COI diz que recebeu testes de gênero de pugilistas, mas que exames ‘não são legítimos’

ANDRÉ FONTENELLE
PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – O Comitê Olímpico Internacional (COI) admitiu ter recebido em junho uma carta da Associação Internacional de Boxe (IBA) contendo supostos resultados de testes de gênero das pugilistas Imane Khelif, da Argélia, e Lin Yu-ting, de Taiwan.

 

Acusadas de terem falhado nos testes, as duas estão participando do torneio olímpico de boxe, organizado pelo COI, apesar de terem sido excluídas das competições da IBA. A presença de ambas nos Jogos de Paris gerou uma controvérsia mundial nas redes sociais -onde foram falsamente apontadas como não sendo mulheres.

“Mesmo a forma como esse material foi compartilhado é contra a ética. São ataques graves aos direitos das mulheres envolvidas”, acrescentou Adams. “O método, a ideia do teste, feito da noite para o dia, nada disso é legítimo nem merece resposta, muito menos em detalhe.”

O COI se mantém em firme defesa das duas pugilistas, reiterando que não são homens nem trans. O critério usado para autorizá-las a competir é o gênero no passaporte.

Khelif e Lin vão subir ao pódio. Estão classificadas para as semifinais das categorias até 66 kg e até 57 kg, respectivamente. No boxe, os semifinalistas derrotados garantem a medalha de bronze, já que não há disputa do terceiro lugar.

A relação entre o COI e a IBA é a pior possível. Em 2019, o comitê retirou da entidade pugilística a organização do boxe olímpico, alegando falta de credibilidade e de governança.

Na sexta-feira (2), o presidente da IBA, o russo Umar Kremlev, ligado ao líder Vladimir Putin, publicou vídeo no YouTube dizendo que o presidente do COI, o alemão Thomas Bach, “se borra nas calças” e que a cerimônia de abertura dos Jogos apresentou “sodomia”.

O que diz a IBA
Em nota publicada em seu site na última semana, a IBA reafirmou sua convicção de que as duas atletas deveriam estar proibidas de disputar lutas na categoria feminina. A entidade afirmou que elas foram testadas duas vezes, por dois laboratórios independentes, em 2022 e em 2023. Diz que Yu-ting nem sequer recorreu da decisão e que Khelif apresentou um apelo, mas depois desistiu do recurso. “A IBA nunca vai apoiar uma luta de boxe entre gêneros”, afirma anota.

“Nós não entendemos por que qualquer organização colocaria uma boxeadora em risco com o que poderia trazer uma potencial lesão grave dentro do ‘campo de jogo’. O principal papel do árbitro no ringue é garantir a segurança do boxeador em todos os momentos. Como isso é razoavelmente praticável quando um boxeador não atende aos critérios de elegibilidade para competir?”, questiona a IBA.

A agências internacionais, o presidente da IBA defendeu a decisão da entidade. “Baseado em testes de DNA, nós identificamos atletas que tentaram enganar seus colegas se passando por mulheres”, afirmou.

DESISTÊNCIA DA ITALIANA
A polêmica sobre gênero ressurgiu nestas Olimpíadas após a luta primeira luta de Khelif. Com poucos segundos de combate, a italiana Carini abandonou a disputa. “Não podia continuar. Meu nariz doía muito e eu disse: ‘Parem’. Era melhor não continuar”, afirmou. “Poderia ter sido a luta da minha vida, mas naquele momento eu também tinha que proteger minha vida”.

“Sempre lutei contra homens, treino com meu irmão, mas hoje senti muita dor”, afirmou Carini sobre a potência dos golpes recebidos.

Em entrevista à imprensa italiana, dias depois, ela minimizou o caso. “Essa polêmica toda me entristece. Também sinto muito por minha adversária. Se o COI disse que ela podia lutar, respeito essa decisão.”
Ao La Stampa, ela disse: “Se essa moça está aqui, há um motivo. Quem somos nós para julgar? Somos atletas, e não juízes.” Ela avaliou que errou ao deixar o ringue sem cumprimentar a adversária. “Saí com raiva, me equivoquei.”

“SÃO MENTIRAS”
No dia da luta, Khelif foi recebida no Paris Arena Norte com aplausos de muitos fãs da Argélia, que agitavam suas bandeiras nacionais.

Horas antes, o Comitê Olímpico Argelino (COA) saiu em defesa de sua boxeadora, garantindo que ela é vítima de “mentiras” e “ataques antiéticos”.
Em seu primeiro combate após a desistência da italiana, a lutadora se manifestou. “A polêmica me abalou psicologicamente, mas, ao mesmo tempo, me deu força para lutar”, disse Khelif aos jornalistas de idioma árabe após a luta.

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