Agentes feitos reféns em presídios escancaram crise de segurança no Equador

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um novo episódio de tensão que escancarou a crise de segurança que atinge o Equador, 57 agentes, entre servidores e policiais, foram feitos reféns em seis penitenciárias do país na quinta (31). Cerca de 20 horas depois de anunciar o motim, o SNAI, órgão nacional que lida com pessoas privadas de liberdade, divulgou nesta sexta (1º) um novo comunicado em que confirma que todos os reféns foram libertados.

A informação inicialmente divulgada era de que o motim ocorria apenas na cidade de Cuenca (300 km ao sul de Quito), mas o SNAI confirmou em nota que eram seis as penitenciárias conflagradas no país.

“Estamos preocupados com a segurança de nossos funcionários”, afirmou o ministro do Interior, Juan Zapata, a jornalistas em Quito, quando as primeiras informações sobre o motim foram divulgadas.

O Snai não havia dados detalhes sobre as unidades em rebelião, sob o argumento de que as informações poderiam ter impacto sobre a segurança dos agentes ameaçados. No comunicado desta sexta, o órgão informou que todos os 57 reféns haviam sido libertados e passariam por avaliações médicas para checagem dos estados de saúde.

Sem dar detalhes, a instituição afirmou ainda que o Posto de Mando Unificado (PMU) -um grupo multidisciplinar formado para situações de emergência- “liderou a execução de ações coordenadas que permitiram alcançar o objetivo”.

Ainda segundo o SNAI, “as atividades administrativas transcorriam com normalidade” nas unidades prisionais em que o motim se desenrolou.

Até a divulgação do comunicado, no início da noite no horário de Brasília, as autoridades de segurança e de governos regionais tinham dado informações conflitantes e pouco detalhadas sobre a situação nos centros de detenção. A nível federal, o presidente Guillermo Lasso, os ministérios e mesmo o SNAI não haviam se pronunciado desde a noite de quinta, quando haviam fornecido as primeiras informações sobre o caso.

Mais cedo, Consuelo Orellana, governadora da província de Azuay, havia dito que 10 policiais e 34 agentes penitenciários tinham sido liberados e passavam por exames de saúde -o dado inicial era de que 7 policiais haviam sido feitos reféns. Ela afirmou que a situação fora controlada no presídio de Turi, em Cuenca, mas não havia confirmação por parte de órgãos federais.

Ainda na madrugada de quinta, dois carros-bomba explodiram em Quito e mais dois nas regiões de Pasaje e Machala, segundo a imprensa local. As explosões na capital aconteceram próximas a um escritório do SNAI e a outro edifício que fora usado pelo órgão. Não houve feridos nos atentados, mas as explosões adicionaram tensão ao clima de insegurança generalizada no país.

Seis suspeitos foram detidos pela primeira explosão -5 seriam equatorianos e 1, colombiano- e quatro, pela segunda. O ministro do Interior, Juan Zapata, afirmou a jornalistas na quinta que a maioria dos detidos tem antecedentes criminais. Nesta sexta, a Procuradoria do Equador afirmou que os quatro suspeitos da segunda explosão foram presos preventivamente e acusados de terrorismo.

Um centro de detenção de adolescentes, em Quito, também teve um princípio de motim quando jovens da unidade atearam fogo a colchões e provocaram incêndio nas instalações do edifício -o SNAI afirmou que não houve vítimas ou feridos, e forças de segurança restabeleceram a ordem no local. Mais tarde, o órgão informou que 22 adolescentes detidos foram transferidos para outra unidade, não informada na nota.

Na quarta-feira (30), centenas de soldados do Exército e policiais realizaram uma operação em busca de armas, munições e explosivos em uma prisão na cidade de Latacunga, no sul do país, cenário de frequentes massacres entre detentos, que já deixaram mais de 430 mortos desde 2021. O presidente Lasso afirmou pela rede social que as ações violentas contra agentes e policiais foram uma resposta à operação de segurança.

Outras autoridades, porém, indicaram que as rebeliões eram na verdade um protesto contra a transferência de presos para outras penitenciárias.

O Equador vive uma onda de violência que teve seu auge no assassinato do candidato à Presidência Fernando Villavicencio, no começo de agosto. Ele foi baleado na cabeça quando saía de um evento de campanha em um colégio na capital. Lasso decretou estado de exceção no país e manteve a data da eleição, ocorrida no dia 20 de agosto e que levou ao segundo turno Luisa González, apoiada pelo ex-presidente Rafael Correa e o empresário liberal Daniel Noboa.

A crise de segurança está repleta de episódios de motins e confrontos entre facções em prisões, que resultaram na morte centenas de pessoas nos últimos anos. Só em um incidente em Guayaquil, a maior cidade equatoriana, 31 detentos morreram durante conflito em uma penitenciária, em julho.
A taxa de homicídios no país saltou de 14 para 25 por 100 mil habitantes de 2021 para 2022, e cidades têm sido palcos da onda de violência também nas ruas, com mortos em ataques armados.

Outro elemento de violência que cresceu no país é o número de sequestros. Dados do serviço de emergências policiais apontam que, em Guayaquil, o total de crimes desse tipo aumentou mais de 300% nos oito primeiros meses de 2023 na comparação com o mesmo período de 2022.

Antes visto como uma nação pacífica, o Equador vive assolado por facções do narcotráfico que competem por rotas de transporte de drogas -o país fica espremido entre Peru e Colômbia, grandes produtores e exportadores de cocaína.
Nos últimos 15 anos, o país foi dominado pelo cartel conhecido como Los Choneros, que sofreu uma derrocada e deu origem a uma série de facções que disputam território, rotas e conexões com o crime transnacional. Uma delas, a fação Los Lobos, teria reivindicado o assassinato de Villavicencio, em vídeo publicado supostamente publicado pelo grupo após o atentado.

A Los Lobos integra a chamada “nova geração” de gangues no país, com 8.000 membros em diversas prisões e cidades do país, alianças com outros grupos e conectada a organizações criminosas mexicanas.

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