A resiliência da economia nos últimos trimestres, mesmo durante o período com a Selic estacionada em 13,75%, levou o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central a debater “amplamente” os motivos para a surpresa na atividade. Na semana passada, o colegiado reduziu a taxa básica de juros pela segunda vez consecutiva, de 13,25% para 12,75% ao ano.
De acordo com a ata da reunião, publicada nesta terça-feira, 26, pelo Banco Central, a primeira possibilidade levantada pelos diretores do BC é que a pujança da agropecuária tenha tido efeitos indiretos sobre outros setores da economia. Para o Copom, porém, embora esse efeito exista, ele não explicaria toda a magnitude da surpresa na atividade.
“Outra possibilidade é que a elevação de renda disponível, seja em função do dinamismo do mercado de trabalho, da queda de preços de alimentos ou de programas de transferência de renda, também tenha fornecido algum suporte para o consumo. O Comitê se deteve sobre esse tema, identificado como muito relevante, e destacou que a conjectura de um crescimento sustentado pela elevação da renda é corroborada pela resiliência no consumo de serviços das famílias. Ademais, discutiu-se, consequentemente, o possível impacto que poderia ocorrer sobre a dinâmica da inflação de serviços em caso de um crescimento sustentado pela renda e pelo consumo”, disse o Copom.
A terceira hipótese seria uma taxa de juros neutra mais elevada, mesmo que essa possibilidade tenha menor impacto sobre variações de curto prazo. O Copom, entretanto, decidiu manter sua avaliação mais recente sobre a taxa neutra publicada no Relatório de Inflação de junho de 2023, de 4,5%.
A quarta possibilidade seria uma elevação do crescimento potencial nos últimos trimestres devido a reformas regulatórias e avanços institucionais. “Ainda que julgue nesse momento prematuro reavaliar o crescimento potencial, o Comitê pondera que a persistência de um crescimento resiliente nos próximos trimestres sem impacto inflacionário pode, no futuro, levar a uma reavaliação do crescimento potencial. Notou-se que cada uma dessas quatro possibilidades tem implicações diferentes para a condução da política monetária”, concluiu o BC.
Hiato do produto
O Copom afirmou, na ata de seu encontro da semana passada, que o hiato do produto está mais apertado do que era estimado anteriormente, mas ponderou que segue esperando um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres. O debate sobre a ociosidade na economia e o potencial de crescimento estrutural do País ganhou fôlego após nova surpresa positiva do Produto Interno Bruto (PIB) nos segundo trimestre (0,9%).
“Em sua discussão, o Comitê julgou que há elementos que elevam a incerteza das estimativas e adicionam um viés para cima nas revisões das estimativas do hiato do produto utilizadas pelo Comitê”, disse o BC, na ata, após esclarecer que houve análise de diferentes medidas de hiato e sobre quais seriam os impactos sobre as projeções das diferentes hipóteses. O comitê ainda ponderou novamente que o impacto do período da pandemia dificulta a inferência do hiato do produto.
Em relação ao crédito, o Copom avaliou que a desaceleração nas concessões está em linha com a postura da política monetária. No período recente, o colegiado observou um arrefecimento mais acentuado na concessão a empresas e menor desaceleração para consumidores, sendo menos acentuada em modalidades de baixo custo. “Em que pese as condições monetárias restritivas, enfatizou-se que já se observa a transmissão do ciclo de política monetária esperado pelo mercado para as taxas correntes de novas concessões, levando também a um maior dinamismo dos mercados de capitais”, acrescentou.
Já sobre o mercado de trabalho, a avaliação do Copom foi dividida. Após debate “profundo”, alguns membros continuaram a considerar que há moderação no mercado de trabalho, apontando para a desaceleração no ritmo de contratação no mercado formal e para a queda na taxa de participação. Já outros diretores do BC enfatizaram a queda na taxa de desemprego e o ritmo ainda elevado de contratações no emprego formal. “O Comitê concordou que não há evidência de pressões salariais elevadas nas negociações trabalhistas.”