Diversos profissionais estão gravando a própria demissão e compartilhando nas redes sociais, especialmente no TikTok. A maioria dos cortes, conforme relatos dos vídeos, foi feita por chamada de vídeo. Nos últimos meses, os registros acumularam milhões de visualizações.
Especialistas ouvidos pelo Estadão avaliam que a prática da “demissão responsável” – conjunto de ações para minimizar os impactos negativos que o fato gera na vida do profissional – ainda é incipiente no País.
“As lideranças não recebem treinamento nem se planejam. Elas só vão pensar em como fazer uma demissão quando precisam, de fato, demitir”, diz Lucy Nunes, fundadora da Prepara.me, empresa focada em demissão responsável.
Segundo ela, o despreparo acaba deixando o líder inseguro. Em muitos casos, ele não tem ideia de o que precisa ser dito e teme que surja alguma dúvida. A reação é se livrar da situação o quanto antes. “As pessoas têm medo de demitir porque não sabem como dar a notícia.”
MENOS DE 1 MINUTO
O reflexo desse comportamento pode ser visto nos vídeos compartilhados na internet. A maioria das pessoas reclama da falta de transparência. Dizem não ter recebido qualquer feedback anteriormente. Algumas foram desligadas por chamada de vídeo de menos de um minuto.
Geralmente, os cortes acontecem por três motivos: comportamento, entrega ou demissões em massa. Em todas as condições, é possível fazer um desligamento responsável, “no sentido de a empresa entender que o corte causa impacto na vida emocional e financeira da pessoa, e como pode minimizar esses efeitos”, diz Lucy.
O processo que antecede a demissão envolve, principalmente, a prática de feedbacks. Caso o motivo do corte seja desempenho ou entrega, é imprescindível que o funcionário tenha recebido previamente informações a respeito do trabalho desenvolvido, além de sugestões para melhoria. Se, por alguma razão, a pessoa não apresentou mudanças, a demissão não será uma surpresa.
Já o corte em massa exige uma preparação mais complexa. Nos último anos, grandes companhias convocaram centenas de funcionários para uma reunião online com o objetivo de realizar as demissões.
Lucy reconhece que o cenário é desafiador porque acontece no mesmo dia em várias áreas. Ainda assim, ela defende que o corte responsável é viável, desde que tenha planejamento, como a escolha de horários e um plano de ação e benefícios para auxiliar o colaborador na recolocação profissional.
A cultura de transparência permite que o funcionário recalcule a rota profissional com mais clareza e, do lado da empresa, evita que a reputação da companhia seja comprometida, aponta Valéria Viana, consultora de carreira. Ela também faz um alerta para as pessoas que decidem gravar a própria demissão: “Precisa ter cuidado de como vai conduzir (gravação), para que a empresa não tome medidas legais e não gere impacto negativo na carreira.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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