Como João Guilherme Silva vai resgatar as origens de Faustão em seu programa

HENRIQUE ARTUNI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Boa noite, galera!” A mudança é sutil, mas expressiva. Em vez do redondo e curto “Alô!” eternizado por Faustão nas tardes de domingo, é a linguagem despojada e João, seu filho, que surge no tablado numa noite de segunda-feira.

O Teatro Itália Bandeirantes, no centro de São Paulo, estava longe de atingir a sua lotação de 290 pessoas. João estava ali -uma mão ocupada com o microfone, outra com cartelas, à moda do pai-, não em rede nacional, mas recebendo jornalistas e executivos da Band, antes de deslanchar no dia seguinte com a gravação do programa, que vai ao ar neste sábado (21), às 20h30.

É a primeira investida solo do garoto de 19 anos após acompanhar o pai por um ano e meio no Faustão na Band, atração encerrada após um ano e meio no ar, em agosto passado. Aproveitando um horário sem outros programas de auditório, Silva tentará escapar dos bordões do pai com espontaneidade, investindo primeiro em programas gravados antes de partir para o terreno caótico do ao vivo, mas que deve, segundo ele, ser o futuro da TV.

O Programa do João quer resgatar o espírito do Perdidos na Noite, que Faustão estreou aos 36 anos no Teatro Gazeta, buscando chamar o público e se afastar dos estúdios. “A gente quer trazer quem está na plateia, nada programado. O cara quer cantar, quer mostrar seu talento, é só subir no palco”, diz ele à Folha de S.Paulo.

A atração vai competir com o Jornal Nacional e a novela “Terra e Paixão” na Globo. Silva diz querer proporcionar um novo hábito para as famílias, tentando surfar na audiência do Jornal da Band.

“A própria TV tem preconceito com o sábado, mas é porque falta conteúdo. Não vou competir com nenhum programa de auditório”, afirma. No dia, a Globo tem ainda o vespertino Caldeirão com Mion e o Altas Horas, de Serginho Groisman, beirando a madrugada.

Se no Faustão na Band era o pai quem conduzia os quadros mais relevantes, agora é o filho quem deve manter o ritmo com a plateia, sua banda -como foi Caçulinha por 20 anos para o Faustão- e os convidados.

João divide o palco com um humorista sob a pele do Cachorrão -uma espécie de Louro José capaz de imitar Datena, Raul Gil e Sonia Abrão enquanto comenta o programa– e uma terceira presença, uma mulher, que ainda será definida num concurso via Instagram.

Na coletiva de imprensa, João, ao lado de cabeças da produção -como Cris Gomes, Beto Silva e Renato Moreira, tradicionais parceiros de Faustão- disseram ter notado tal ausência no meio das reuniões.

Sem um time de dançarinas ou repórteres na plateia, Silva diz que ainda serão definidos os critérios da seleção, mas que a produção está aberta para candidatas de todas as idades e regiões do Brasil. Gomes, o diretor artístico, diz que o concurso é parte da generosidade de Silva para encontrar novos talentos, que “se tiverem sotaque a gente vai adorar”.

O filho diz ter discutido os rumos do programa com Faustão durante o período em que o apresentador ficou internado para um transplante no coração, até como uma forma de aliviar a tensão pelo procedimento. “Ele canalizou muito do tempo lá [no hospital] para participar.”

A princípio, o Programa do João não terá quadros fixos nem será ao vivo -até fevereiro, Silva vai treinar com gravações antes de começar a rodar por vários teatros do país. “Se o Faustão na Band fosse semanal, eu não teria pegado o ritmo”, diz ele. “O ao vivo vai dar continuidade à TV. O público assiste coisas gravadas na hora que quer.”

É também uma ocasião para treinar outro conselho do pai, de dizer o que pensa. “Tinha medo de errar, especialmente hoje, com a política do cancelamento. A gente acaba se retraindo de falar alguma besteira. Com o programa gravado, a gente se solta.”

João Silva, nome tão comum, o filho de Faustão não está sendo vendido pela Band como um João ninguém. Na coletiva de imprensa, a emissora preparou um vídeo com a sua evolução recente, com epítetos como “aprendeu na prática”, “seguindo os passos do pai” e “galã”.

Para o público da TV, das revistas de fofoca e das redes sociais, João Silva já teve várias faces. Sua única aparição na Globo foi em 2014, aos dez anos, quando jogou um balde de pipoca no pai. Nas fotos das reuniões familiares, o primeiro filho era o mais parecido com o pai, não só pelas feições, mas pelo porte físico, alto e gordo.

Aos 16 anos, beirando os 145 quilos, fez uma cirurgia bariátrica -assim como o pai, aos 59. Em 2022, com 75 quilos a menos, assumiu o namoro com a modelo Schynaider Moura, de 35 anos, após arrematar um almoço com ela durante um leilão na casa do jogador Ronaldo -muito próximo de Faustão, e de quem João foi padrinho de casamento. Não por acaso, o Fenômeno e sua família serão os convidados do programa de estreia.

Na emissora, Silva passou de um rapaz imberbe de cabelo mais longo, com paletó azul, para um jovem cabelo espetado, de barba rala, ostentando tênis de marca, relógios suíços e camisas ora discretas, ora estrambólicas como as do pai.

Nos bastidores, Silva ensaia uma jornada longe dos holofotes. “Meu pai sempre teve muitos amigos na publicidade, que anda lado a lado com a televisão. O programa tem uma equipe comercial, mas no começo fui eu quem fiz todas as vendas, a partir dos meus relacionamentos”, diz Silva, que participa desde criança das “resenhas” de seu pai com nomes influentes do meio. Os patrocínios fechados garantem ao menos um ano de sustento ao programa.

No último programa do Faustão na Band, os irmãos Lara, de 25 anos, e Rodrigo, de 15, levaram João às lágrimas com suas participações na despedida do pai. Ainda no assunto família, Silva participou recentemente da Batalha do Lip Sync, no programa de Luciano Huck, com João Augusto Liberato, de 21 anos, filho de Gugu, outro jovem que está cavando seu espaço nas telinhas.

“Seguimos falando pelo Instagram após a gravação. Agora ele está nos Estados Unidos e devemos nos encontrar no Teleton. A produtora está de portas abertas para ele e vamos trazê-lo ao programa, se ele quiser”, diz Silva.

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