbio tenta se aproximar de R$ 5,20, aparece exportador na ponta da venda”, diz o operador da Fair Corretora.