RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A cantora Luciane Dom afirma que teve os cabelos revistados no aeroporto do Santos Dumont, no Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (14). Dom, que usa o cabelo no estilo black power, diz que estava entrando na área de embarque quando foi escolhida para passar por uma revista aleatória.
“Acabaram de revistar o meu cabelo no Aeroporto Santos Dumont”, escreveu no X, antigo Twitter.
“Eu estou no meio da divulgação de uma música minha que sai amanhã, estava feliz, vendo memes, lendo coisas leves que gosto, aí chego no aeroporto Santos Dumont e sou parada por uma revista aleatória, minutos antes de embarcar para São Paulo”, acrescentou a cantora em relato em seu perfil no Instagram.
“Eu já tinha passado a mala no scanner e eu mesma já tinha passado no scanner corporal. A mulher me diz ‘tenho que olhar seu cabelo’. Eu olho para ela aterrorizada com a violência desse ato. Ela chama o superior. Meu dia acabou”, afirmou.
Procurada, a Infraero, que administra o aeroporto, disse que a cantora foi selecionada aleatoriamente para uma inspeção manual, mas negou que os cabelos da artista tenham sido revistados.
“Após averiguação interna, foi constatado por imagens de câmeras de segurança que não houve uma inspeção nos cabelos”, afirmou a estatal, em nota.
A Infraero, porém, não compartilhou com a reportagem as imagens que comprovariam que a revista não foi feita. A estatal disse “as gravações feitas por essas câmeras de segurança só podem ser compartilhadas com a Polícia Federal, mediante solicitação de representantes do órgão”, conforme norma da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Em seu relato nas redes, Dom disse que estava se sentindo péssima e contou que recebeu apoio de amigos, políticos e outros artistas.
“Por mais que seja algo que eu já espere, porque a gente vive numa estrutura racista, é muito ruim quando isso acontece. Porque fere algo muito profundo da nossa dignidade”, escreveu a cantora. “Essa questão do cabelo pega muito, porque a gente está falando há tantos anos sobre ancestralidade, sobre estética, sobre beleza. Tem uma galera do movimento negro há muitos anos falando sobre isso, e a parada parece que não muda.”
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, disse no X que acionou a pasta para acompanhar o caso.
“Infelizmente, casos como esses não são pontuais. Nosso corpo e nosso cabelo precisam ser respeitados. A equipe do Ministério da Igualdade Racial já está se mobilizando para entender e acompanhar o caso”, escreveu Anielle.
A gravadora Toca Discos, da qual Dom faz parte, afirmou que vai acionar seus advogados para acompanhar o caso.
Em nota, a Infraero afirma que “a inspeção de segurança aleatória é independente de origem, raça, sexo, idade, profissão, cargo, orientação sexual, orientação religiosa ou qualquer outra característica do passageiro”.
A estatal também disse repudiar qualquer forma de discriminação. “Comportamentos como injúria racial e racismo não são tolerados nos aeroportos sob sua administração e está à disposição das autoridades competentes para os esclarecimentos que façam necessários.”