Advogados preparam ação nos EUA para prejudicados pela $Libra, divulgada por Milei

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – As repercussões internacionais do escândalo que envolve a criptomoeda $Libra e o governo de Javier Milei podem aumentar. Nos Estados Unidos, um escritório de advocacia reuniu centenas de clientes prejudicados pelo investimento e prepara uma ação legal.

 

O Burwick Law, firma de Nova York especializada em ativos digitais e criptomoedas, diz que seus clientes perderam milhões de dólares. Há brasileiros entre esses clientes, confirma o escritório, que no entanto diz à reportagem não poder especificar quantos são ou quais são seus perfis nesse estágio inicial do caso.

Max Burwick, sócio e gerente do Burwick Law, afirma que a equipe está investigando opções legais e que um dos objetivos é explorar caminhos de recuperação financeira, mas que a essa altura não pode comentar quais serão as reivindicações ou os potenciais acusados.

Boa parte desses clientes chegou à firma pelas redes sociais. Logo após o escândalo da $Libra, quando o presidente argentino divulgou o ativo em sua conta no X e o valor da criptomoeda colapsou, o escritório divulgou em seus perfis uma mensagem oferecendo seus serviços para quem houvesse sido prejudicado e quisesse entender seus direitos.

O anúncio veio de bate-pronto porque a Burwick tem observado o que descreve como “um padrão de uso de figuras públicas e celebridades que não são especializadas na indústria de criptomoedas para ganhar a confiança do público e endossar produtos financeiros em cripto”.

Max diz que são ações similares às campanhas promocionais da FTX, a plataforma de criptomoedas que faliu em 2022 em um colapso de seu criptoimpério de US$ 32 bilhões na época. Eram ações de marketing com figuras como Gisele Bündchen, jogadores da NBA e tenistas.

“Esperamos que mais fatos venham à tona conforme o caso avança”, diz Max Burwick por email. “Isso não significa que já não sabemos muito, mas, agora, não podemos comentar detalhadamente.”

O escândalo apelidado de criptogate na Argentina envolve ao menos seis atores. Na cúpula do poder, além do próprio presidente, que depois apagou a publicação sobre a $Libra -mas que em outras ocasiões já havia divulgado criptomoedas-, há a irmã de Milei, Karina, que também é secretária-geral da Presidência.

Já do lado da criptomoeda, estão Hayden Mark Davis e Julian Pef, fundadores de empresas que estão por trás da criação da $Libra, e Mauricio Novelli e Mauro Terrones Godoy, que facilitaram reuniões desses dois criadores com o núcleo duro da Casa Rosada.

Ainda não está claro quem poderia ser alvo da ação em Nova York e se seriam priorizados apenas os empresários ou também os políticos.

Davis, sem apresentar provas, teria dito que controlava o governo Milei por meio de pagamentos a Karina e que, por isso, poderia exigir que o presidente divulgasse projetos de criptomoedas como esse, segundo mensagens que foram obtidas pelo jornal local La Nacion.

Todo o caso já está sob investigação da Justiça da Argentina. O Ministério Público Federal, após receber mais de cem denúncias, apura a partir desta sexta-feira (21) qual foi a participação real de Milei no caso. Estudam-se as possibilidades de abuso de autoridade, fraude e tráfico de influências.

A acusação geral é a de que houve fraude através de uma manobra conhecida como “rugpulling”, na qual se cria uma criptomoeda e se infla o seu valor com investimentos e divulgações de peso nas redes (como a de Milei) para logo retirar todo o dinheiro, com a consequência de que milhares de investidores menores perdem seus aportes.

Uma ação civil nos EUA acrescentaria mais uma complicação para a Casa Rosada. O país governado novamente por Donald Trump, aliado de Milei, é a prioridade da política externa do argentino.

Milei busca parcerias com empresários da área da tecnologia para levá-los à Argentina e ainda negocia com o FMI (Fundo Monetário Internacional) um novo acordo bilionário sob a justificativa de que a entrada desse capital ajudaria o país a abandonar de vez o chamado “cepo”, os controles cambiais que sufocam as exportações.

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