Compensa comprar ações da Petrobras e da Vale? Entenda

(FOLHAPRESS) – Nos últimos 12 meses, as ações da Petrobras (PETR4) subiram 81,5%, a R$ 34,72 cada uma, enquanto a Vale (VALE3) se desvalorizou 2%, a R$ 71,55. Será que vale a pena investir nesses papéis?

A recente divulgação dos balanços do terceiro trimestre, com lucros bilionários e dividendos polpudos em ambos os casos, gera uma boa oportunidade para o investidor analisar as maiores companhias da Bolsa.

Antes de mergulhar nas finanças dessas empresas, é preciso se atentar ao perfil de risco. Segundo especialistas, os mais conservadores devem evitar ações.

Mesmo os mais arriscados precisam montar uma carteira balanceada antes de entrar na Bolsa, além de assegurar a reserva de emergência em um instrumento de renda fixa com liquidez diária.

Petrobras (PETR4 e PETR3)

No terceiro trimestre de 2023, a Petrobras lucrou R$ 26,63 bilhões, 42% menos do que no mesmo período do ano passado e cerca de R$ 2 bilhões abaixo do esperado pelo mercado.

A menor rentabilidade é fruto do recuo nos preços do petróleo e nas margens dos derivados no mercado internacional, por mais que a produção da estatal tenha aumentado 10%.

No média para o período, o barril de petróleo Brent, referência internacional, foi negociado a US$ 86,76, enquanto no terceiro trimestre do ano passado, com a então recente guerra da Ucrânia, ele estava a US$ 100,85. Na sexta-feira (10), a cotação da commodity era de US$ 81,70.

Apesar de novos recordes no preço do petróleo não estarem à vista, analistas não o veem baixando tão cedo, especialmente com a guerra entre Israel e Hamas.

O que mais preocupa o mercado quanto à petroleira é a sua política de dividendos e de investimentos.

A atual fórmula para a distribuição do lucro é: se a dívida bruta da companhia for igual ou menor do que US$ 65 bilhões, ela obrigatoriamente distribui 45% do seu fluxo de caixa livre. No terceiro trimestre, a dívida teve uma alta anual de 12,4% e chegou a US$ 61 bilhões.

Por enquanto, as perspectivas não são de menos endividamento. O conselho da Petrobras deve se reunir no dia 23 de novembro para definir a política de investimentos da companhia entre 2024 e 2028.

O esperado é que a estatal aumente os gastos para financiar a transição energética, o que poderia levar a uma menor distribuição de dividendos.

“Não julgamos [matrizes energéticas sustentáveis como] um negócio tão interessante quanto o segmento de exploração e produção do ponto de vista de geração de valor. Sendo assim, preferimos nos manter conservadores e esperar [a reunião]”, dizem analistas da Genial Investimentos, em relatório.

No curto prazo, porém, a expectativa do mercado é de uma grande distribuição de lucro no início de 2024, referente a 2023.

Na semana passada, a Petrobras aprovou um pagamento de R$ 17,5 bilhões em dividendos e JCP (juros sobre capital próprio) com base no terceiro trimestre. O equivalente a R$ 1,34 por papel para quem o tiver no próximo 21 de novembro.

Para o UBS BB, tal nível de distribuição de lucro ainda é muito atrativo, especialmente em relação aos pares do setor, e compensa o que o banco vê como “uma deterioração da governança”, com o fim da paridade internacional na política de preços da companhia.

Segundo a instituição, o que coloca em risco o investimento em Petro, é uma possível redução na remuneração aos acionistas, um plano de investimento mais elevado ou então a compra da fatia da Novonor (ex-Odebrecht) na Braskem.

Por enquanto, o UBS BB recomenda o investimento no papel, vendo potencial para ele chegar a R$ 42 nos próximos 12 meses, uma valorização de 21% em relação ao preço atual.

Vale lembrar que a Petrobras foi a segunda maior pagadora de dividendos do mundo –atrás apenas da mineradora BHP– em 2022, distribuindo US$ 21,7 bilhões, mais que o dobro de 2021, quando acionistas levaram US$ 9,1 bilhões.

VALE (VALE3)

Já a Vale lucrou R$ 13,8 bilhões no terceiro trimestre de 2023, queda anual de 41%, mas acima dos R$ 12 bilhões esperados por analistas. No entanto, esta é a terceira queda consecutiva nos lucros da companhia, dado o recuo dos preços do minério em relação a 2022.

Em junho de 2021, a commodity chegou ao recorde de R$ 219,77 por tonelada.

Em setembro daquele ano, com o estouro da crise na incorporadora chinesa Evergrande, ela caiu a US$ 116 e, dois meses depois, a US$ 92. Desde então, a cotação acompanha as expectativas por incentivos econômicos do governo chinês.

Na sexta, o minério de ferro estava a US$ 131,84, maior valor desde agosto de 2022, com a perspectiva de novos cortes nas taxas de juros na China e preocupações com a oferta da matéria-prima. O gigante asiático é o maior consumidor de aço no mundo, o que faz a Vale ser diretamente dependente dele.

“Mas os investidores não veem o atual nível de US$ 120 por tonelada como sustentável”, diz relatório do Goldman Sachs, que é neutro em relação à compra das ações da Vale.

Já o BB Investimentos recomenda a compra e vê potencial para a ação chegar a R$ 94, o que seria uma valorização de 31% em relação ao preço atual.

“Os dados econômicos divulgados pela China e os sinais acerca de novos estímulos a serem adotados devem voltar a impulsionar o papel no curto prazo”, disse o banco, em relatório.

O Santander também indica o investimento e prevê que o papel chegue a R$ 88 no próximo ano. Segundo o banco, há espaço para maiores dividendos e programas de recompra de ações.

Referente ao terceiro trimestre, a companhia vai distribuir R$ 10 bilhões em dividendos e JCP. Serão R$ 2,33 por ação para quem a tiver na carteira em 21 de novembro. Outra forma de remunerar os acionistas é com um novo programa de recompra de ações, pelo qual a Vale vai adquirir 3,5% do seu capital, elevando o valor das ações que restarem no mercado.

Na avaliação da Guide, a empresa se encontra em um momento de transição, no qual os resultados da operação de minério têm sido mais fracos, e a melhora na produção e vendas de metais básicos ainda não veio.

Mesmo assim, a corretora recomenda a compra, com preço-alvo de R$ 80, uma valorização em potencial de 12%, por ver a ação barata. “Também por acreditarmos que o risco de uma desaceleração brusca nos resultados no curto prazo é baixo: historicamente, o preço do minério caiu mais com aumento da oferta, o que não deve ocorrer no curto prazo do que com redução da demanda”.

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