Artistas negros reverenciam Léa Garcia, morta aos 90 anos

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Artistas negros usaram as redes sociais para reverenciar Léa Garcia, morta nesta terça-feira (15), aos 90 anos de idade. A atriz sofreu um infarto em Gramado, no Rio Grande do Sul.

Ela estava na cidade gaúcha para ser homenageada no Festival de Cinema de Gramado pelo conjunto de sua obra

Luana Xavier, atriz: “Isto não pode ser verdade. Pelo amor de Deus. Alguém me diz que isso não é verdade”.

Alexandre Henderson, jornalista: “A nossa querida Léa Garcia. Tão maravilhosa. Amada. Coração partido”.

Isabel Zuaa, atriz: “Te honro e te honrarei sempre. Grata por tudo e por tanto”.

Joel Zito Araújo, cineasta: “Nem sei como processar essa tristeza dentro de mim”.

Manoel Soares, apresentador: “Rainha Léa Garcia por muito tempo sua luz vai invadir nossos universos e iluminar as caminhadas dos nossos descendentes. Cada sorriso, cada entoada de voz, cada olhar foi uma aula de afeto e coerência entre arte e vida, o tempo se curvou ao seu encanto obedecendo a melodia de sua existência. Sua saída deste corpo físico nos deixa tristes, mas a certeza que você está aqui e em nós, conforta, pois foi isso que você nos deu sempre, conforto Obrigado Rainha”.

Dadá Coelho, atriz: “A rainha da arte dramática, nossa estrela maioral, Léa Garcia nos deixou. Ela estava em Gramado e ia ser homenageada. Muito triste, triste. Que vida bonita. Uma força e carisma indescritíveis. Léa continuará brilhando no firmamento. Eu jamais esquecerei nas retinas dos meus olhos tão fatigados. Obrigada, Léa”.

Léa ficou conhecida após interpretar Rosa em “Escrava Isaura”.

A informação foi anunciada por seus familiares no Instagram: “É com pesar que nós familiares informamos o falecimento agora na cidade de Gramado, no Festival de Cinema de Gramado, da nossa amada Léa Garcia”. Léa sofreu um infarto agudo do miocárdio.

Ela seria homenageada nesta terça no festival de cinema. Léa receberia o Troféu Oscarito, mais tradicional homenagem do Festival de Cinema de Gramado, com Laura Cardoso. A atriz estava em Gramado desde sábado e assistiu a sessões dos filmes “Retratos Fantasmas” e “Tia Virginia”.

Léa nasceu no Rio de Janeiro em 1933. Se interessou pelas artes cênicas por influência do dramaturgo e ativista social Abdias do Nascimento, que a convenceu a subir ao palco do Teatro Experimental do Negro na peça Rapsódia Negra (1952).

Ela fez sua estreia na televisão no Grande Teatro da TV Tupi ainda na década de 50. Foi para a Globo em 1970 na novela Assim na Terra como no Céu, na qual interpretou Dalva, a empregada do personagem de Jardel Filho. Em 1972, participou do primeiro programa gravado inteiramente em cores no Brasil: um episódio de Caso Especial chamado Meu Primeiro Baile.

Em 1976, Léa interpretou sua primeira vilã em “Escrava Isaura”. O papel de Rosa fez Léa ser reconhecida pelo público, mas também lhe rendeu problemas: a atriz chegou a sofrer violência física de telespectadores que odiavam a personagem.

Escrava Isaura é o meu cartão de visitas. Tive muitas dificuldades em fazer cenas de maldade com a Lucélia Santos. Eu me lembro de uma cena em que, quando a Rosa acabou de fazer todas as perversidades com a Isaura, eu tive uma crise se choro, me pegou muito forte. Chorei muito, não com pena, mas porque me tocou. Léa Garcia no Memória Globo

Desde então, a atriz fez quase 70 filmes e novelas em sua carreira, além de 20 peças. Seu último papel na TV foi Dona Antônia na terceira temporada de Mister Brau, em 2017.

Além de referência, Léa foi grande investidora do cinema negro brasileiro. Como roteirista, adaptou para as telas textos de autores negros como Cidinha da Silva, Luiz Silva Cuti e Muniz Sodré. Ela também participou de filmes como “As Filhas do Vento” (2005), que tem questões raciais como temática central e foi realizado por um elenco negro.

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