Quatro jovens, entre eles um adolescente de 16 anos, foram assassinados a tiros no fim de semana em Ponta Porã (MS), na fronteira do Brasil com o Paraguai. As vítimas são suspeitas de integrar a facção Primeiro Comando da Capital (PCC), de acordo com a polícia, o que pode ter motivado o crime.
A polícia investiga uma suposta ligação do grupo com o assassinato do filho do megatraficante paraguaio Gringo Gonzales, executado a mando do PCC. A facção paulista disputa com grupos rivais as rotas de escoamento de drogas pela fronteira.
Conforme a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, as vítimas tinham ligações com o PCC e eram investigadas por crimes cometidos no Paraguai. Dois jovens do interior de São Paulo estão entre os mortos. As quatro pessoas, entre elas o adolescente, foram emboscadas quando chegavam de carro na casa que haviam alugado, em um bairro próximo à linha de fronteira.
Moradores ouviram dezenas de tiros, por volta das 4 horas da madrugada, e acionaram a polícia. Os policiais militares encontraram o automóvel das vítimas na garagem, ainda com o motor ligado. Uma vítima estava no veículo e outras duas no piso da garagem. Um quarto corpo foi encontrado dentro da casa.
No interior do imóvel, a polícia apreendeu três pistolas 9 mm. Vizinhos informaram que eles tinham alugado a casa havia poucos meses.
Um automóvel Sandero, possivelmente usado pelos criminosos, foi encontrado incendiado, na manhã de segunda-feira, 9, em uma rua do Jardim Aurora, em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia vizinha a Ponta Porã. O veículo tinha placas de Rio Brilhante (MS), mas era roubado.
Segundo a polícia, a residência seria uma espécie de abrigo para criminosos vindos de outros Estados para praticar crimes na fronteira ou fugir da polícia.
Filho assassinado de megatraficante
De acordo com a Polícia Nacional do Paraguai, que atua nas investigações em conjunto com a polícia brasileira, os mortos são suspeitos de participação no assassinato do filho do traficante internacional de drogas Clemencio González Giménez, o “Gringo Gonzalez”, que atua na fronteira há mais de duas décadas.
O traficante está preso desde 2021, mas controla o tráfico do interior da prisão. O filho dele, Charle Gonzales Coronel, de 32 anos, foi executado a tiros de fuzil, no dia 21 do mês passado, em Pedro Juan Caballero.
A morte de Coronel teria sido encomendada pelo traficante Flávio Arruda Guilherme, o “Boy”, que é do PCC e tem parentesco com Sérgio de Arruda Quintiliano, o “Minotauro”. Um dos principais líderes da facção na época, “Minotauro” foi preso em fevereiro de 2019, em um condomínio de luxo, em Balneário Camboriú (SC).
As vítimas da chacina foram identificadas como Xilon Henrique da Silva, de 19 anos, morador de Marília, interior de São Paulo, Jonas Wesley Moraes, 18, de Pompeia, também no interior paulista, Luis Vinícius Cândia da Silva, de 20, e um adolescente de 16, todos brasileiros. Luis Vinicius estava com uma identidade paraguaia, mas se apurou que o documento era falso.
Rotina de ataques
Conforme a Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) do Mato Grosso do Sul, as forças policiais estão em alerta na fronteira, devido ao risco de novas ações. A investigação tenta chegar aos executores e mandantes dos crimes. As chacinas se tornaram rotineiras na região nos últimos anos.
Em 9 de outubro de 2021, quatro pessoas, entre elas duas estudantes de medicina brasileiras, foram executadas a tiros em Pedro Juan Caballero. Entre as vítimas estava também a estudante Haylee Carolina Acevedo, filha de Ronald Acevedo, governador do departamento (estado) de Amambay, no Paraguai. O alvo dos executores era um jovem ligado ao crime organizado que acompanhava as estudantes. Ele também foi morto.
No dia 5 de abril de 2022, três pistoleiros invadiram uma festa no bairro Boa Vista e executaram quatro pessoas, em Pedro Juan Caballero. Uma quinta vítima foi baleada, mas sobreviveu. Os executores fugiram em uma caminhonete.
Em julho de 2017, criminosos invadiram uma boate durante a festa de inauguração, em Pedro Juan Caballero. Com os rostos cobertos, eles abriram fogo contra os participantes, matando quatro pessoas e deixando outras 11 feridas. Duas das vítimas eram ligadas a uma organização criminosa.