Cirurgiões transplantam 1º rim de porco modificado em um ser humano vivo

Richard Slayman, de 62 anos, entrou para a história no último sábado. O homem, que vive com doença renal em estágio avançado, foi submetido a uma cirurgia de quatro horas que culminou com o primeiro transplante bem-sucedido de um rim de porco geneticamente modificado num paciente vivo, que ocorreu no Massachusetts General Hospital (MGH), em Boston, nos Estados Unidos.

“O sucesso deste transplante é o culminar dos esforços de milhares de cientistas e médicos ao longo de várias décadas. Temos o privilégio de ter desempenhado um papel significativo neste marco. A nossa esperança é que esta abordagem ofereça uma tábua de salvação para milhões de pacientes em todo o mundo que sofrem de insuficiência renal”, disse o diretor médico de transplante renal, Tatsuo Kawai, num comunicado divulgado esta quinta-feira pela unidade hospitalar.

Slayman, natural de Weymouth, em Massachusetts, está se recuperando no MGH, esperando-se que receba alta em breve.

“O verdadeiro herói é o paciente, uma vez que o sucesso desta cirurgia pioneira, antes considerada inimaginável, não teria sido possível sem a sua coragem e vontade de embarcar numa viagem a um território médico desconhecido. À medida que a comunidade médica global celebra esta conquista monumental, o Slayman torna-se um farol de esperança para inúmeros indivíduos que sofrem de doença renal em fase terminal e abre uma nova fronteira no transplante de órgãos”, apontou o diretor do centro de transplantes do MGH, Joren C. Madsen.

Slayman, que vive com diabetes tipo 2 e hipertensão há vários anos, já tinha sido alvo de um transplante de rim de um doador humano que morreu em dezembro de 2018, também realizado no MGH por Kawai, após fazer diálise durante sete anos. Contudo, o rim transplantado mostrou sinais de estar falhando aproximadamente cinco anos depois, pelo que o doente retomou a diálise em maio de 2023. O homem deparou-se, então, com complicações recorrentes no acesso vascular da diálise, o exigia visitas ao hospital a cada duas semanas para descoagulação e revisões cirúrgicas, impactando significativamente a sua qualidade de vida.

O rim foi fornecido pela eGenesis de Cambridge, em Massachusetts, sendo proveniente de porco que foi geneticamente editado com recurso à tecnologia CRISPR-Cas9, para remover genes suínos prejudiciais e adicionar genes humanos que melhorassem a sua compatibilidade. Os cientistas inativaram também retrovírus endógenos suínos, para eliminar qualquer risco de infecção.

Este procedimento bem-sucedido num receptor vivo foi considerado um marco histórico no campo emergente do xenotransplante, termo que designa o transplante de órgãos ou tecidos de uma espécie para outra, enquanto solução para a escassez mundial de órgãos.

Saliente-se que, em janeiro de 2022, a Universidade de Maryland realizou o primeiro transplante experimental de um coração de porco geneticamente modificado em David Bennett, de 57 anos, que morreu dois meses após a cirurgia. Já em setembro de 2023, Lawrence Faucette, de 58 anos, foi o segundo paciente a ser alvo do procedimento, tendo o Centro Médico da Universidade de Maryland, em Baltimore, anunciado a sua morte seis semanas após a intervenção.

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