Como escândalo de ‘sessões fantasma’ gerou crise na indústria coreana de cinema

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A indústria de cinema sul coreana enfrenta uma crise desde a semana passada. Alegações levaram o comitê anticorrupção da Agência de Polícia Metropolitana de Seul a investigar os resultados de público divulgados por grandes empresas do setor. De acordo com a polícia, existe uma prática entre salas de cinema e distribuidores que pode configurar fraude.

Na mira estão 69 executivos responsáveis pelas exibições de pelo menos 323 filmes que tiveram seus números inflados por sessões de cinema consideradas “fantasma” nos últimos 5 anos. As exibições somam 2,67 milhões de ingressos que, ao invés de serem efetivamente utilizados, teriam sido comprados pelas distribuidoras e não corresponderam a público presente nas salas.

Por outro lado, especialistas no setor avaliam que a acusação não configura um crime, mas uma prática amplamente conhecida da industria sul coreana. As empresas de cinemas multiplex -quando há várias salas de cinema no mesmo complexo-, propriedade dos maiores conglomerados da indústria, são criticadas por exigir das distribuidoras condições que resultam nesse modelo.

“É ridículo que eles afirmem que tais práticas são ilegais”, afirma um membro da indústria ouvido pelo portal The Hollywood Reporter “Alguns cinemas só selecionariam e exibiriam filmes quando os distribuidores comprassem os assentos com antecedência.”

O crítico de cinema Oh Dong-jin afirma que nem existem diferentes práticas, entre o marketing legítimo de compra de ingressos para distribuição e outras mais agressivas e potencialmente mal intencionadas. “As empresas realizam exibições para a imprensa, exibições VIP e exibições da indústria antes do lançamento de um filme”, afirma Oh. É preciso haver um sistema para detectar esses casos fraudulentos, mas você não pode simplesmente apontar para as exibições esgotadas com baixo comparecimento e chamar isso de crime, dado o atual sistema de bilheteria.”

A polícia de Seul, no entanto, parece considerar todas as atividades criminosas, sem fazer grandes distinções entre elas. As desconfianças surgiram ainda em 2022. A Coreia enfrentava um período de restrição contra a pandemia de Covid-19 quando o filme “Declaração de Emergência” ultrapassou a marca de 2 milhões de ingressos vendidos em apenas 18 dias. A marca parecia exagerada para a situação. Pouco tempo depois, a polícia começou investigações, invadindo escritórios das empresas envolvidas.

Parte do problema vem da política de resultados adotada pelo conselho cinematográfico da Coreia. A instituição se baseia no número de ingressos emitidos como principal métrica de bilheteria, em vez de receita de vendas, o que pode estimular as práticas criticadas.

“A controvérsia sobre a manipulação de bilheteria na indústria cinematográfica prejudicou a confiança do público no sistema integrado de contagem de ingressos do Conselho de Cinema Coreano, bem como na indústria cinematográfica”, disse o Ministro da Cultura da Coreia, Park Bo-gyun. “Para restaurar a confiança, o conselho precisa tomar várias medidas, como mudar os atuais métodos de contagem de bilheteria de baseados em ingressos para baseados em receitas”

A crise acompanha um momento frágil da indústria cinematográfica na Coreia que após a pandemia viu sua receita despencar. De acordo com o Conselho de Cinema Coreano, o total de ingressos de filmes da Coreia do Sul no primeiro semestre de 2023 foi de 58,39 milhões, apenas 57,8% da média de público durante o mesmo período de 2017 a 2019.

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