(FOLHAPRESS) – O Bluesky, que acabou se tornando a principal alternativa após o bloqueio do X, prepara uma série de novidades para agradar os usuários brasileiros, diz a cofundadora Rose Wang.
A plataforma, por um lado, chamou a atenção ao receber mais de 2,6 milhões de brasileiros desde sábado (31), quando o acesso à rede de Elon Musk foi vetado. Por outro, ainda não tem representante legal no Brasil, parte do motivo das restrições do STF (Supremo Tribunal Federal) contra o X.
Na agenda das próximas semanas, de acordo com a executiva, está implementar perfis privados, vídeos e trending topics, além de contratar mais funcionários para manter o serviço estável ante a chegada de milhões de usuários.
À REPORTAGEM, Wang destacou os feeds personalizados da rede social, sob a promessa de mais controle ao usuário do que a concorrência baseada em algoritmos.
Disse também que o modelo de código aberto do Bluesky permitiria que os usuários levassem seus dados e amigos a outras redes, mesmo se a empresa fosse comprada por um bilionário.
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PERGUNTA – Os embates entre a Justiça e o X impulsionaram o Bluesky entre os brasileiros. A empresa não tem um representante legal no Brasil, uma das principais preocupações do STF. Pretendem nomear alguém?
ROSE WANG – Pretendemos operar em plena conformidade no Brasil. Estamos trabalhando com entidades locais para ter representações. Isso está se desenvolvendo dia a dia.
P – Como pretendem manter o público brasileiro se o X for reativado no país?
RW – Mesmo que o X seja desbloqueado, acreditamos que não é o fim do Bluesky no Brasil. Estamos acelerando o lançamento de vídeos, que sabemos ser importante para os brasileiros. Falamos de semanas, não meses. Também estamos trabalhando em trending topics.
O Bluesky é uma rede aberta, com código público. Isso permite que desenvolvedores contribuam. Um desenvolvedor brasileiro já criou trending topics como uma extensão para navegadores.
P – O Bluesky não permite manter uma conta privada. Planejam fazer isso?
RW – Como o Bluesky é aberto e público, muitos dados funcionam como na web. Entendemos a importância da privacidade para a segurança, embora seja tecnicamente desafiador. É uma prioridade para a equipe.
Ainda vamos implementar contas privadas. Isso está um pouco mais distante no cronograma, já que no momento estamos focados em manter o aplicativo estável com o aumento de usuários.
P – Já que a empresa está expandindo para suportar a atual demanda, a equipe pretende contratar brasileiros?
RW – Absolutamente. A maioria de nossa equipe já é global, apesar de sermos pequenos. Nosso primeiro encontro foi em Tóquio, no Japão, porque essa é outra grande base de nossos usuários.
Achamos importante ter pessoas na equipe que não apenas entendam a cultura brasileira, mas também vivam lá.
P – Houve algum impacto nos conteúdos exibidos para estrangeiros desde a chegada dos brasileiros?
RW – Temos cerca de 50 mil feeds, a maioria criada pelos usuários e baseada em interesses ou comunidades, não em algoritmos. Isso permite que os usuários permaneçam em suas comunidades, encontrando pessoas com interesses semelhantes. A onda brasileira não afeta quem já tem suas comunidades.
Há o feed Descobrir, onde o usuário pode conversar com milhões de brasileiros, mas, se isso for avassalador, pode voltar para comunidades menores.
P – Vocês venderiam o Bluesky para um bilionário?
RW – O Bluesky é construído de forma a ser protegido até mesmo contra nossa equipe. É de código aberto, o que significa que mesmo se o vendêssemos e alguém mudasse completamente a plataforma, qualquer desenvolvedor poderia recriar o Bluesky.
Em plataformas centralizadas, é difícil sair porque elas possuem seus dados e relacionamentos. No Bluesky, queremos facilitar que os usuários “votem com os pés”. Se as pessoas quiserem mudar de plataforma, devem poder levar seus dados e amigos.
P – Alguns usuários dizem que Threads é o novo X e BlueSky é o novo Twitter, referindo-se à experiência anterior à compra por Musk. Na sua avaliação, por que o BlueSky pode oferecer essa experiência mais lúdica do que X?
RW – Acho que o produto é uma manifestação de nossa equipe, e é assim que a maioria das empresas de tecnologia são: manifestações de sua equipe. São as pessoas que as constroem que tomam decisões. Os usuários percebem isso por meio do produto.
Para mim, o motivo pelo qual o BlueSky é cheio de memes e “shitposting” [humor baseado em publicações com pouco sentido] é porque nossa equipe é cheia de memes e “shitposting”. A maioria da equipe cresceu enquanto a internet estava sendo construída, no Tumblr, usando feeds RSS e tendo seus próprios blogs.
P – Algumas pessoas estão vendo a saída do X como uma oportunidade para desacelerar o uso de redes sociais. Por que embarcar em uma nova jornada no Bluesky?
RW – Primeiro, encorajo as pessoas a “tocarem grama”, sair um pouco para o mundo fora das redes sociais.
Dito isso, os usuários relatam que seu relacionamento com o Bluesky é mais saudável. No X, muitos se sentiam viciados e o conteúdo os fazia se sentir mal. No Bluesky, a pessoa pode escolher sua experiência, como ir para feeds com menos postagens se quiser algo menos intenso.
P – Há uma piada no Brasil de que o Threads é como Leblon, um bairro no Rio mais rico e conservador, e o Bluesky é como Tijuca, que é mais progressista. A empresa teme se tornar uma plataforma de nicho?
RW – É importante para nossos usuários saberem que o Bluesky é para todos, o que queremos é que haja um lugar para muitas conversas seguras. Para que isso possa acontecer, é necessário governar o espaço e fornecer segurança para as pessoas.
Uma pessoa não pode decidir o que a liberdade de expressão significa. Se fosse assim, poderia tomar certas decisões que favorecem um grupo de pessoas em detrimento de outro e chamar isso de liberdade de expressão.
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