VITOR HUGO BATISTA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em alta nesta terça-feira (19), com os investidores demonstrando aversão ao risco após o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçar atacar os EUA e seus aliados com armas atômicas caso a Ucrânia use mísseis ocidentais contra seu território.
Com a ameaça, a moeda norte-americana passou a subir em vários mercados. No Brasil, o dólar subia 0,21%, cotado a R$ 5,760, às 14h15. Já a Bolsa subia 0,57%, a 128.518 pontos.
Keone Kojin, economista da Valor Investimentos, afirmou que a alta do dólar reflete uma aversão ao risco -movimento conhecido como “flight to safety”.
Esse comportamento ocorre em um momento de escalada das tensões geopolíticas, com os Estados Unidos autorizando a Ucrânia a utilizar mísseis de longo alcance -modelos que chegam a até 300 km de distância e podem atingir boa parte da Rússia europeia, segundo relatos não negados pela Casa Branca e amplamente comentados por seus aliados na Europa. Até então, o uso só podia ocorrer em áreas fronteiriças.
Em resposta, o governo de Vladimir Putin ameaçou considerar o uso de armas nucleares, intensificando as incertezas sobre os desdobramentos do conflito.
Segundo Kojin, essa nova tensão preocupa investidores, que temem uma guerra prolongada e suas possíveis consequências econômicas. “O dólar abriu em alta principalmente por conta dessa preocupação com o risco global. É um movimento típico em momentos de incerteza extrema”, explicou.
Além disso, Kojin afirmou que, embora ainda se aguarde o anúncio do pacote de cortes de gastos, estimado em cerca de R$ 70 bilhões, e a inclusão de benefícios sociais no arcabouço fiscal, esses fatores não estão influenciando diretamente o câmbio no momento. O foco do mercado está voltado para os desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Nesta segunda-feira (18), o dólar fechou em queda de 0,67%, cotado a R$ 5,748, e a Bolsa terminou a sessão do dia com estabilidade, registrando uma variação negativa de 0,01%, a 127.768 pontos.
Os investidores estiveram atentos ao anúncio de prometidas medidas fiscais pelo governo brasileiro. Há rumores de que o corte tenha um impacto de R$ 70 bilhões nas contas públicas, o que deixou o mercado otimista, segundo analistas.
Em falas na quarta-feira (13), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o pacote já está pronto e que o anúncio depende do presidente Lula.
A economia é estimada por integrantes do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões em 2025. Já em 2026, o alívio é calculado em R$ 40 bilhões.
O anúncio das ações que compõem o pacote ocorrerá após a Cúpula do G20, que acontece no Rio de Janeiro na segunda (18) e na terça-feira (19).
No radar dos investidores também esteve a projeção de crescimento do PIB em 2024 e a previsão de inflação e a taxa de juros, que pesaram na sessão do dia.
A SPE (Secretaria de Política Econômica) do Ministério da Fazenda revisou suas projeções para o crescimento econômico do Brasil em 2024, elevando a estimativa de 3,2% para 3,3%. Essa revisão reflete a expectativa de maior expansão no terceiro trimestre, cuja previsão passou de 0,6% para 0,7%.
Para 2025, a projeção de alta do PIB (Produto Interno Bruto) foi mantida em 2,5%, apesar da expectativa de aumento na taxa básica de juros, que deve ser compensada por melhores perspectivas para a safra de grãos e a produção extrativa.
Em relação à inflação, a SPE revisou para cima as projeções para 2024 e 2025, refletindo pressões recentes sobre os preços. A previsão para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 2024 subiu de 4,25% para 4,40%, enquanto a de 2025 foi ajustada de 3,4% para 3,6%.
Esses números estão acima da meta de inflação do Banco Central, de 3%, e colocam a projeção para 2024 próxima ao teto da meta, de 4,5%.
No campo da política monetária, o Banco Central elevou a taxa básica de juros (Selic) para 11,25% ao ano em outubro, com o mercado projetando um novo aumento de 50 pontos percentuais na próxima reunião.
Já na cena internacional, os investidores precificaram os possíveis efeitos das propostas de Donald Trump para a economia.
O republicano promete aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações norte-americanas, incluindo as que vêm de países aliados. Para os produtos chineses, o aumento prometido é de pelo menos 60%.
As tarifas inibem o comércio global, reduzem o crescimento dos exportadores e pesam sobre as finanças públicas de todas as partes envolvidas. É provável que elas aumentem a inflação nos Estados Unidos, forçando o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) a agir com juros altos por mais tempo -o que fortalece o dólar.
As projeções das propostas de Trump na economia têm ajustado posições de investimentos nos mercados globais. O movimento é chamado de “Trump Trade”, que tenta prever quais serão os ativos mais favorecidos pela política econômica do republicano.